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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"BOSSA TROPICAL"
Disco marca a estréia da cantora na gravadora Abril/MZA, após parceria com a BMG iniciada em 84
Gal Costa aposta em mudanças artísticas
DA REDAÇÃO
Sorridente, de braços abertos
para o mar. Em imagens do encarte de seu novo trabalho, "Bossa
Tropical", e nos bastidores, Gal
Costa, 57, insinua uma fase de ansiedade por renovações, mudanças, disposta a aceitar o que vier
pela frente. Em nova fase da carreira, a cantora diz-se renovada.
Após interromper uma parceria
iniciada em 84 com a BMG, este
CD marca sua estréia em outra
gravadora, a Abril/MZA.
O disco evidencia também uma
Gal que abandona produções mirabolantes com orquestras e
shows superproduzidos. É, em
certo sentido, um disco econômico musicalmente, marcado pela
percussão de Marcos Suzano, pelo violão de Luiz Meira e participação de Armandinho no bandolim e na guitarra. "Pensei em radicalizar e gravá-lo apenas com violão. Não é um disco barato, pelo
contrário, a mudança de gravadora não teve a ver com isso. Foi
uma opção fazer um disco minimalista no sentido musical", diz.
"Bossa Tropical" traz releituras
de músicas díspares de gente como Arnaldo Antunes ("Socorro"), Beatles ("The Fool on the
Hill"). Há uma guinada para o
rock? "Nas canções estrangeiras,
tentei trazer um sotaque brasileiro e moderno", explica. "O disco
tem uma sonoridade moderna e
internacional ao mesmo tempo
que tem uma cara brasileira. Para
mim, isso é a "bossa tropical'", diz.
Ela conta que o único critério na
escolha das músicas foi a identificação com as letras. No caso de
"Ovelha Negra", pediu autorização de Rita Lee para mudar a letra. Trocou o "pai" por "mãe" devido a razões afetivas.
A empolgação com as mudanças de gravadora e de conceitos
sonoros é acompanhada pelo otimismo com o novo presidente
eleito. "Nós artistas somos o reflexo e a voz do inconsciente coletivo, somos missionários dessa
energia. O atual momento político é fantástico, torço para que o
Brasil mude e que dê tudo certo."
A cantora, que votou em Lula,
irrita-se quando questionada sobre seu polêmico apoio a Antônio
Carlos Magalhães no ano passado. "Isso é passado", diz. Comenta, no entanto, o caso da atriz Regina Duarte, também alvo de polêmica na campanha presidencial
deste ano. "As pessoas devem agir
do jeito que pensam, patrulha
ideológica é uma coisa ditatorial.
Em uma democracia, você tem
que conviver com pensamentos
diferentes e respeitar isso."
"Nunca tive uma postura militante. Durante o exílio de Caetano
e Gil, o destino fez com que eu fosse a representante do tropicalismo. Tive uma atitude política no
aspecto comportamental, não no
sentido de subir ao palco e fazer
discursos. Cheguei a apanhar na
rua devido às roupas que eu usava, que eram as mesmas dos
shows. Não tenho partido, gosto
dos bons homens, dos homens
honestos, corretos."
Quanto à sua saída da BMG, Gal
é diplomática. Diz que a solução
foi melhor para os dois lados.
"Senti uma certa preguiça deles
em investir em mim, em apoiar
idéias. Reparei que eles estavam
mais interessados em promover o
"Fama" (reality show musical da
Globo)", conclui. A saída sinalizaria um novo tipo de relação entre
artista e gravadora. "É ruim para
os grandes artistas ficarem presos
a uma gravadora, não vejo muito
sentido."
(BRUNO YUTAKA SAITO)
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