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ANÁLISE
"BBB 3" tem até miss da era do silicone
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
Na era Lula da Silva, o "Big
Brother Brasil 3", que estréia
hoje na Globo, copia o modelo
"Casa-Grande & Senzala". Com
quarto dos ricos e quarto dos pobres. Mas para subir na vida lá
dentro, basta ser mais idiota do
que próximo. Nem o corpinho carece usar tanto. País esquisito esse, onde a sacanagem corre solta
nas ruas e impera o maior respeito nos "reality shows" -ao contrário das geladas nações distantes dos tristes trópicos.
Nos contentamos com a espontaneidade do autêntico capiau
brasileiro. É o triunfo tardio do Jeca Tatu, como ensaiam os nossos
estudiosos ainda matriculados
em Frankfurt. E voyeurismo que é
bom, quase nada. Só conversa fiada, de qualidade inferior à prosa
do boteco, da padaria...
Na última quinta-feira, a Globo
apresentou um especial com os
personagens da vez. Com uma
brecha interativa para que o público escolhesse dois dos 14. E
chega de democracia. Essa coisa
do "povo" ficar escolhendo tudo,
a toda hora, pode dar em rebuliço,
como diria o poeta-político do filme "Terra em Transe".
Na pátria das modelos/atrizes, a
novidade entre os escolhidos da
Globo é uma miss -"você é eternamente responsável por aquilo
que cativa", avisa o Pequeno Príncipe, com voz de Pedro Bial. Uma
miss gaúcha, Joseane, dos tempos
em que as polegadas a menos,
saudosa Marta Rocha, são corrigidas na base do bisturi e do balde
de silicone.
O "BBB 3" recebeu 110 mil fitas
de candidatos a famosos do exército de reserva brasileiro. Todo
mundo quer os R$ 500 mil, sair na
"Playboy" ou "G", ir ao Faustão,
Ilha de Caras, fazer bailes de debutantes... até saborear de novo o
fatal jiló do esquecimento.
Essas profissões modernas, que
nossas mães não entendem bem
ainda para que servem, também
foram recrutadas pela produção:
tem um massoterapeuta e um DJ.
Todo mundo saudável, sarado,
que essa história de invadir a vida
privada das palafitas de Brasília
Teimosa (Recife) ou dos miseráveis do Vale do Jequitinhonha
(MG) tem perturbado o jantar na
hora do "Jornal Nacional".
Com o naturalismo da novela
global em crise, que soltem os
anônimos na arena. Viva o circo.
BIG BROTHER BRASIL 3. Quando: seg. a
sáb.: 21h55 e dom.: 22h50 na Globo (o
horário está sujeito a mudanças).
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