São Paulo, Segunda-feira, 13 de Dezembro de 1999


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Antítese do fim de carreira em terra brasileira

LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas

O complexo colonial faz pensar que astros pop só incluem nossas platéias em seus roteiros depois de velhos e decadentes. Quem pensa assim perdeu no final de semana um dos melhores espetáculos do ano, com a diva inglesa Marianne Faithfull.
A ex-musa dos Rolling Stones nos anos 60 prova, e não é de hoje, que o tempo forja e matura à perfeição seu timbre vocal grave e apocalíptico, sereno e sofrido, como de uma puta de um velho cabaré, como de uma rebelde sobrevivente depois de 40 anos de pé na estrada.
O mote "sexo, drogas e rock'n'roll" lhe cai bem. A heroína e o álcool quase acabaram com sua vida. Mas, dizem, degenerou suas cordas vocais para melhor. Ao ouvir o pedido da platéia, ao final do espetáculo inaugural de sexta, para cantar "Sister Morphine" (Jagger, Richards e Faithfull), respondeu com um "fuck off". "Não diga o que eu devo fazer, kid", e rebateu com uma versão distorcida de "Tower of Song" (Leonard Cohen).
Das mais esperadas, as clássicas "Ballad of Lucy Jordan" (Silverstein), nas trilhas dos filmes "Montenegro", de Dusan Makavejec, e "Thelma e Louise", de Ridley Scott; e "As Tears Go By" (Jagger, Richard, Oldham -seu primeiro sucesso, gravado em 1964), vieram no bis.
Em cena, Marianne Faithfull dominava também por sua exuberância sem-vergonha. Uma atriz, corajosa ao assumir com prazer os seus 52 anos. A fartura dos peitos arfantes saltava à vista para o prazer de todos. A diva cantava e exibia com orgulho suas marcas e histórias, convertendo-as em virtudes. Disse que voltava a cantar, depois de mais de 30 anos "Come and Stay with Me" (De Shannon).
Lamentou que seu último álbum não sairia aqui e cantou a sua faixa-título, "Vagabond Ways", e "File it Under Fun from the Past", ambas em parceria com o guitarrista Barry Reynolds, também em cena.
Lamentável mesmo a irregularidade com que seus discos são lançados aqui, diferentemente da permanência em catálogo de todos os seus discos em território europeu. Neles, ou como ela mesma se refere em cena à sua autobiografia, "Faithfull", igualmente inédita, ressalva-se o carisma da única personalidade feminina do pop inglês ainda com boas histórias para cantar.


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