São Paulo, Segunda-feira, 13 de Dezembro de 1999


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TELEVISÃO
Caricatura é melhor que retrato

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Não que o incisivo apresentador Marcelo Rezende esteja mais magro, mas o programa "Linha Direta" aderiu ao "diet". Cortou as gordurinhas paulistas e todas mais que se mostraram excessivas. Com um caso só para narrar, foi todo aquele barroco dos preâmbulos permitindo uma linha mais "clean", além de direta. Só não chegou ao minimalismo porque a emoção exige presença.
Para inaugurar a fase "light" foi escolhido o sofrimento de famosos. Nada menos do que o sequestro de Wellington, o irmão nada famoso de Zezé di Camargo e Luciano, os sertanejos mais cantantes do país. O caso abalou não só sertanejos, mas até pagodeiros e pessoas que nem querem saber da música que eles fazem.
Isso porque, em determinado momento, os sequestradores, para mostrar que a presa estava viva, cortam-lhe toscamente parte da orelha e fazem com que ela chegue ao endereço dos pagadores. Isso dá mais tarde uma beleza maior à liberação de Wellington, que, jogado no mato, olha para o céu e vê sua felicidade ampliada pelo brilho de um excesso de estrelas.
As emoções de "Linha Direta" estão sempre numa sensação de alívio, já que as negociações e espera são angustiantes apenas na compreensão de quem as sofre. Isso porque os resultados já são todos conhecidos.
O pobre Wellington teve como sorte principal ser vítima de profissionais. Os Oliveira já tinham cometido todos os crimes. Iam se iniciar como sequestradores raptando uma tetraplégica. Adivinharam o desastroso dessa idéia. Pior para Wellington.
Hábil também o raciocínio dos sertanejos cantantes. "Se o resgate for muito alto, eles pegam, matam nosso irmão e fogem." Constatar que, uma vez milionários, os bandidos ficariam insensíveis e o irmão iria morrer é uma prova de que cantor sertanejo não se esqueceu de como eram os ricos antes do seu sucesso. O valor do resgate desceu a níveis reais. Começaram as negociações.
Para que sempre houvesse dinheiro, os irmãos cantores cantavam. O irmão sequestrado sofria dor física e os sustos do pânico. Queria morrer. "Não de morte matada, porque nunca fiz mal a ninguém. Me tira daqui!"
Tudo resolvido, só dois bandidos continuam soltos. Uma tal de Tatiana de Souza e um que surrupiou o nome do ídolo e é conhecido como Romário. Dá uma pausa de cinco minutos antes de gritar "Vaaaasco". E, de todos os depoimentos registrados, o mais comovente foi o do pai do Wellington. "Estava querendo me matar. Aí o telefone tocou com a ótima notícia." Sem o toque desse telefone, sabe-se que o pai não diria nada.
E aí, no que pode ter sido uma surpresa, aparece o Wellington cantando, como se dissesse que tinha perdido a orelha mas não o ouvido. E porque o programa segue agora a linha "light" Marcelo Rezende quase dá um sorriso na despedida. Será que ele sabe que existe uma corrente querendo que o Hubert, do "Casseta", o substitua? Insistem que a caricatura é muito melhor do que o retrato.



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