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MIX BRASIL
Gays vivem saga na busca por filhos
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Erik e Mark vivem juntos há
dez anos. Assumidos, têm
uma vida normal, que inclui festas em seu apartamento em Nova
York, mas procuram um novo
sentido para a relação. Um filho
poderia representar essa nova
etapa, mas como um casal gay faz
para realizar esse desejo?
"Instinto Paterno", documentário do norte-americano Murray
Nossel, acompanha os passos de
personagens reais, Erik e Mark,
em busca do filho e conta desde o
momento da decisão até o nascimento de Cecília, a primeira filha
do casal.
Em vez de adotar um criança, a
dupla decide encontrar uma barriga de aluguel para inseminação
artificial. Por meio de um anúncio
na internet, encontram Wen, uma
mãe de família de Maine, no interior dos EUA, que resolve ajudar
o casal na realização do sonho por
US$ 13 mil (cerca de R$ 40 mil),
valor cobrado para os nove meses
de cessão do corpo.
Saga pela paternidade
A gravidez não é fácil, Wen é
uma pessoa obesa, chega a perder
o bebê, em uma cena um tanto estranha, com um ritual comunitário de enterro do feto. A trama
torna-se mais complexa quando o
filho adolescente de Wen passa a
acompanhar a saga pela tentativa
de um irmão.
A luta continua, mesmo com a
perda, e as relações entre Erik,
Mark e Wen parecem ficar mais
seguras, até que o casal gay acaba
conseguindo não só a primeira filha, Cecília, mas também um segundo, Liv, que nasce um ano depois, após nova inseminação artificial, também com Wen.
O mérito do documentário é
trazer ao universo gay algo que
vai além das já manjadas aventuras sexuais, típicas desse gênero
de produção, e retratar um casal
estável, integrado, sem problemas
com suas respectivas famílias, em
busca por um passo além na relação, algo, aliás, bastante banal já
há bastante tempo, mas que pouco espaço tem no cinema ou mesmo na televisão.
Avanço e caretice
Entretanto, se "Instinto Paterno" é avançado na temática, se
apresenta conservador no formato, já que a maneira como o diretor apresenta a história está mais
próxima de um "reality show", e
aí a coisa complica.
Cenas que buscam aparentar
uma certa intimidade, desabafos
do casal, tipo "quero tanto que esse filho seja meu", já que ambos
doam esperma e a paternidade é
incerta, tornam-se exageradas na
tela, artificiais mesmo, o que faz o
ritmo da produção ganhar um ar
sentimentalóide.
Talvez o problema não seja do
documentário, mas seja o próprio
comportamento das pessoas que
tenha se alterado e intimidade vire algo que já não exista mais. Ser,
hoje, é estar na tela de TV, então o
filme apenas reflete essa tendência, e caretice, afinal, não é mesmo
privilégio dos heterossexuais.
Instinto Paterno
Paternal Instinct
Direção: Murray Nossel
Produção: EUA, 2003
Quando: hoje (às 14h) e dia 16 (às 16h)
no Espaço Unibanco - sala 1
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