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"NEVER DREAM OF DYING"
Raymond Benson lança seu terceiro livro da série
Ataque a Festival de Cannes
encerra trilogia de 007
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
"Um golpe maiúsculo contra o Ocidente. Um ataque terrorista chocante, de fazer
história. Assinado: "Lé Gerant"." O
alvo? O Festival de Cannes.
É este o clímax do recém-lançado "Never Dream of Dying"
(Nunca Sonhe Morrer), nova
aventura literária de James Bond,
escrita por Raymond Benson, sucessor de Ian Fleming. Por trás da
ofensiva antiocidental não está
um fundamentalista islâmico,
mas outro vilão da estirpe do doutor No, o japonês Gore Yoshida.
Quando o fim da Guerra Fria
parecia condenar Bond ao baú
dos heróis ultrapassados, eis que
os ataques terroristas de 11 de setembro revelam um mundo como nunca "fleminguiano". Muito
antes dos "armageddons" fílmicos de Jerry Bruckheimer, Goldfinger ensinara o poder do ataque
simbólico ao voltar-se contra o
forte Knox. Os assassinos de carne e osso foram ainda mais macabros e ambiciosos, alvejando o
World Trade Center e o Pentágono em plena manhã de terça-feira.
Não há, no mundo concreto, nenhum 007 a combatê-los.
"Never Dream of Dying" põe
Bond em ação nos bastidores do
cinema internacional. A trama
acontece durante as filmagens de
uma superprodução na França. O
grande ataque da Union -máfia
do crime globalizado que sucede a
Spectre de Fleming- visa explodir uma bomba durante uma projeção black-tie no Palácio dos Festivais da Croisette.
Quem diria que Gilles Jacob, o
veterano presidente do festival,
acabaria nas páginas de uma
aventura de Bond? E não está só.
O príncipe Edward da Inglaterra e
a princesa Carolina de Mônaco
estão entre as celebridades emprestadas do mundo real para catalisar a dramaticidade da tradicional cena apocalíptica final.
Em seu terceiro embate contra
Bond, o líder da Union, "Lé Gerant" (o gerente), tem sua identidade revelada e sai de cena. Mas o
"perigo amarelo" renasce sob a liderança de Yoshida, coadjuvante
pronto para tornar-se protagonista do próximo volume, "The Man
with the Red Tattoo".
Benson busca combinar o glamour do cinema com uma revisita a Flemming. Para tanto, estabelece laços entre sua Union e a antiga Union Corse, liderada pelo fugaz Marc-Ange Draco, vindo das
páginas de "A Serviço Secreto de
Sua Majestade". Da mesma forma, o escritor faz Bond aliar-se ao
velho camarada René Mathis, um
mero coadjuvante em "Moscou
contra 007".
Mas é preciso muito mais que
resgatar personagens esquecidos
para manter viva a mitologia de
007. O fim da trilogia é o mais superficial e melodramático das cinco tramas de 007 de Benson.
Faça-se justiça, porém, à rara
força da sequência de tortura. A
cegueira de "Lé Gerant" torna-o
obcecado por olhos. Todo membro da Union tem gravada sua fidelidade na própria retina. Não
surpreende, assim, que a vingança predileta do vilão eleja como
carrasco um oftalmologista. Sessões diárias de raio laser cegam
progressivamente seus principais
inimigos. Mathis volta à "bondland" para conhecer o sádico
método. São de longe as páginas
mais envolventes do livro.
A trilogia da Union termina antes que qualquer de seus volumes
ganhe edição brasileira. Tampouco há editor à vista. O último livro
de Bond a sair por aqui foi a versão de "O Mundo Não É o Bastante" (L&PM, 1999). É também o
único dos volumes escritos por
Benson em nosso mercado.
O ritmo frenético do autor, de
um livro novo por ano, parece
prejudicar sua produção. Tudo
desandou depois das duas promissoras aventuras iniciais, "Zero
Minus Ten" (1997), passada em
Hong Kong, e "The Facts of
Death" (1998), no Chipre.
Benson livra-se agora do espectro da Union, mas enfrenta outro
muito mais ardiloso, pois real: o
de organizações terroristas como
a Al-Qaeda. A concorrência agora
não vem dos antigos clássicos,
mas das páginas dos jornais.
Never Dream of Dying
Autor: Raymond Benson
Editora: Putnam Pub Group
Quanto: US$ 17 (272 págs.)
Onde: www.amazon.com
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