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"Meu quarto é o mais requintado'
da Reportagem Local
Pregado numa parede no segundo andar da Bienal, o quarto de
Rubens Rocha, o "Gegê", 58, não
parece ser o que é: um barraco de
madeira construído nos fundos de
um estacionamento do Bexiga, onde ele trabalha como vigia.
"Tem coisas que a gente faz e não
dá valor nenhum. Aqui as pessoas
estão dando", fala "Gegê", em
frente ao painel de 1,80 m por 2,30
m que reproduz o quarto, construído e decorado por ele.
Em meio aos 16 dormitórios paulistanos de todas as classe sociais
fotografados pela artista Rochelle
Costi, que é também repórter-fotográfica da Folha, o de "Gegê"
desperta atenção.
Satisfeito, o vigia aponta os véus
e espelhos cuidadosamente distribuídos. "Quando a Rochelle bateu
na minha porta, achei que os outros quartos iam ser super melhores. E que o meu ia ser um abacaxi.
Mas o meu é mesmo o mais requintado", conclui.
É também o mais cheiroso, como
se pode avaliar pelos perfumes dispostos com delicadeza em sua cabeceira. Entre eles, "Gegê" escolheu o Rumba para visitar a Bienal.
"É um francês que comprei numa
lojinha de importados. Adoro perfume francês."
Além de perfume, o vigia diz
adorar arte. "Mas, até hoje, só tinha visto a Bienal pela televisão.
Não entendo nada de arte." Mesmo assim, se arrisca a produzir a
sua. "Arte é inventar alguma coisa
e as pessoas gostarem. O meu
quarto nem parece que é numa favelinha, né? Sabe o que eu uso?
Restos. Restos de fantasias, lixo
etc. Vou montando."
"Gegê" mora no Bexiga desde
1971. "Invadi o terreno e armei o
meu barraco." Naquela época, o
vigia tinha até quintal. "Anos depois, apareceu o dono, montou o
estacionamento e eu fiquei tomando conta."
A atual decoração do quarto dele
tem apenas dois anos. "Sou filho
de ciganos. Quando eu canso, mudo tudo."
(IF)
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