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OUTRO OLHAR
Antítese do fim de carreira em terra brasileira
LEON CAKOFF
da Equipe de Articulistas
O complexo colonial faz pensar que astros pop só incluem
nossas platéias em seus roteiros
depois de velhos e decadentes.
Quem pensa assim perdeu no final de semana um dos melhores
espetáculos do ano, com a diva
inglesa Marianne Faithfull.
A ex-musa dos Rolling Stones
nos anos 60 prova, e não é de hoje, que o tempo forja e matura à
perfeição seu timbre vocal grave
e apocalíptico, sereno e sofrido,
como de uma puta de um velho
cabaré, como de uma rebelde sobrevivente depois de 40 anos de
pé na estrada.
O mote "sexo, drogas e
rock'n'roll" lhe cai bem. A heroína e o álcool quase acabaram
com sua vida. Mas, dizem, degenerou suas cordas vocais para
melhor. Ao ouvir o pedido da
platéia, ao final do espetáculo
inaugural de sexta, para cantar
"Sister Morphine" (Jagger, Richards e Faithfull), respondeu
com um "fuck off". "Não diga o
que eu devo fazer, kid", e rebateu com uma versão distorcida
de "Tower of Song" (Leonard
Cohen).
Das mais esperadas, as clássicas "Ballad of Lucy Jordan" (Silverstein), nas trilhas dos filmes
"Montenegro", de Dusan Makavejec, e "Thelma e Louise", de
Ridley Scott; e "As Tears Go By"
(Jagger, Richard, Oldham -seu
primeiro sucesso, gravado em
1964), vieram no bis.
Em cena, Marianne Faithfull
dominava também por sua exuberância sem-vergonha. Uma
atriz, corajosa ao assumir com
prazer os seus 52 anos. A fartura
dos peitos arfantes saltava à vista
para o prazer de todos. A diva
cantava e exibia com orgulho
suas marcas e histórias, convertendo-as em virtudes. Disse que
voltava a cantar, depois de mais
de 30 anos "Come and Stay with
Me" (De Shannon).
Lamentou que seu último álbum não sairia aqui e cantou a
sua faixa-título, "Vagabond
Ways", e "File it Under Fun
from the Past", ambas em parceria com o guitarrista Barry Reynolds, também em cena.
Lamentável mesmo a irregularidade com que seus discos são
lançados aqui, diferentemente
da permanência em catálogo de
todos os seus discos em território europeu. Neles, ou como ela
mesma se refere em cena à sua
autobiografia, "Faithfull", igualmente inédita, ressalva-se o carisma da única personalidade feminina do pop inglês ainda com
boas histórias para cantar.
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