São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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HOMENAGEM
O mais importante folclorista brasileiro tem seu centenário de nascimento lembrado em projeto, em SP
Brincante começa a festejar Cascudo

PAULO VIEIRA
especial para a Folha

O centenário de nascimento do etnógrafo (ele disse: "Etnógrafo a puta que o pariu, sou antropólogo") Luis da Câmara Cascudo (1898-1986), este ano, não teve comemorações à altura de sua impressionantemente prolífica obra.
Alguns seminários em Recife e Natal, onde nasceu, a reedição de dois livros, um deles o seu "Contos Tradicionais do Brasil" -no prelo pela Ediouro e não muito mais que isso.
São Paulo entra agora no circuito. A partir de hoje o compositor Antônio Nóbrega organiza em seu teatro Brincante o projeto "Festejando Câmara Cascudo", que traz atrações musicais de Recife e um sarau em que serão lidas histórias recolhidas por Cascudo -especialmente do livro "Vaqueiros e Cantadores".
Nóbrega reconhece que a ligação mais explicita do evento com o homenageado é o sarau (apenas nos dias 27, 28 e 29 deste mês).
Mas, antes de cada apresentação musical, como as de Edimilson doPífano, Nóbrega fará uma breve introdução sobre aquele que chama "o grande patrono dos estudos folclóricos do Brasil". O pífano -ou pife-, o instrumento de sopro de Edimilson, foi, por exemplo, tema de estudos de Cascudo.
Não seria para menos. Entre traduções, compilações e ensaios de própria lavra, Cascudo publicou mais de 150 livros e instaurou, muito antes da disciplina ganhar as universidades do país, uma história oral no Brasil.
Dedicou-se também a uma "sociologia dos costumes", enfocando o brasileiro a partir de sua alimentação, da cachaça, da jangada, de sua rede de dormir etc.
Poucos lhe negam o título de mais emérito folclorista brasileiro. Cascudo deu a luz a diversas obras de referência, entre elas o "Dicionário do Folclore Brasileiro", a "Antologia do Folclore Brasileiro" e a "Geografia dos Mitos Brasileiros".
Se talvez tenha faltado rigor crítico às suas pesquisas, Cascudo teve o mérito de trilhar um caminho próprio, que ora se entrelaçava com o de Gilberto Freyre, ora com o de Mário de Andrade. Esse "maverick" potiguar recusou-se a deixar Natal -deixou a cidade apenas para formar-se em direito em Recife-, comandando suas pesquisas de lá.
Traduziu seu amor à "província" com diversos livros sobre a história potiguar -e, naturalmente, sobre o potiguar.
Começou sua carreira como repórter, em 1918, e chegou ao primeiro livro em 1920. Seu primeiro artigo, publicado em "A Imprensa", comenta um livro de ensaios que, curiosamente, poderia ter sido escrito por ele: "A Mulher na Poesia Brasileira", do poeta Leal de Souza.
(Mais tarde, disse sobre a profissão inicial: "A entrevista reproduz a opinião do repórter, usando o nome do entrevistado. Fui repórter".)
Cascudo preferia ele mesmo ir a campo, a contar com uma rede de pesquisadores. Assim, para a "História da Alimentação do Brasil", esteve na África. Para um sem-número de outros títulos, foi a Portugal.
Cioso de seu papel de difusor de cultura e da envergadura que sua própria história se investia, também legou títulos memorialistas, "reminiscências" e "maginações", como gostava de dizer. Entre eles, o "Pequeno Manual do Doente Aprendiz", "O Tempo e Eu" e "Ontem".
²
Evento: Festejando Câmara Cascudo Onde: teatro Brincante (r. Purpurina, 428, Vila Madalena, tel. 011/816-0575) Quando: a partir de hoje, às 21h, com apresentação da banda de coco de Recife Comadre Fulôzinha Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes)


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