São Paulo, segunda-feira, 14 de janeiro de 2002

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"NEVER DREAM OF DYING"

Raymond Benson lança seu terceiro livro da série

Ataque a Festival de Cannes encerra trilogia de 007

AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA

"Um golpe maiúsculo contra o Ocidente. Um ataque terrorista chocante, de fazer história. Assinado: "Lé Gerant"." O alvo? O Festival de Cannes.
É este o clímax do recém-lançado "Never Dream of Dying" (Nunca Sonhe Morrer), nova aventura literária de James Bond, escrita por Raymond Benson, sucessor de Ian Fleming. Por trás da ofensiva antiocidental não está um fundamentalista islâmico, mas outro vilão da estirpe do doutor No, o japonês Gore Yoshida.
Quando o fim da Guerra Fria parecia condenar Bond ao baú dos heróis ultrapassados, eis que os ataques terroristas de 11 de setembro revelam um mundo como nunca "fleminguiano". Muito antes dos "armageddons" fílmicos de Jerry Bruckheimer, Goldfinger ensinara o poder do ataque simbólico ao voltar-se contra o forte Knox. Os assassinos de carne e osso foram ainda mais macabros e ambiciosos, alvejando o World Trade Center e o Pentágono em plena manhã de terça-feira. Não há, no mundo concreto, nenhum 007 a combatê-los.
"Never Dream of Dying" põe Bond em ação nos bastidores do cinema internacional. A trama acontece durante as filmagens de uma superprodução na França. O grande ataque da Union -máfia do crime globalizado que sucede a Spectre de Fleming- visa explodir uma bomba durante uma projeção black-tie no Palácio dos Festivais da Croisette.
Quem diria que Gilles Jacob, o veterano presidente do festival, acabaria nas páginas de uma aventura de Bond? E não está só. O príncipe Edward da Inglaterra e a princesa Carolina de Mônaco estão entre as celebridades emprestadas do mundo real para catalisar a dramaticidade da tradicional cena apocalíptica final.
Em seu terceiro embate contra Bond, o líder da Union, "Lé Gerant" (o gerente), tem sua identidade revelada e sai de cena. Mas o "perigo amarelo" renasce sob a liderança de Yoshida, coadjuvante pronto para tornar-se protagonista do próximo volume, "The Man with the Red Tattoo".
Benson busca combinar o glamour do cinema com uma revisita a Flemming. Para tanto, estabelece laços entre sua Union e a antiga Union Corse, liderada pelo fugaz Marc-Ange Draco, vindo das páginas de "A Serviço Secreto de Sua Majestade". Da mesma forma, o escritor faz Bond aliar-se ao velho camarada René Mathis, um mero coadjuvante em "Moscou contra 007".
Mas é preciso muito mais que resgatar personagens esquecidos para manter viva a mitologia de 007. O fim da trilogia é o mais superficial e melodramático das cinco tramas de 007 de Benson.
Faça-se justiça, porém, à rara força da sequência de tortura. A cegueira de "Lé Gerant" torna-o obcecado por olhos. Todo membro da Union tem gravada sua fidelidade na própria retina. Não surpreende, assim, que a vingança predileta do vilão eleja como carrasco um oftalmologista. Sessões diárias de raio laser cegam progressivamente seus principais inimigos. Mathis volta à "bondland" para conhecer o sádico método. São de longe as páginas mais envolventes do livro.
A trilogia da Union termina antes que qualquer de seus volumes ganhe edição brasileira. Tampouco há editor à vista. O último livro de Bond a sair por aqui foi a versão de "O Mundo Não É o Bastante" (L&PM, 1999). É também o único dos volumes escritos por Benson em nosso mercado.
O ritmo frenético do autor, de um livro novo por ano, parece prejudicar sua produção. Tudo desandou depois das duas promissoras aventuras iniciais, "Zero Minus Ten" (1997), passada em Hong Kong, e "The Facts of Death" (1998), no Chipre.
Benson livra-se agora do espectro da Union, mas enfrenta outro muito mais ardiloso, pois real: o de organizações terroristas como a Al-Qaeda. A concorrência agora não vem dos antigos clássicos, mas das páginas dos jornais.


Never Dream of Dying   
Autor: Raymond Benson
Editora: Putnam Pub Group
Quanto: US$ 17 (272 págs.)

Onde: www.amazon.com




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