São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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"Isso aí é exposição de lâmpada'

da Reportagem Local

"Para mim, isso aí é uma exposição de lâmpada, não é arte. Eu gosto de pintura, essas coisas. Arte, para mim, é quadro."
É por pensar assim que a copeira Maria da Glória do Espírito Santo de Araújo, 49, não consegue entender por que seu antigo lustre, que costumava iluminar sua sala de estar em Guarulhos, ficou subitamente importante.
Agora, ele está lá, pendurado no meio de outras 72 fontes de luz, de lampiões a velas, todas coletadas em casa e bares da Grande São Paulo para fazer parte da exposição do artista alemão Mischa Kuball, no primeiro andar do pavilhão da Bienal.
"Não sei explicar por que uma coisinha tão simples está aí pendurada", suspira. Maria da Glória trabalha como copeira na própria Bienal e sua convivência com o alemão Mischa Kuball começou por meio do patrão dela, o curador do evento, Paulo Herkenhoff.
"O seu Paulo disse que um alemão viria na minha casa pegar meu lustre. Eu achei que tinha feito alguma coisa errada, não entendi muito bem, mas aceitei", conta.
"Ainda bem que veio um brasileiro com o gringo. Ele dizia que queria trocar o meu lustre com um que ele tinha trazido. E que, se eu quisesse, ele destrocava depois."
Mas Maria da Glória já não quer mais destrocar: "O lustre me deu tanta sorte, conheci tanta gente, vou sair no jornal... Acho que vou ficar com ele. Além disso, o meu dá para comprar em qualquer esquina. O lustre dele não: é gringo". (IF)



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