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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"Hotel Atlântico"
Tipos curiosos crescem diante do tédio
Em longa de Suzana Amaral, protagonista apático serve de elo entre personagens que atravessam -e seguram- narrativa
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Hotel Atlântico" é
uma história de
deriva pontuada
pela morte.
O personagem central, Artista, começa sua trajetória pelo
hotel. E, enquanto sobe as escadas, uma maca desce levando
um cadáver. É o primeiro sinal.
Depois virão as manchas de
sangue no chão de seu quarto.
O Artista vê essas coisas com
indiferença. Breve começará
seu périplo. Irá a Minas Gerais
ou ao Paraná? Acaba indo para
Florianópolis. Sua geografia é
misteriosa. É para qualquer lugar que vai, porque não procura
por nada. Não há o que conhecer ou reconhecer.
Deixa-se levar. Ou antes, é levado pelo tédio, pelo sentimento de fatalidade e por sucessivos encontros fortuitos, que
tanto podem acabar no suicídio
(de uma antropóloga polonesa)
como em quase morte (dele).
Cada um desses episódios
pode levá-lo a escutar histórias
sem grande significado para
quem ouve, mas grande para
quem conta. Serão histórias
verdadeiras? Eis aí um ponto
que importa bem pouco: o Artista só tem ouvidos para o próprio niilismo.
Esse suicida amador parte de
um lugar qualquer para chegar
aonde o acaso determine, carregado por um ex-enfermeiro,
num carro de que a produção
ocultou o local de origem. Não
há origem possível.
O Artista é, por formação
profissional (na verdade ele se
reconhece apenas como vagabundo), capaz de representar
vários papéis, inclusive o de padre, mas é incapaz de se deixar
absorver por algum deles.
Existe algo que não convence
plenamente nessa trajetória
com alguns solavancos narrativos, mas, no geral, muito bem
armada: até que ponto a trajetória do protagonista interessa
à diretora Suzana Amaral?
Na verdade, ele será o elo entre vários tipos interessantíssimos que atravessam o filme, da
polonesa ao sacristão mirrado
com sua mulher imensa, do assassino psicopata ao dono da
pousada com ar de Mickey
Rooney e sua mulher sombria.
É nesses personagens, nas
belas composições que criam,
que reside o principal interesse
do filme, em contraste com um
Artista que apenas afirma sua
indiferença diante desse mundo com o qual a autora deste filme parece bem mais disposta a
se encantar.
HOTEL ATLÂNTICO
Direção: Suzana Amaral
Com: Julio Andrade, João Miguel
Produção: Brasil, 2009
Onde: a partir de hoje no Reserva
Cultural, Belas Artes e circuito
Classificação: 12 anos
Avaliação: bom
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