São Paulo, terça-feira, 13 de novembro de 2007

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Ciclo destaca rigor de Leon Hirszman

"Deixa que Eu Falo" inaugura mostra sobre o cineasta, que marca o lançamento de seus filmes restaurados

COLUNISTA DA FOLHA

No cinema novo brasileiro, o carioca Leon Hirszman (1937-87) representou, de certo modo, um contraponto de equilíbrio e lucidez ao delírio genial e genioso de Glauber Rocha.
A parte mais diretamente política da obra do diretor, incluindo o documentário "ABC da Greve" (1980) e o multipremiado "Eles Não Usam Black-Tie" (1981), poderá ser conferida de hoje a domingo na mostra Leon Hirszman Ano 70, realizada na Cinemateca Brasileira de São Paulo.
A retrospectiva, que é completada pelos curtas "Pedreira de São Diogo" (1961), "Megalópolis" (1974) e "Ecologia" (1974), marca também o lançamento da primeira caixa de DVDs com os filmes restaurados do cineasta.
Nada mais apropriado do que a escolha, para inaugurar hoje a mostra, do documentário inédito "Deixa que Eu Falo".
O filme foi realizado pelo cineasta e montador Eduardo Escorel, amigo de Leon Hirszman de longa data, colaborador de seus principais filmes e coordenador do processo de restauração da sua obra, ao lado do seu irmão, Lauro Escorel, também cineasta e diretor de fotografia.
Em "Deixa que Eu Falo" vemos em ação, como que num presente contínuo, o empenho estético e o rigor crítico de Hirszman, autor sempre preocupado com o papel do artista em um país desarticulado e injusto como o Brasil. Preciosos depoimentos do cineasta, com destaque para o áudio de uma longa entrevista a Alex Viany, cenas de filmagens e trechos de suas obras compõem um retrato vivo e plural do cineasta em momentos de criação, de reflexão e de ação política.

Nise da Silveira
Não por acaso, as imagens que iniciam e terminam o documentário são de uma entrevista inédita da então octogenária psiquiatra Nise da Silveira (1905-99) ao cineasta.
Foram as últimas tomadas realizadas por Hirszman, que retratara o trabalho revolucionário da psiquiatra alagoana com pacientes psicóticos no soberbo documentário "Imagens do Inconsciente".
Assim como a psiquiatra, Hirszman unia o rigor intelectual à imaginação e à paixão pelo drama humano. E, apesar de todas as evidências em contrário, acreditava na salvação pela arte. (JGC)


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