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Nova Orleans terá sua 1ª bienal
Devastada pelo furacão Katrina em 2005, cidade norte-americana será a sede da exposição "Prospect.1" em novembro
Em entrevista, o curador Dan Cameron fala sobre os motivos que o levaram a criar a exposição e revela os brasileiros que estarão lá
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um universo de mais de
cem bienais pelo mundo -há
quem diga que já são mais de
200-, a mais nova delas, "Prospect.1", que será realizada em
Nova Orleans, no sul dos EUA,
tem uma das mais ambiciosas
missões: ajudar na reconstrução da cidade, devastada pelo
furacão Katrina, em 2005.
O idealizador de "Prospect.1"
é o norte-americano Dan Cameron, que há anos mantém
forte vínculo com a arte brasileira. Em 1998, ele foi um dos
jurados do projeto Antarctica
Artes com a Folha e, em 1999,
responsável pela retrospectiva
de Cildo Meireles, no New Museum de Nova York, instituição
em que era o curador.
Graças a essas relações, Cameron já selecionou três brasileiros para a nova bienal: Beatriz Milhazes, José Damasceno e Rosângela Rennó. A lista final
será divulgada apenas em março, sendo que a mostra terá
abertura no dia 1º de novembro. Antes de "Prospect.1", Cameron é curador de "Something from Nothing", exposição que reúne em Nova Orleans outros dois brasileiros: Jarbas Lopes e Henrique Oliveira.
"A primeira vez que fui a Nova Orleans foi em 1987 e me
apaixonei pela comida, pela
música, pela arquitetura e, especialmente, pela atmosfera.
Já estive lá 14 ou 15 vezes e, estranhamente, por conta do Katrina, estou alcançando um sonho secreto: fazer com que o mundo da arte olhe para o tesouro que é esta cidade", contou Cameron por e-mail, à Folha. Leia trechos da entrevista:
FOLHA - "Prospect.1" é a primeira
bienal com um objetivo social claro.
Qual a diferença entre organizá-la
em comparação com outras com as
quais já esteve envolvido?
DAN CAMERON - A principal diferença é que não fui convidado
ou contratado por ninguém para realizar "Prospect.1", pois
comecei isso tudo por minha
própria iniciativa, após ver como estava a cidade, meses depois do Katrina. Adoro Nova
Orleans e fiquei aterrorizado ao
ver como ela havia sido afetada
pelo furacão. A bienal, então, se
tornou uma forma de repensar
a identidade artística da cidade,
dando à comunidade da arte
contemporânea uma entrada e
uma conexão com ela.
FOLHA - Os EUA possuem o sistema de museus e galerias mais poderoso do mundo. Por que nunca houve uma bienal importante aí?
CAMERON - Creio que a ausência de uma bienal internacional
tem muito a ver com a forma
curiosa como o mundo artístico
norte-americano foi configurado durante a Guerra Fria. Parece que nós desenvolvemos apenas uma mentalidade de exportação, nos anos 50 e 60, enquanto as bienais estrangeiras,
de certa maneira, reagiam contra a crescente hegemonia
americana. Sigmar Polke ou
George Baselitz, por exemplo,
só se tornaram conhecidos aqui
no final dos anos 80!
FOLHA - Katrina revelou a ausência
de reação governamental a uma catástrofe, provocando muitas críticas. Na organização há uma preocupação com a questão política?
CAMERON - Sim e não. As pessoas têm perguntado se esta é
uma bienal política e eu tenho
dito que não. Mas, no meio de
toda a conversa sobre como a
administração Bush foi péssima no salvamento e nos esforços de recuperação e como ainda segue a ausência de atenção às pessoas de Nova Orleans, eu
não gostaria que se visse esse
projeto como histórico ou de
história da arte. Nova Orleans
possui um padrão incrível em
relação à cultura internacional,
e isso merece ser reconhecido.
Ainda mais importante é que
ela tem uma arquitetura dos séculos 18 e 19 incríveis, e estou
fazendo o máximo esforço para
mostrar quão bela é a cidade.
FOLHA - Mas o Katrina também revelou um país escondido, especialmente a pobreza dos cidadãos afro-americanos. Esta questão social estará presente na mostra?
CAMERON - Não estou predeterminando como os artistas devem pensar a temática da mostra, mas estou tentando ter a
consciência do quão importante é para Nova Orleans a cultura e a história dos afro-americanos e como isso, por extensão, nos dá vínculos vitais com
o resto do mundo.
FOLHA - E quais os critérios para a
seleção de artistas?
CAMERON - Porque é a primeira
vez e eu quero que os envolvimentos sejam rápidos, estou
trabalhando com muitos artistas com os quais já trabalhei ou
tenho relações de longo tempo.
Haverá também muitas caras
novas e alguns com quem trabalho pela primeira vez, mas
quero que haja um certo grau
de reconhecimento quando as
pessoas verem a lista final.
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