São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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DANÇA
Twyla Tharp evoca infância hoje em SP

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

Quando decidiu formar novo grupo, há dois anos, Twyla Tharp somava quase uma década como coreógrafa independente. Com o espetáculo "Tharp!", que os 12 bailarinos da companhia recém-formada estréiam hoje em São Paulo, a coreógrafa promove uma espécie de volta às origens.
Porém as platéias brasileiras que viram o antigo grupo de Tharp no final dos anos 80, dançando obras-primas como "In the Upper Room", no Carlton Dance Festival, não devem esperar correspondências entre os dois elencos.
Com sua companhia original, fundada em 1965, Tharp mantinha um envolvimento e uma unidade criativa que, agora, ela parece evitar. Também o toque de gênio contido no antigo repertório ainda não tomou conta das obras que compõem o atual programa.
O que se deve prever, portanto, é um espetáculo de competência indiscutível, dançado por elenco de elevado padrão técnico, mas ainda sem os superlativos da fase anterior. Contudo, sendo Twyla Tharp a autora, a temporada ganha a aura criada por essa coreógrafa que conseguiu impor um estilo próprio, numa época e num ambiente artístico pontilhado de talentos extraordinários.
Quando ela surgiu em Nova York, no início dos anos 60, a dança moderna americana já contava com gigantes como Martha Graham e Merce Cunningham. Ao mesmo tempo, a geração de Tharp reunia inúmeros talentos que compartilhavam inquietações comuns. Para contemporâneos de Tharp, como Trisha Brown e Lucinda Childs, a dança deveria se despir de efeitos, recusar o virtuosismo e basear-se em uma abordagem minimalista.
Opondo-se a essa maioria, que deflagrou o movimento pós-moderno, Tharp criou suas próprias leis. Valendo-se de sua formação eclética, ela apoiou-se nos fundamentos clássicos da dança, aliou-se ao mesmo tempo ao mundo pop, para desenvolver uma brilhante equivalência entre o erudito e o popular.
Uma das obras mais contundentes do "estilo Tharp" surgiu em 1976, quando a coreógrafa compôs "Push Comes to Shove" para Mikhail Baryshnikov. Combinando com originalidade o antigo e o moderno, ela eliminou barreiras, fazendo uso, mais uma vez, de sua falta de preconceitos musical, ao misturar composições de Joseph Haydn e Joseph Lamb.
Hoje, ao retomar as funções de diretora de companhia, Tharp buscou no passado a inspiração para o programa de cunho autobiográfico que está lançando o novo elenco.
Reunindo três coreografias, o programa "Tharp!" contém reminiscências principalmente em "Sweet Fields", dançada ao som de músicas tradicionais dos séculos 18 e 19, que remetem à origem Quaker da coreógrafa.
Adepta do pacifismo e praticada pela família da coreógrafa, a religião Quaker serviu de ponto de partida para Tharp desenvolver uma obra que evoca sua infância mas que, como as demais coreografias, aponta para o sincretismo de expressões.
Além de "Sweet Fields", o programa "Tharp!" inclui "Heroes", com música de Philip Glass baseada num disco de Brian Eno e David Bowie, e "Yemayá", na qual há referência à cultura africana.
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Espetáculo: Tharp! Quando: hoje e amanhã, às 21h; domingo, às 17h Onde: teatro Alfa Real (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 011/5693-4000) Quanto: R$ 60, R$ 70 e R$ 80



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