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VÍDEO LANÇAMENTOS
"Três É Demais" está fadado a virar 'cult'
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha
Você certamente
não viu "Rushmore" quando estreou
nos cinemas brasileiros, há alguns
meses. Pudera: o
filme ficou uma semana em cartaz, prejudicado por um título
péssimo, "Três é Demais", que
tentava vendê-lo como comédia
romântica. Há, de fato, um triângulo amoroso na história, mas reduzir um filme desses a uma besteirinha de "sitcom" é uma burrice danada. Trata-se de uma das
melhores comédias dos últimos
anos, que agora ganha uma nova
chance em vídeo. É bom aproveitar.
"Três é Demais" conta a história
de Max Fischer (o ótimo Jason
Schwartzman, sobrinho de Francis Ford Coppola), um dos alunos
mais destacados de uma tradicional escola americana. Max não se
destaca por seus méritos escolásticos (é um dos piores alunos da
escola), mas por sua dedicação a
todas as atividades paralelas ao
currículo: é presidente do clube
de apicultura, do time de esgrima,
da equipe de luta livre etc.
Dois encontros mudam a vida
do rapaz: o primeiro com a linda
Rosemary Cross (Olivia Williams), uma professora primária
por quem ele se apaixona, e o segundo com Herman Blume (Bill
Murray), um milionário entediado. Blume simpatiza com Max,
talvez vendo na disposição ímpar
do garoto um antídoto à monotonia de sua própria vida. O ricaço
também se apaixona pela professora daí o triângulo romântico do
título. Mas o mais importante é
mesmo a amizade dele com Max.
"Três é Demais" lembra muito
um filme cultuado de Hal Ashby,
"Ensina-me a Viver" ("Harold
and Maude", 1972), não só pelo
relacionamento entre pessoas de
idades díspares quanto pela excentricidade simpática dos personagens. Ashby tinha o dom de
criar personagens inesquecíveis, e
o diretor de "Três é Demais", o jovem americano Wes Anderson,
vai pelo mesmo caminho: seu
Max Fischer é uma grande criação, um fracassado simpático, um
sonhador obstinado e ingênuo
que parece totalmente fora de
moda nesta época tão cética e
problemática. E o que dizer do
Herman Blume interpretado por
Bill Murray? O que Murray faz
neste filme é coisa de gênio. Não é
de hoje que ele é um dos maiores
atores cômicos do mundo, um
sujeito tão talentoso quanto mal
aproveitado. Culpa dele mesmo,
que tem um tino péssimo para escolher papéis e acaba sempre desperdiçando sua graça em filmes
de terceira. Mas quando ele acha
um papel à altura, como o travesti
de "Ed Wood", por exemplo, sai
de baixo. E em Herman Blume,
Bill Murray encontrou o melhor
personagem de sua carreira.
O resto do elenco também está
fantástico: Seymour Cassell, ator
predileto de John Cassavetes, interpreta o pai de Max, um barbeiro pobre; Brian Cox ("Em Nome
do Pai") faz o diretor da escola,
que sofre horrores com a excentricidade de seu aluno.
"Três é Demais" é um filme fadado a virar "cult". Não fez grande sucesso de bilheteria nos EUA,
e nem poderia, já que é uma comédia "estranha", leia-se original
-e o grande público não aprecia
coisas que fogem muito do normal. Mas quem assiste nunca esquece.
Avaliação:
Lançamento: Três É Demais
Título original: Rushmore
Produção: EUA, 1998
Distruibuidora: Buena Vista
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