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HOMENAGEM
O mais importante folclorista brasileiro tem seu centenário de nascimento lembrado em projeto, em SP
Brincante começa a festejar Cascudo
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
O centenário de nascimento do
etnógrafo (ele disse: "Etnógrafo a
puta que o pariu, sou antropólogo") Luis da Câmara Cascudo
(1898-1986), este ano, não teve comemorações à altura de sua impressionantemente prolífica obra.
Alguns seminários em Recife e
Natal, onde nasceu, a reedição de
dois livros, um deles o seu "Contos
Tradicionais do Brasil" -no prelo
pela Ediouro e não muito mais que
isso.
São Paulo entra agora no circuito. A partir de hoje o compositor
Antônio Nóbrega organiza em seu
teatro Brincante o projeto "Festejando Câmara Cascudo", que traz
atrações musicais de Recife e um
sarau em que serão lidas histórias
recolhidas por Cascudo -especialmente do livro "Vaqueiros e
Cantadores".
Nóbrega reconhece que a ligação
mais explicita do evento com o homenageado é o sarau (apenas nos
dias 27, 28 e 29 deste mês).
Mas, antes de cada apresentação
musical, como as de Edimilson doPífano, Nóbrega fará uma breve
introdução sobre aquele que chama "o grande patrono dos estudos
folclóricos do Brasil". O pífano
-ou pife-, o instrumento de sopro de Edimilson, foi, por exemplo, tema de estudos de Cascudo.
Não seria para menos. Entre traduções, compilações e ensaios de
própria lavra, Cascudo publicou
mais de 150 livros e instaurou,
muito antes da disciplina ganhar
as universidades do país, uma história oral no Brasil.
Dedicou-se também a uma "sociologia dos costumes", enfocando
o brasileiro a partir de sua alimentação, da cachaça, da jangada, de
sua rede de dormir etc.
Poucos lhe negam o título de
mais emérito folclorista brasileiro.
Cascudo deu a luz a diversas obras
de referência, entre elas o "Dicionário do Folclore Brasileiro", a
"Antologia do Folclore Brasileiro"
e a "Geografia dos Mitos Brasileiros".
Se talvez tenha faltado rigor crítico às suas pesquisas, Cascudo teve
o mérito de trilhar um caminho
próprio, que ora se entrelaçava
com o de Gilberto Freyre, ora com
o de Mário de Andrade. Esse "maverick" potiguar recusou-se a deixar Natal -deixou a cidade apenas para formar-se em direito em
Recife-, comandando suas pesquisas de lá.
Traduziu seu amor à "província"
com diversos livros sobre a história potiguar -e, naturalmente, sobre o potiguar.
Começou sua carreira como repórter, em 1918, e chegou ao primeiro livro em 1920. Seu primeiro
artigo, publicado em "A Imprensa", comenta um livro de ensaios
que, curiosamente, poderia ter sido escrito por ele: "A Mulher na
Poesia Brasileira", do poeta Leal de
Souza.
(Mais tarde, disse sobre a profissão inicial: "A entrevista reproduz
a opinião do repórter, usando o
nome do entrevistado. Fui repórter".)
Cascudo preferia ele mesmo ir a
campo, a contar com uma rede de
pesquisadores. Assim, para a "História da Alimentação do Brasil",
esteve na África. Para um sem-número de outros títulos, foi a Portugal.
Cioso de seu papel de difusor de
cultura e da envergadura que sua
própria história se investia, também legou títulos memorialistas,
"reminiscências" e "maginações",
como gostava de dizer. Entre eles,
o "Pequeno Manual do Doente
Aprendiz", "O Tempo e Eu" e
"Ontem".
²
Evento: Festejando Câmara Cascudo
Onde: teatro Brincante (r. Purpurina, 428,
Vila Madalena, tel. 011/816-0575)
Quando: a partir de hoje, às 21h, com
apresentação da banda de coco de Recife
Comadre Fulôzinha
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes)
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