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TELEVISÃO
Diretores Fernando Meirelles e Paulo Morelli diagnosticam piora gradativa na situação das favelas brasileiras
"Cidade dos Homens" retoma tom de crônica
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Estréia na próxima sexta-feira,
dia 18, na Globo, a quarta e última
temporada da série "Cidade dos
Homens", uma jornada que (quase) encerra um ciclo de retratos de
descaso nas favelas cariocas
-mas que se refletem em todo o
país-, projeto que começou antes mesmo do sucesso de "Cidade
de Deus" e ainda gerará um filme
no ano que vem.
Durante os três últimos anos,
dois garotos provenientes das favelas retrataram na TV diversas
situações reais dos morros cariocas. Darlan Cunha e Douglas Silva, Laranjinha e Acerola na ficção,
respectivamente, viveram no período dois adolescentes "sangue
bom", que sobreviveram na favela
tão perto e tão longe do tráfico e
da criminalidade.
Mesmo recheada de cenas de
ação e humor, "Cidade dos Homens" reflete a mais séria crise de
segurança no país, na visão de
seus produtores e diretores.
Fernando Meirelles, 49, mentor
do projeto na TV, diz estar desacreditado em relação ao futuro de
crianças da favela. "Minha percepção é que em cinco anos tudo
piorou muito. Antes, os "donos"
do morro eram pessoas nascidas
ali e que tinham ligação com a comunidade. Hoje, as facções que
controlam já não têm mais essa ligação. A vida nas comunidades
piorou muito com isso", disse o
cineasta, por e-mail, à Folha.
Meirelles dirige o quinto episódio da nova temporada, que encerrará a série de uma maneira diferente: será uma mistura de documentário com desenho animado, criado pela dupla de cartunistas Os Gêmeos, conhecidos na
grafitagem paulista, e vai falar sobre as percepções do futuro para
os atores, não para os personagens. "É sobre o futuro dos atores,
que agora vão ficar desempregados", comenta o diretor.
"Honestamente, se dependermos da eficiência de governos como os dois últimos que passaram
[FHC e Lula], não há esperança
nenhuma. E a solução existe: educação e distribuição de renda, se
possível. Mas quem se interessa
por isso? Nosso Congresso só
pensa em ficar atacando uns aos
outros para ganhar a "cenourinha"
do ano que vem. Parece piada. Já
há uma geração perdida aí, sem
volta. Tudo vai piorar muito mais
ainda. Mas pode começar a melhorar daqui a uns 25 anos, se formos rápidos", analisa o cineasta.
Paulo Morelli, 49, diretor do segundo episódio, compartilha da
mesma opinião. Em "Tá Sobrando Mês", o tema é a desigualdade
de renda, o desemprego e o emprego informal. "Os meninos começam a trabalhar e têm responsabilidades, filho para criar. Daí,
mesmo vivendo de bicos ou trabalhando com carteira assinada, o
dinheiro é pouco para sobreviver.
É bem dramático e tem um final
triste", diz o diretor, que no ano
que vem filmará o longa-metragem da série (leia texto ao lado).
"Decidimos voltar para o início
da série, que era mais no estilo de
crônica do que de história contínua. Cada episódio desta temporada será diferente", conta Morelli, para quem a série se assemelha
"a final de Copa do Mundo nas favelas, quando passa".
Cada episódio tem um time de
roteiristas e diretores diferentes.
O primeiro, dirigido por Roberto
Moreira e que abordará os conflitos armados nos morros e o mau
atendimento na rede pública de
saúde, terá muita ação.
No terceiro episódio, uma jovem de classe média sobe o morro
para morar com o líder do tráfico
local, história baseada num caso
real, ocorrido no ano passado no
Rio de Janeiro. Será dirigido por
Adriano Goldman, que participou também de temporadas anteriores.
Já o quarto será um dos mais
inusitados. Escrito pela equipe de
redatores do "Casseta & Planeta"
e dirigido por Regina Casé, terá
humor rasgado e colocará a dupla
de atores em novos papéis.
O melhor ano da série em audiência foi o segundo, em 2003,
quando obteve 33 pontos no Ibope com cinco episódios exibidos
às terças-feiras. Em 2002, ano da
estréia, foi exibido em quatro episódios numa só semana, de terça
a sexta, e obteve 29 pontos de média no Ibope.
O seriado já foi vendido para
mais de 50 países, e o ator Douglas
Silva concorre, no próximo dia 21,
ao International Emmy.
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