São Paulo, segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

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Nova Orleans terá sua 1ª bienal

Devastada pelo furacão Katrina em 2005, cidade norte-americana será a sede da exposição "Prospect.1" em novembro

Em entrevista, o curador Dan Cameron fala sobre os motivos que o levaram a criar a exposição e revela os brasileiros que estarão lá

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um universo de mais de cem bienais pelo mundo -há quem diga que já são mais de 200-, a mais nova delas, "Prospect.1", que será realizada em Nova Orleans, no sul dos EUA, tem uma das mais ambiciosas missões: ajudar na reconstrução da cidade, devastada pelo furacão Katrina, em 2005.
O idealizador de "Prospect.1" é o norte-americano Dan Cameron, que há anos mantém forte vínculo com a arte brasileira. Em 1998, ele foi um dos jurados do projeto Antarctica Artes com a Folha e, em 1999, responsável pela retrospectiva de Cildo Meireles, no New Museum de Nova York, instituição em que era o curador.
Graças a essas relações, Cameron já selecionou três brasileiros para a nova bienal: Beatriz Milhazes, José Damasceno e Rosângela Rennó. A lista final será divulgada apenas em março, sendo que a mostra terá abertura no dia 1º de novembro. Antes de "Prospect.1", Cameron é curador de "Something from Nothing", exposição que reúne em Nova Orleans outros dois brasileiros: Jarbas Lopes e Henrique Oliveira.
"A primeira vez que fui a Nova Orleans foi em 1987 e me apaixonei pela comida, pela música, pela arquitetura e, especialmente, pela atmosfera.
Já estive lá 14 ou 15 vezes e, estranhamente, por conta do Katrina, estou alcançando um sonho secreto: fazer com que o mundo da arte olhe para o tesouro que é esta cidade", contou Cameron por e-mail, à Folha. Leia trechos da entrevista:  

FOLHA - "Prospect.1" é a primeira bienal com um objetivo social claro. Qual a diferença entre organizá-la em comparação com outras com as quais já esteve envolvido?
DAN CAMERON
- A principal diferença é que não fui convidado ou contratado por ninguém para realizar "Prospect.1", pois comecei isso tudo por minha própria iniciativa, após ver como estava a cidade, meses depois do Katrina. Adoro Nova Orleans e fiquei aterrorizado ao ver como ela havia sido afetada pelo furacão. A bienal, então, se tornou uma forma de repensar a identidade artística da cidade, dando à comunidade da arte contemporânea uma entrada e uma conexão com ela.

FOLHA - Os EUA possuem o sistema de museus e galerias mais poderoso do mundo. Por que nunca houve uma bienal importante aí?
CAMERON
- Creio que a ausência de uma bienal internacional tem muito a ver com a forma curiosa como o mundo artístico norte-americano foi configurado durante a Guerra Fria. Parece que nós desenvolvemos apenas uma mentalidade de exportação, nos anos 50 e 60, enquanto as bienais estrangeiras, de certa maneira, reagiam contra a crescente hegemonia americana. Sigmar Polke ou George Baselitz, por exemplo, só se tornaram conhecidos aqui no final dos anos 80!

FOLHA - Katrina revelou a ausência de reação governamental a uma catástrofe, provocando muitas críticas. Na organização há uma preocupação com a questão política?
CAMERON
- Sim e não. As pessoas têm perguntado se esta é uma bienal política e eu tenho dito que não. Mas, no meio de toda a conversa sobre como a administração Bush foi péssima no salvamento e nos esforços de recuperação e como ainda segue a ausência de atenção às pessoas de Nova Orleans, eu não gostaria que se visse esse projeto como histórico ou de história da arte. Nova Orleans possui um padrão incrível em relação à cultura internacional, e isso merece ser reconhecido.
Ainda mais importante é que ela tem uma arquitetura dos séculos 18 e 19 incríveis, e estou fazendo o máximo esforço para mostrar quão bela é a cidade.

FOLHA - Mas o Katrina também revelou um país escondido, especialmente a pobreza dos cidadãos afro-americanos. Esta questão social estará presente na mostra?
CAMERON
- Não estou predeterminando como os artistas devem pensar a temática da mostra, mas estou tentando ter a consciência do quão importante é para Nova Orleans a cultura e a história dos afro-americanos e como isso, por extensão, nos dá vínculos vitais com o resto do mundo.

FOLHA - E quais os critérios para a seleção de artistas?
CAMERON
- Porque é a primeira vez e eu quero que os envolvimentos sejam rápidos, estou trabalhando com muitos artistas com os quais já trabalhei ou tenho relações de longo tempo. Haverá também muitas caras novas e alguns com quem trabalho pela primeira vez, mas quero que haja um certo grau de reconhecimento quando as pessoas verem a lista final.

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