São Paulo, sábado, 13 de novembro de 2004

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LIVRO

Escultora surrealista teve casos com Mussolini e Duchamp

Biografia recupera personalidade "do contra" de Maria Martins

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Ela se recusou a ser apenas mais uma Maria. Foi amante de Benito Mussolini e de Marcel Duchamp, amiga de Picasso e Mondrian, entrevistou Mao-Tsé Tung e fez, no início do século passado, coisas que eram impensáveis para uma mulher. Se não bastasse tudo isso, ainda foi uma das maiores artistas plásticas brasileiras.
A escultora Maria Martins (1894-1973) ganha, enfim, uma biografia, escrita pela jornalista Ana Arruda Callado, viúva de Antonio Callado -cujas obras teatrais estão sendo relançadas. "Maria Martins - Uma Biografia" (Gryphus) mostra como Maria de Lourdes Faria Alves, nascida na pequena Campanha da Princesa (MG), driblou seu previsível destino de dondoca e foi ser gauche na vida.
"Ela gostava de ser do contra. Vestia-se como cigana, dizia que era "meio hippie", queria ser o centro das atenções. Mais do que namorar, seduzia os homens e era muito vaidosa, o que a fez ficar reclusa na velhice", conta Ana Arruda, 67. Com a biografia, ela diz ter tentado decifrar "que tipo de gente foi Maria Martins".
Para cumprir esse objetivo, a jornalista fez duas opções: não seguiu a cronologia dos fatos, contando a vida da escultora a partir de vários fragmentos de tempo ("Combina muito mais com a personalidade dela"), e evitou fazer uma biografia escandalosa, recheada de casos de alcova.
"Não acho que uma biografia precise ser um buraco de fechadura. Contei o que me pareceu importante para traçar o perfil dela", explica a biógrafa.
Assim, o caso de Mussolini, ocorrido em 1923, ganha apenas duas menções e está no livro porque foi confirmado pela filha da escultora, Anna Maria. A biógrafa não se arrisca a tentar explicar o que levou Maria a se envolver com o Duce, então ainda iniciando sua trajetória de ditador, mas lembra que ela "gostava de autoritarismo e tinha fixação no pai".
João Luiz Alves, o pai, era um obstinado: rejeitou ser apenas um advogado provinciano e se tornou senador e ministro da Justiça.
Em 1924, quando o pai era ministro, Maria largou seu marido, Otávio Tarquínio de Souza, para viver com o diplomata Carlos Martins Pereira e Sousa, gaúcho que era colega de infância de Getúlio Vargas -de quem a artista se tornaria amiga- e gostava de festas e da vida mundana. Como Maria.
"Eles tinham uma relação aberta, um tendo conhecimento de casos do outro. Mas também tinham uma solidariedade completa e se ajudaram muito em seus objetivos", diz Ana Arruda.
Um dos objetivos de Maria era se tornar uma escultora conhecida internacionalmente, o que conseguiu: foi um dos grandes nomes do surrealismo na Europa. Estranhamente, segundo sua biógrafa, nunca teve o mesmo reconhecimento no Brasil. "Ela foi uma artista tão ou mais importante do que Tarsila [do Amaral]", ressalta Ana Arruda.


MARIA MARTINS - UMA BIOGRAFIA. Autora: Ana Arruda Callado. Editora: Gryphus. Quanto: preço a definir.


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