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TELEVISÃO
Caricatura é melhor que retrato
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Não que o incisivo apresentador Marcelo Rezende esteja mais
magro, mas o programa "Linha
Direta" aderiu ao "diet". Cortou
as gordurinhas paulistas e todas
mais que se mostraram excessivas. Com um caso só para narrar,
foi todo aquele barroco dos
preâmbulos permitindo uma linha mais "clean", além de direta.
Só não chegou ao minimalismo
porque a emoção exige presença.
Para inaugurar a fase "light" foi
escolhido o sofrimento de famosos. Nada menos do que o sequestro de Wellington, o irmão nada
famoso de Zezé di Camargo e Luciano, os sertanejos mais cantantes do país. O caso abalou não só
sertanejos, mas até pagodeiros e
pessoas que nem querem saber da
música que eles fazem.
Isso porque, em determinado
momento, os sequestradores, para mostrar que a presa estava viva,
cortam-lhe toscamente parte da
orelha e fazem com que ela chegue ao endereço dos pagadores.
Isso dá mais tarde uma beleza
maior à liberação de Wellington,
que, jogado no mato, olha para o
céu e vê sua felicidade ampliada
pelo brilho de um excesso de estrelas.
As emoções de "Linha Direta"
estão sempre numa sensação de
alívio, já que as negociações e espera são angustiantes apenas na
compreensão de quem as sofre.
Isso porque os resultados já são
todos conhecidos.
O pobre Wellington teve como
sorte principal ser vítima de profissionais. Os Oliveira já tinham
cometido todos os crimes. Iam se
iniciar como sequestradores raptando uma tetraplégica. Adivinharam o desastroso dessa idéia.
Pior para Wellington.
Hábil também o raciocínio dos
sertanejos cantantes. "Se o resgate
for muito alto, eles pegam, matam
nosso irmão e fogem." Constatar
que, uma vez milionários, os bandidos ficariam insensíveis e o irmão iria morrer é uma prova de
que cantor sertanejo não se esqueceu de como eram os ricos antes do seu sucesso. O valor do resgate desceu a níveis reais. Começaram as negociações.
Para que sempre houvesse dinheiro, os irmãos cantores cantavam. O irmão sequestrado sofria
dor física e os sustos do pânico.
Queria morrer. "Não de morte
matada, porque nunca fiz mal a
ninguém. Me tira daqui!"
Tudo resolvido, só dois bandidos continuam soltos. Uma tal de
Tatiana de Souza e um que surrupiou o nome do ídolo e é conhecido como Romário. Dá uma pausa
de cinco minutos antes de gritar
"Vaaaasco". E, de todos os depoimentos registrados, o mais comovente foi o do pai do Wellington.
"Estava querendo me matar. Aí o
telefone tocou com a ótima notícia." Sem o toque desse telefone,
sabe-se que o pai não diria nada.
E aí, no que pode ter sido uma
surpresa, aparece o Wellington
cantando, como se dissesse que tinha perdido a orelha mas não o
ouvido. E porque o programa segue agora a linha "light" Marcelo
Rezende quase dá um sorriso na
despedida. Será que ele sabe que
existe uma corrente querendo
que o Hubert, do "Casseta", o
substitua? Insistem que a caricatura é muito melhor do que o retrato.
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