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DANÇA
Twyla Tharp evoca infância hoje em SP
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Quando decidiu formar novo
grupo, há dois anos, Twyla Tharp
somava quase uma década como
coreógrafa independente. Com o
espetáculo "Tharp!", que os 12 bailarinos da companhia recém-formada estréiam hoje em São Paulo,
a coreógrafa promove uma espécie
de volta às origens.
Porém as platéias brasileiras que
viram o antigo grupo de Tharp no
final dos anos 80, dançando obras-primas como "In the Upper
Room", no Carlton Dance Festival,
não devem esperar correspondências entre os dois elencos.
Com sua companhia original,
fundada em 1965, Tharp mantinha
um envolvimento e uma unidade
criativa que, agora, ela parece evitar. Também o toque de gênio contido no antigo repertório ainda
não tomou conta das obras que
compõem o atual programa.
O que se deve prever, portanto, é
um espetáculo de competência indiscutível, dançado por elenco de
elevado padrão técnico, mas ainda
sem os superlativos da fase anterior. Contudo, sendo Twyla Tharp
a autora, a temporada ganha a aura
criada por essa coreógrafa que
conseguiu impor um estilo próprio, numa época e num ambiente
artístico pontilhado de talentos extraordinários.
Quando ela surgiu em Nova
York, no início dos anos 60, a dança moderna americana já contava
com gigantes como Martha Graham e Merce Cunningham. Ao
mesmo tempo, a geração de Tharp
reunia inúmeros talentos que
compartilhavam inquietações comuns. Para contemporâneos de
Tharp, como Trisha Brown e Lucinda Childs, a dança deveria se
despir de efeitos, recusar o virtuosismo e basear-se em uma abordagem minimalista.
Opondo-se a essa maioria, que
deflagrou o movimento pós-moderno, Tharp criou suas próprias
leis. Valendo-se de sua formação
eclética, ela apoiou-se nos fundamentos clássicos da dança, aliou-se ao mesmo tempo ao mundo
pop, para desenvolver uma brilhante equivalência entre o erudito
e o popular.
Uma das obras mais contundentes do "estilo Tharp" surgiu em
1976, quando a coreógrafa compôs
"Push Comes to Shove" para Mikhail Baryshnikov. Combinando
com originalidade o antigo e o moderno, ela eliminou barreiras, fazendo uso, mais uma vez, de sua
falta de preconceitos musical, ao
misturar composições de Joseph
Haydn e Joseph Lamb.
Hoje, ao retomar as funções de
diretora de companhia, Tharp
buscou no passado a inspiração
para o programa de cunho autobiográfico que está lançando o novo elenco.
Reunindo três coreografias, o
programa "Tharp!" contém reminiscências principalmente em
"Sweet Fields", dançada ao som de
músicas tradicionais dos séculos
18 e 19, que remetem à origem
Quaker da coreógrafa.
Adepta do pacifismo e praticada
pela família da coreógrafa, a religião Quaker serviu de ponto de
partida para Tharp desenvolver
uma obra que evoca sua infância
mas que, como as demais coreografias, aponta para o sincretismo
de expressões.
Além de "Sweet Fields", o programa "Tharp!" inclui "Heroes",
com música de Philip Glass baseada num disco de Brian Eno e David
Bowie, e "Yemayá", na qual há referência à cultura africana.
²
Espetáculo: Tharp!
Quando: hoje e amanhã, às 21h; domingo,
às 17h
Onde: teatro Alfa Real (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, tel. 011/5693-4000)
Quanto: R$ 60, R$ 70 e R$ 80
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