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LIVRO
Escultora surrealista teve casos com Mussolini e Duchamp
Biografia recupera personalidade "do contra" de Maria Martins
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Ela se recusou a ser apenas mais
uma Maria. Foi amante de Benito
Mussolini e de Marcel Duchamp,
amiga de Picasso e Mondrian, entrevistou Mao-Tsé Tung e fez, no
início do século passado, coisas
que eram impensáveis para uma
mulher. Se não bastasse tudo isso,
ainda foi uma das maiores artistas
plásticas brasileiras.
A escultora Maria Martins
(1894-1973) ganha, enfim, uma
biografia, escrita pela jornalista
Ana Arruda Callado, viúva de Antonio Callado -cujas obras teatrais estão sendo relançadas. "Maria Martins - Uma
Biografia" (Gryphus) mostra como Maria de Lourdes Faria Alves,
nascida na pequena Campanha
da Princesa (MG), driblou seu
previsível destino de dondoca e
foi ser gauche na vida.
"Ela gostava de ser do contra.
Vestia-se como cigana, dizia que
era "meio hippie", queria ser o centro das atenções. Mais do que namorar, seduzia os homens e era
muito vaidosa, o que a fez ficar reclusa na velhice", conta Ana Arruda, 67. Com a biografia, ela diz ter
tentado decifrar "que tipo de gente foi Maria Martins".
Para cumprir esse objetivo, a
jornalista fez duas opções: não seguiu a cronologia dos fatos, contando a vida da escultora a partir
de vários fragmentos de tempo
("Combina muito mais com a
personalidade dela"), e evitou fazer uma biografia escandalosa, recheada de casos de alcova.
"Não acho que uma biografia
precise ser um buraco de fechadura. Contei o que me pareceu
importante para traçar o perfil dela", explica a biógrafa.
Assim, o caso de Mussolini,
ocorrido em 1923, ganha apenas
duas menções e está no livro porque foi confirmado pela filha da
escultora, Anna Maria. A biógrafa
não se arrisca a tentar explicar o
que levou Maria a se envolver
com o Duce, então ainda iniciando sua trajetória de ditador, mas
lembra que ela "gostava de autoritarismo e tinha fixação no pai".
João Luiz Alves, o pai, era um
obstinado: rejeitou ser apenas um
advogado provinciano e se tornou senador e ministro da Justiça.
Em 1924, quando o pai era ministro, Maria largou seu marido,
Otávio Tarquínio de Souza, para
viver com o diplomata Carlos
Martins Pereira e Sousa, gaúcho
que era colega de infância de Getúlio Vargas -de quem a artista
se tornaria amiga- e gostava de
festas e da vida mundana. Como
Maria.
"Eles tinham uma relação aberta, um tendo conhecimento de casos do outro. Mas também tinham uma solidariedade completa e se ajudaram muito em seus
objetivos", diz Ana Arruda.
Um dos objetivos de Maria era
se tornar uma escultora conhecida internacionalmente, o que
conseguiu: foi um dos grandes
nomes do surrealismo na Europa.
Estranhamente, segundo sua biógrafa, nunca teve o mesmo reconhecimento no Brasil. "Ela foi
uma artista tão ou mais importante do que Tarsila [do Amaral]", ressalta Ana Arruda.
MARIA MARTINS - UMA BIOGRAFIA.
Autora: Ana Arruda Callado. Editora:
Gryphus. Quanto: preço a definir.
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