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Especialistas `condenam' julgamento
da Reportagem Local
O julgamento de Marcos Mezenga (Fábio Assunção), em ``O Rei
do Gado'', irritou especialistas em
direito penal.
No julgamento, exibido durante
três capítulos na semana passada,
Marcos foi acusado pela morte do
personagem Ralf (Oscar Magrini).
O promotor pediu sua condenação por homicídio doloso qualificado -por ter enterrado Ralf na
areia da praia, provocando sua
morte com a alta da maré.
Mas, no final do julgamento,
Marcos acabou sendo condenado
por vilipêndio a cadáver (ultrajar
pessoa morta).
O resultado, segundo especialistas, é impossível na vida real.
``A decisão contraria a legislação
processual brasileira'', protesta o
processualista Julio Fabbrini Mirabete, 61, autor de sete livros sobre direito e processo penais.
Segundo Mirabete, é ``legalmente impossível'' alguém ser julgado
por homicídio doloso (com intenção de matar) e acabar condenado
só por vilipêndio a cadáver.
``Se o promotor só o acusou de
homicídio doloso, ele só poderia
ser julgado por esse crime. Essa seria a única acusação possível. Até
mesmo porque ele (Marcos), nesse
caso, teria enterrado alguém vivo e
não pode haver vilipêndio a pessoa
viva'', diz Mirabete.
O primeiro de uma série de erros, apontam especialistas, foi o
advogado de defesa pedir a condenação do próprio cliente, Marcos,
pelo crime de vilipêndio a cadáver.
``Nunca vi a defesa pedir a condenação de alguém'', conta Sergio
Salomão Shecaira, 36, presidente
do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais. ``A defesa estaria trabalhando contra o réu. É meio absurdo. Sou promotora há 12 anos e
nunca vi uma decisão dessas'',
confirma Eloísa Damasceno, 35,
do 5º Tribunal de Júri da Capital.
Segundo Mirabete, o correto seria o advogado de Marcos pedir a
desclassificação do crime de homicídio doloso para o de homicídio
culposo (quando não há intenção). O resultado, em caso de condenação, seria quase o mesmo do
de vilipêndio: a pena seria de um a
três anos de detenção, com direito
a sursis (liberdade). ``Seria muito
mais coerente.''
Os erros, segundo Mirabete,
continuam quando são apresentados os quesitos (perguntas feitas
aos jurados).
Na novela, o júri respondeu sim
ao primeiro quesito -Marcos enterrou Ralf na areia?- e não ao segundo -Marcos provocou a morte da vítima?-, absolvendo, assim, o personagem.
Mirabete não concorda com a
existência do terceiro quesito
-Marcos praticou vilipêndio a
cadáver?-, ao qual o júri respondeu sim. Segundo o processualista,
deveria haver um segundo julgamento só para o crime de vilipêndio a cadáver.
``Esses erros em novela só deseducam'', lamenta Mirabete.
O autor de ``O Rei do Gado'', Benedito Ruy Barbosa, não foi encontrado até as 13h de ontem para
comentar as críticas à novela.
(DANIEL CASTRO)
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