|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Ciclo contém sete longas-metragens do cineasta francês, como "Hiroshima, Meu Amor" e "Meu Tio da América"
Sala Cinemateca exibe o cinema inquieto de Resnais
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Faltou um filme central, "O
Ano Passado em Marienbad", mas ainda assim o ciclo "Sete Vezes Resnais", que a Sala Cinemateca exibe a partir de amanhã, é uma excelente oportunidade para conhecer ou reavaliar a
obra de um dos cineastas mais inquietos e originais da segunda
metade do século 20.
Companheiro de geração da
nouvelle vague, o francês Alain
Resnais, 82, nunca fez propriamente parte do grupo. Suas experiências e inovações correram paralelamente às do movimento de
Godard e Truffaut.
Depois de uma série de documentários sobre arte e dos notáveis curtas "Noite e Nevoeiro"
(sobre os campos nazistas) e "Toda a Memória do Mundo" (sobre
a Biblioteca Nacional de Paris),
Resnais estreou no longa-metragem com uma obra de raro impacto, "Hiroshima, Meu Amor"
(1959).
Com roteiro e diálogos da escritora Marguerite Duras, o filme
contava de modo descontínuo o
esgarçado romance entre uma
francesa (Emmanuelle Riva) e um
japonês (Eiji Okada) marcados
pelo horror da guerra.
Imagens documentais associadas ao texto musical de Duras,
flashbacks brutais contrapostos a
travellings elegantes pelas ruas do
Japão moderno, personagens que
dialogam de costas um para o outro, olhando para fora do quadro,
solidão e balbúrdia, silêncio e caos
-tudo isso orquestrado com perícia e segurança por Resnais.
Uma revolução estética que muita
gente comparou à de "Cidadão
Kane".
A estrutura fragmentada, a mistura de gêneros, o equilíbrio entre
ensaio e poesia voltariam em filmes posteriores, como "Meu Tio
da América" (1980), "Providence"
(1976) e "A Vida É um Romance"
(1983), os dois últimos ausentes
da mostra.
Experimentação
Mas, mesmo em seus filmes
mais estritamente narrativos e
realistas, como "A Guerra Acabou" (1966) e "Quero Ir para Casa" (1989), a experimentação com
a linguagem é a marca da colaboração de Resnais com os escritores-roteiristas a quem invariavelmente recorre.
Em "A Guerra Acabou", com
roteiro do espanhol Jorge Semprun, o diretor embaralha flashbacks e flashforwards para contar
de um ponto de vista subjetivo o
embate de um militante clandestino (Yves Montand) contra a ditadura franquista.
"Quero Ir para Casa", por sua
vez, serve-se de roteiro do escritor
e desenhista Jules Feiffer para
contar, pela ótica das histórias em
quadrinhos, a tragicomédia de
um cartunista norte-americano
perdido na França.
"Smoking" e "No Smoking"
(1993), baseados em peça de Alan
Ayckbourn, compõem outro experimento singular: os dois longas, conjugados, brincam com as
possibilidades do acaso, ao mostrar as múltiplas variantes que
uma vida pode seguir a partir de
determinadas escolhas.
Acervo inesgotável de idéias e
experiências, nem todas bem-sucedidas, os filmes de Resnais merecem ser vistos como um antídoto ao cinema acomodado e exangue que impera hoje dos dois lados do Atlântico.
SETE VEZES RESNAIS. Mostra que
reúne sete longas-metragens do
cineasta francês Alain Resnais. Onde:
Sala Cinemateca (lgo. Senador Raul
Cardoso, 207, Vila Clementino, região
sul, São Paulo, tel. 0/xx/11/5084-2177).
Quando: de amanhã a 27 de fevereiro.
Quanto: R$ 8 (grátis para estudantes do
ensino fundamental e médio de escolas
públicas).
Texto Anterior: Fãs "seguem" dupla pelo mundo Próximo Texto: Erudito: Concurso da Osesp termina sem vencedor Índice
|