São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

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CINEMA

Ciclo contém sete longas-metragens do cineasta francês, como "Hiroshima, Meu Amor" e "Meu Tio da América"

Sala Cinemateca exibe o cinema inquieto de Resnais

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Faltou um filme central, "O Ano Passado em Marienbad", mas ainda assim o ciclo "Sete Vezes Resnais", que a Sala Cinemateca exibe a partir de amanhã, é uma excelente oportunidade para conhecer ou reavaliar a obra de um dos cineastas mais inquietos e originais da segunda metade do século 20.
Companheiro de geração da nouvelle vague, o francês Alain Resnais, 82, nunca fez propriamente parte do grupo. Suas experiências e inovações correram paralelamente às do movimento de Godard e Truffaut.
Depois de uma série de documentários sobre arte e dos notáveis curtas "Noite e Nevoeiro" (sobre os campos nazistas) e "Toda a Memória do Mundo" (sobre a Biblioteca Nacional de Paris), Resnais estreou no longa-metragem com uma obra de raro impacto, "Hiroshima, Meu Amor" (1959).
Com roteiro e diálogos da escritora Marguerite Duras, o filme contava de modo descontínuo o esgarçado romance entre uma francesa (Emmanuelle Riva) e um japonês (Eiji Okada) marcados pelo horror da guerra.
Imagens documentais associadas ao texto musical de Duras, flashbacks brutais contrapostos a travellings elegantes pelas ruas do Japão moderno, personagens que dialogam de costas um para o outro, olhando para fora do quadro, solidão e balbúrdia, silêncio e caos -tudo isso orquestrado com perícia e segurança por Resnais. Uma revolução estética que muita gente comparou à de "Cidadão Kane".
A estrutura fragmentada, a mistura de gêneros, o equilíbrio entre ensaio e poesia voltariam em filmes posteriores, como "Meu Tio da América" (1980), "Providence" (1976) e "A Vida É um Romance" (1983), os dois últimos ausentes da mostra.

Experimentação
Mas, mesmo em seus filmes mais estritamente narrativos e realistas, como "A Guerra Acabou" (1966) e "Quero Ir para Casa" (1989), a experimentação com a linguagem é a marca da colaboração de Resnais com os escritores-roteiristas a quem invariavelmente recorre.
Em "A Guerra Acabou", com roteiro do espanhol Jorge Semprun, o diretor embaralha flashbacks e flashforwards para contar de um ponto de vista subjetivo o embate de um militante clandestino (Yves Montand) contra a ditadura franquista.
"Quero Ir para Casa", por sua vez, serve-se de roteiro do escritor e desenhista Jules Feiffer para contar, pela ótica das histórias em quadrinhos, a tragicomédia de um cartunista norte-americano perdido na França.
"Smoking" e "No Smoking" (1993), baseados em peça de Alan Ayckbourn, compõem outro experimento singular: os dois longas, conjugados, brincam com as possibilidades do acaso, ao mostrar as múltiplas variantes que uma vida pode seguir a partir de determinadas escolhas.
Acervo inesgotável de idéias e experiências, nem todas bem-sucedidas, os filmes de Resnais merecem ser vistos como um antídoto ao cinema acomodado e exangue que impera hoje dos dois lados do Atlântico.


SETE VEZES RESNAIS. Mostra que reúne sete longas-metragens do cineasta francês Alain Resnais. Onde: Sala Cinemateca (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, região sul, São Paulo, tel. 0/xx/11/5084-2177). Quando: de amanhã a 27 de fevereiro. Quanto: R$ 8 (grátis para estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas).


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