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Virilidade de caubóis alimenta debate
DA REPORTAGEM LOCAL
Muita gente viu a cena de "O Segredo de Brokeback Mountain"
que o ator Jake Gyllenhaal descreve: "Eu agarro você. Você me joga
contra a parede. Eu te jogo contra
a parede. Nós nos beijamos". Difícil esquecer, e era essa a idéia.
"Isso foi detalhadamente ensaiado", disse Gyllenhaal a um
programa de TV sobre os bastidores das filmagens. Trata-se do
reencontro do peão de rodeios
Jack Twist (Gyllenhaal) com o
caubói Ennis Del Mar (Heath
Ledger), quatro anos depois da
temporada que os dois passaram
juntos, pastoreando ovelhas nas
montanhas do Wyoming.
A cena é também exemplo de
uma característica inegável de "O
Segredo de Brokeback Mountain": os caubóis gays são viris. Esse não é um aspecto menor num
fenômeno de público e crítica, como vem se consolidando "O Segredo de Brokeback Mountain".
Ledger e Gyllenhaal estão indicados ao Oscar de melhor ator e
ator coadjuvante, respectivamente. O diretor Ang Lee e o próprio
filme também disputam a estatueta. A notável carreira do longa
nas bilheterias dos Estados Unidos repete-se no Brasil.
O filme atraiu 200 mil espectadores na semana de estréia -número muito bom para o circuito
de 86 salas que ocupa.
Quanto mais gente assiste a "O
Segredo de Brokeback Mountain", mais o filme se torna assunto de debates acalorados.
Em torno da virilidade dos caubóis que vivem um amor gay, o
professor de cinema da USP Rubens Machado aponta duas hipóteses interpretativas, sendo uma
de avanço e outra de acomodação
no tratamento do homossexualismo pelo cinema americano.
Machado observa que o traço
viril dos caubóis "tanto pode significar uma integração do homossexual num mecanismo mais geral da sociedade, como uma acomodação do movimento gay aos
padrões conservadores, já que o
conservadorismo repele a integração de uma virilidade que seria
espúria na América de Bush".
Seja como for, Machado considera em si "explosiva" a abordagem do homossexualismo em "O
Segredo de Brokeback Mountain", pela novidade de tratar "no
cinema clássico, industrial, para
grande mercado" de um tema que
normalmente fica restrito aos filmes experimentais, ou seja, às
margens do mercado.
Entre críticos e estudiosos do cinema, a filiação do longa de Ang
Lee ao gênero faroeste não é ponto pacífico. "Gosto de western antigo, com paisagens, índio, gado.
Esse filme é um drama romântico
passado numa cidade do Oeste.
Não é sequer um western moderno", diz o professor de cinema da
PUC-RJ A.C. Gomes de Mattos.
Para o professor Machado, ao
contrário, "o modo pelo qual Lee
em seu melodrama tristíssimo
utiliza a paisagem, a solidão e
mesmo os temas da família ou da
virilidade leva o filme para o cerne
do modelo western".
"O Segredo de Brokeback
Mountain" está, na opinião dele,
"a meio caminho entre duas vertentes reflexivas do western contemporâneo".
Uma tendência é a da busca de
"temas ou estilos inexplorados,
como a poesia amorosa e o lirismo", da qual é exemplo "O Pistoleiro Sem Destino" (1971), de Peter Fonda.
"A outra tendência, ao contrário, interessou-se justamente pela
rigidez dos padrões solidificados
no gênero para atacá-los criticamente, visando uma reflexão não
só sobre o gênero western, mas
sobre a história americana e a sua
permanência na sociedade", diz
Machado. Exemplo: "Onde os
Homens São Homens" (1971), de
Robert Altman.
(SA)
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