São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2000


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Cartunista morre antes de ver publicada sua última tira, que saiu ontem em 2.600 jornais de todo o mundo
Snoopy vive um dia mais que o criador

Associated Press
O cartunista Charles Schulz, morto anteontem, aos 77, mostra desenho de Snoopy, em seu estúdio na Califórnia, em foto de 1997



de Nova York

O cartunista Charles Schulz, criador de Charlie Brown, Snoopy e Woodstock, morreu no sábado, aos 77 anos, enquanto dormia em sua casa na Califórnia, na costa oeste dos EUA, um dia antes de seus quadrinhos de despedida serem publicados nos jornais norte-americanos (veja a última tira nesta página).
Schulz nasceu em St. Paul, Minnesota (norte dos EUA), no dia 26 de novembro de 1922. Sua fascinação pelos quadrinhos começou cedo, quando, com seu pai, lia os suplementos dominicais coloridos de quatro diferentes jornais. Incentivado pelos pais, fez um curso por correspondência, das que são hoje as Escolas de Instrução em Artes, em Minneapolis.
Schulz descobriu que tinha câncer de cólon em novembro passado. Na ocasião, ele anunciou que abandonaria os quadrinhos. Em sua última tira, publicada ontem, ele escreveu: "Eu tive a sorte de desenhar Charlie Brown e seus amigos por quase 50 anos. Isso tem sido a realização dos meus sonhos de infância. Infelizmente, eu não tenho mais condições de manter a programação necessária para uma tira diária. Minha família não quer que "Peanuts" (título da turma de personagens de Schulz) seja continuada por ninguém mais e, por isso, estou anunciando a minha aposentadoria." Os últimos quadrinhos diários de Schulz haviam sido publicados no último dia 3 de janeiro.
Em 1950, depois de muitas recusas, tomou um trem para Nova York e teve uma reunião com o United Feature Syndicate, que o contratou. Batizada como "Peanuts", contra sua vontade, a tira diária estreou no dia 2 de outubro daquele ano, em sete jornais.
As histórias com o cachorro Snoopy, o angustiado Charlie Brown, o passarinho Woodstock e a espevitada Lucy, além do pianista prodígio Schroeder, no entanto, só começaram a ganhar atenção na década de 60.
Seus personagens eram crianças com vocabulário e uma forma de tratar os problemas próprios de adultos, numa época de crescimento social e muita agitação política. Schulz dizia que só queria divertir e mostrar aos adultos o quanto era difícil para uma criança crescer. "Ser criança não é fácil. Ir para a escola todo dia não é fácil. A maioria dos adultos se esquece dessas lutas e ignora os pequenos problemas que as crianças têm", afirmou uma vez.
Seus primeiros prêmios vieram 15 anos depois de sua primeira tira ser publicada. Ele ganhou duas vezes, em 55 e em 64, o prêmio Reuben da Sociedade Nacional dos Cartunistas dos EUA, o mais importante do ramo no país. Em 78, foi apontado o Cartunista Internacional do Ano no Canadá.
Os especiais de TV com os personagens de Peanuts ganharam vários Emmy, o prêmio máximo da televisão norte-americana.
Suas tiras ganharam as páginas de jornais e revistas do mundo inteiro e se tornaram as mais distribuídas de toda a história, com aparições em 2.600 jornais e em 21 línguas. Estima-se que tenham tido um público de 335 milhões de leitores.
Em 96, a revista Forbes estimou seus rendimentos em US$ 33 milhões, o que fazia dele um dos artistas mais bem remunerados do ramo. (MALU GASPAR)


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