RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Popular nas grandes cidades, onde restaurantes japoneses são mais comuns que brasileiros, o saquê ainda é desconhecido da maioria. Mesmo em São Paulo, não se pode degustar mais que duas dúzias de variedades, enquanto no Japão há 16 mil tipos desta bebida fermentada do arroz. O programa "O Viajante Sedento: Japão" é uma boa introdução ao tema. O entusiasmado apresentador começa sua "viagem" por Tóquio, lembrando que o saquê é anterior à construção de Roma. Em visita a um especialista, aprendemos que há saquês para todos os gostos, mas o que salta aos olhos de clientes acostumados a beber no desajeitado copo quadrado é a maneira como ele é utilizado do outro lado do mundo: como suporte para uma pequena taça de vidro, onde a "bebida dos deuses" deve de fato ser apreciada. É na antiga capital nipônica, Kioto, que o processo de fabricação da bebida é revelado. Nas instalações da Gekkeikan, fábrica tradicional comandada pela mesma família há 13 gerações, acompanhamos do polimento do arroz à filtração da bebida. Quando a massa grudenta se transforma no líquido puro e transparente, uma sensação de magia paira no ar. De brinde, o programa permite acompanhar a aventura do viajante-apresentador por quartos encapsulados, um trem-bala, templos xintoístas e uma típica casa japonesa, onde se prepara uma refeição à base da bebida. Neste ponto, surge uma (controversa) comparação com o vinho, citado em outros trechos: enquanto este deve enaltecer o sabor dos pratos ocidentais, é a comida japonesa que cumpre este papel, destacando as qualidades de um bom saquê. Embora aspectos como as lendas sobre a bebida não sejam nem mencionados, o programa tem o mérito de despertar a curiosidade sobre o saquê, além de entreter com bom humor.