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CINEMA - ATRAVÉS DA JANELA
Tata Amaral filma desgoverno do desejo
da Equipe de Articulistas
À primeira vista, "Através da Janela" contrasta com o primeiro
longa de Tata Amaral, o contundente "Um Céu de Estrelas".
Em vez do "huis clos" desesperado do filme anterior, em que
uma câmera alucinada perscrutava o som e a fúria de um jovem casal em guerra, entra em cena o
drama de uma aposentada de
classe média (Laura Cardoso),
que começa a perder o controle
sobre o filho de 24 anos (Fransérgio Araujo) e mais, sobre seus
sentimentos com relação a ele.
No novo filme, tudo é compassado. Cenas e ambientes se repetem -o café da manhã de mãe e
filho, as conversas com a vizinha,
as compras no supermercado.
À medida que o mundo físico
perde firmeza, o filho também se
mostra cada vez mais fugidio.
Não é mais o menino ao alcance
do afago: é um enigma que a mãe
não consegue mais decifrar a partir dos poucos fragmentos de informação de que dispõe. Uma namorada? Más companhias? O que
estará tirando o belo Raí debaixo
da asa da mamãe?
À diferença de "Um Céu de Estrelas", em que o sexo e a violência
explodiam na cara do espectador,
aqui esses dois elementos são
mantidos em surdina -mas seu
poder não diminuiu.
Com garra e competência, Tata
Amaral dá uma cara brasileira e
contemporânea a esse desgoverno dos sentidos.
Contando praticamente com a
mesma equipe de "Um Céu de Estrelas", ela leva adiante seu projeto de cinema como forma de conhecimento do homem.
E sobretudo da mulher: como
no filme anterior, Tata se revela
aqui uma grande diretora de atrizes. Se Leona Cavalli brilhava em
"Um Céu de Estrelas", em "Através da Janela" é a vez de Laura
Cardoso exibir uma das atuações
mais marcantes do cinema recente.
(JGC)
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