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ÓPERA
Diretor do musical "Moulin Rouge" leva uma versão ousada e atualizada do clássico "La Bohème" para a Broadway
Luhrmann faz Puccini para "todo mundo"
WILLIAM WRIGHT
DO "THE NEW YORK TIMES"
Puccini se orgulharia. Sua ópera
de 1896, "La Bohème", é a maior
excitação do momento, e não no
Met ou no New York City Opera,
mas na Broadway. Essa nova e ousada versão da que talvez seja a
mais popular de todas as óperas
foi concebida e dirigida pelo audacioso garoto prodígio australiano Baz Luhrmann, que montou
espetáculo semelhante em 1990
para a Ópera de Sydney.
A descontraída "Bohème" de
Luhrmann tem, como em
Sydney, jovens e atraentes cantores/atores e cenários ambientados
na Paris dos anos 50. A produção
ostenta parte do ruidoso tumulto
que marcou o tour-de-force cinematográfico "Moulin Rouge",
que ele dirigiu no ano passado.
Mas os devotos de Puccini não
precisam temer. A fervorosa inventividade de Luhrmann não se
estendeu à música. A partitura será cantada tal qual foi escrita.
"Continuará a ser "La Bohème".
Mas a ópera era o entretenimento
popular de sua era. Nossa missão
é levar esse trabalho de volta à
grande audiência: a criança, o
adulto, o gari, o rei, todo mundo."
Existe algo de muito diferente
na "Bohème" de Luhrmann. Ela
está sendo cantada em italiano
(com legendas em inglês). A
maior parte das grandes casas de
ópera do mundo traduzem clássicos para o idioma local, e essa rígida adesão à autenticidade parece,
para alguns, uma demonstração
exagerada de respeito.
Nisso, Luhrmann é doutrinário.
"O idioma é inerente e fundamental para a música. Ela não soa
bem em inglês."
Uma das primeiras óperas a impressionar a Broadway foi talvez a
maior de todas, "Porgy and Bess",
que estreou em 1935. Os críticos
reconheceram que algo de importante havia acontecido, mas o espetáculo saiu de cartaz depois de
124 deficitárias apresentações.
Embora seja possível contestar
a classificação de "Porgy and
Bess" como ópera, não há dúvida
de que a brilhante história de horror de Gian Carlo Menotti, "The
Medium", de 1947, era ópera pura
e simples. E o espetáculo faria história na Broadway. O público correu para assistir e manteve o teatro lotado por seis meses.
Depois do sucesso de Menotti,
os mais augustos compositores de
música séria passaram a sonhar
com triunfos semelhantes.
Heitor Villa-Lobos entrou na
festa em 1948 com "Magdalena".
Os compositores George Forest e
Robert Wright escreveram uma
partitura com base nas suas melodias, mas Villa-Lobos rejeitou as
alterações. Wright e Forest argumentaram que haviam se saído
bem com a música de Edvard
Grieg em seu musical de sucesso
"Song of Norway". Nada impressionado, Villa-Lobos respondeu:
"Grieg está morto, mas eu estou
vivo". E ainda assim, demonstrando notável gentileza, se ofereceu para escrever nova partitura.
Quando uma ópera estréia na
Broadway, proclamam sempre
que ela desbrava território virgem. Muitas óperas o fizeram, até
mesmo as remontagens de clássicos. Agora temos a remontagem
de "La Bohème" em roupagem
moderna, por Baz Luhrmann.
Além da já estabelecida prestidigitação teatral de Luhrmann, a
principal diferença estará no
campo de batalha. Para a conquista ampla do mundo do entretenimento, os teatros da Broadway são a linha de frente.
Os fãs de ópera se referem a "Aída", "La Bohème" e "Carmen" como o ABC de sua arte predileta.
Na Broadway, a primeira ópera
fracassou e a terceira foi um enorme sucesso. Não seria muito esperar uma vitória por dois a um em
favor da ópera. Força, Luhrmann.
Tradução Paulo Migliacci
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