São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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ÓPERA

Diretor do musical "Moulin Rouge" leva uma versão ousada e atualizada do clássico "La Bohème" para a Broadway

Luhrmann faz Puccini para "todo mundo"

WILLIAM WRIGHT
DO "THE NEW YORK TIMES"

Puccini se orgulharia. Sua ópera de 1896, "La Bohème", é a maior excitação do momento, e não no Met ou no New York City Opera, mas na Broadway. Essa nova e ousada versão da que talvez seja a mais popular de todas as óperas foi concebida e dirigida pelo audacioso garoto prodígio australiano Baz Luhrmann, que montou espetáculo semelhante em 1990 para a Ópera de Sydney.
A descontraída "Bohème" de Luhrmann tem, como em Sydney, jovens e atraentes cantores/atores e cenários ambientados na Paris dos anos 50. A produção ostenta parte do ruidoso tumulto que marcou o tour-de-force cinematográfico "Moulin Rouge", que ele dirigiu no ano passado.
Mas os devotos de Puccini não precisam temer. A fervorosa inventividade de Luhrmann não se estendeu à música. A partitura será cantada tal qual foi escrita.
"Continuará a ser "La Bohème". Mas a ópera era o entretenimento popular de sua era. Nossa missão é levar esse trabalho de volta à grande audiência: a criança, o adulto, o gari, o rei, todo mundo."
Existe algo de muito diferente na "Bohème" de Luhrmann. Ela está sendo cantada em italiano (com legendas em inglês). A maior parte das grandes casas de ópera do mundo traduzem clássicos para o idioma local, e essa rígida adesão à autenticidade parece, para alguns, uma demonstração exagerada de respeito.
Nisso, Luhrmann é doutrinário. "O idioma é inerente e fundamental para a música. Ela não soa bem em inglês."
Uma das primeiras óperas a impressionar a Broadway foi talvez a maior de todas, "Porgy and Bess", que estreou em 1935. Os críticos reconheceram que algo de importante havia acontecido, mas o espetáculo saiu de cartaz depois de 124 deficitárias apresentações.
Embora seja possível contestar a classificação de "Porgy and Bess" como ópera, não há dúvida de que a brilhante história de horror de Gian Carlo Menotti, "The Medium", de 1947, era ópera pura e simples. E o espetáculo faria história na Broadway. O público correu para assistir e manteve o teatro lotado por seis meses.
Depois do sucesso de Menotti, os mais augustos compositores de música séria passaram a sonhar com triunfos semelhantes.
Heitor Villa-Lobos entrou na festa em 1948 com "Magdalena". Os compositores George Forest e Robert Wright escreveram uma partitura com base nas suas melodias, mas Villa-Lobos rejeitou as alterações. Wright e Forest argumentaram que haviam se saído bem com a música de Edvard Grieg em seu musical de sucesso "Song of Norway". Nada impressionado, Villa-Lobos respondeu: "Grieg está morto, mas eu estou vivo". E ainda assim, demonstrando notável gentileza, se ofereceu para escrever nova partitura.
Quando uma ópera estréia na Broadway, proclamam sempre que ela desbrava território virgem. Muitas óperas o fizeram, até mesmo as remontagens de clássicos. Agora temos a remontagem de "La Bohème" em roupagem moderna, por Baz Luhrmann.
Além da já estabelecida prestidigitação teatral de Luhrmann, a principal diferença estará no campo de batalha. Para a conquista ampla do mundo do entretenimento, os teatros da Broadway são a linha de frente.
Os fãs de ópera se referem a "Aída", "La Bohème" e "Carmen" como o ABC de sua arte predileta. Na Broadway, a primeira ópera fracassou e a terceira foi um enorme sucesso. Não seria muito esperar uma vitória por dois a um em favor da ópera. Força, Luhrmann.

Tradução Paulo Migliacci


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