São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2000


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VÍDEO LANÇAMENTOS
"Três É Demais" está fadado a virar 'cult'

ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha


Você certamente não viu "Rushmore" quando estreou nos cinemas brasileiros, há alguns meses. Pudera: o filme ficou uma semana em cartaz, prejudicado por um título péssimo, "Três é Demais", que tentava vendê-lo como comédia romântica. Há, de fato, um triângulo amoroso na história, mas reduzir um filme desses a uma besteirinha de "sitcom" é uma burrice danada. Trata-se de uma das melhores comédias dos últimos anos, que agora ganha uma nova chance em vídeo. É bom aproveitar.
"Três é Demais" conta a história de Max Fischer (o ótimo Jason Schwartzman, sobrinho de Francis Ford Coppola), um dos alunos mais destacados de uma tradicional escola americana. Max não se destaca por seus méritos escolásticos (é um dos piores alunos da escola), mas por sua dedicação a todas as atividades paralelas ao currículo: é presidente do clube de apicultura, do time de esgrima, da equipe de luta livre etc.
Dois encontros mudam a vida do rapaz: o primeiro com a linda Rosemary Cross (Olivia Williams), uma professora primária por quem ele se apaixona, e o segundo com Herman Blume (Bill Murray), um milionário entediado. Blume simpatiza com Max, talvez vendo na disposição ímpar do garoto um antídoto à monotonia de sua própria vida. O ricaço também se apaixona pela professora daí o triângulo romântico do título. Mas o mais importante é mesmo a amizade dele com Max.
"Três é Demais" lembra muito um filme cultuado de Hal Ashby, "Ensina-me a Viver" ("Harold and Maude", 1972), não só pelo relacionamento entre pessoas de idades díspares quanto pela excentricidade simpática dos personagens. Ashby tinha o dom de criar personagens inesquecíveis, e o diretor de "Três é Demais", o jovem americano Wes Anderson, vai pelo mesmo caminho: seu Max Fischer é uma grande criação, um fracassado simpático, um sonhador obstinado e ingênuo que parece totalmente fora de moda nesta época tão cética e problemática. E o que dizer do Herman Blume interpretado por Bill Murray? O que Murray faz neste filme é coisa de gênio. Não é de hoje que ele é um dos maiores atores cômicos do mundo, um sujeito tão talentoso quanto mal aproveitado. Culpa dele mesmo, que tem um tino péssimo para escolher papéis e acaba sempre desperdiçando sua graça em filmes de terceira. Mas quando ele acha um papel à altura, como o travesti de "Ed Wood", por exemplo, sai de baixo. E em Herman Blume, Bill Murray encontrou o melhor personagem de sua carreira.
O resto do elenco também está fantástico: Seymour Cassell, ator predileto de John Cassavetes, interpreta o pai de Max, um barbeiro pobre; Brian Cox ("Em Nome do Pai") faz o diretor da escola, que sofre horrores com a excentricidade de seu aluno.
"Três é Demais" é um filme fadado a virar "cult". Não fez grande sucesso de bilheteria nos EUA, e nem poderia, já que é uma comédia "estranha", leia-se original -e o grande público não aprecia coisas que fogem muito do normal. Mas quem assiste nunca esquece.


Avaliação:    


Lançamento: Três É Demais Título original: Rushmore Produção: EUA, 1998 Distruibuidora: Buena Vista

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