São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Meu quarto é o mais requintado'

da Reportagem Local

Pregado numa parede no segundo andar da Bienal, o quarto de Rubens Rocha, o "Gegê", 58, não parece ser o que é: um barraco de madeira construído nos fundos de um estacionamento do Bexiga, onde ele trabalha como vigia.
"Tem coisas que a gente faz e não dá valor nenhum. Aqui as pessoas estão dando", fala "Gegê", em frente ao painel de 1,80 m por 2,30 m que reproduz o quarto, construído e decorado por ele.
Em meio aos 16 dormitórios paulistanos de todas as classe sociais fotografados pela artista Rochelle Costi, que é também repórter-fotográfica da Folha, o de "Gegê" desperta atenção.
Satisfeito, o vigia aponta os véus e espelhos cuidadosamente distribuídos. "Quando a Rochelle bateu na minha porta, achei que os outros quartos iam ser super melhores. E que o meu ia ser um abacaxi. Mas o meu é mesmo o mais requintado", conclui.
É também o mais cheiroso, como se pode avaliar pelos perfumes dispostos com delicadeza em sua cabeceira. Entre eles, "Gegê" escolheu o Rumba para visitar a Bienal. "É um francês que comprei numa lojinha de importados. Adoro perfume francês."
Além de perfume, o vigia diz adorar arte. "Mas, até hoje, só tinha visto a Bienal pela televisão. Não entendo nada de arte." Mesmo assim, se arrisca a produzir a sua. "Arte é inventar alguma coisa e as pessoas gostarem. O meu quarto nem parece que é numa favelinha, né? Sabe o que eu uso? Restos. Restos de fantasias, lixo etc. Vou montando."
"Gegê" mora no Bexiga desde 1971. "Invadi o terreno e armei o meu barraco." Naquela época, o vigia tinha até quintal. "Anos depois, apareceu o dono, montou o estacionamento e eu fiquei tomando conta."
A atual decoração do quarto dele tem apenas dois anos. "Sou filho de ciganos. Quando eu canso, mudo tudo." (IF)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.