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Artistas segundo ele
da Reportagem Local
A seguir, José Ramos Tinhorão
fala sobre nomes da música popular brasileira, ressaltando que "é
absolutamente opinião pessoal,
não como crítico". "Eu não falo
mais de pessoas."
Carmen Miranda - Carmen foi
uma inocente brasileira altamente
criativa triturada pela indústria do
show business americano, que pegou ela linda, nova e devolveu
num caixão, inchada de injeção,
de pílula para ficar esperta.
Silvio Caldas - Coitadinho... Ele
entrou num time muito pesado,
começou em 1929, antes de Orlando Silva. Era mulato simpático.
Mas logo depois surgiu Orlando,
que deu um banho nele.
Paulinho da Viola - Ele é brigado comigo (ri). Fiquei irritado
quando gravou um samba do Nelson Cavaquinho, "Depois da Vida". O arranjo, cretino, parece
barulho de móvel arrastando. Já
sua gravação de "Pra Que Mentir" é um prodígio. Nem o próprio
autor, Noel Rosa, conseguiu aquilo. Paulinho cantou, só com o violão, uma letra moderna, semelhante só às do Chico Buarque.
Chico Buarque - É um grande
letrista. É a poesia do coloquial, ele
faz o que Orestes Barbosa fazia, falar de apartamento, telefone. E
com uma vantagem, não tinha o
cacoete do cara que foi para a letra
de música popular vindo de uma
pretensão de poesia erudita.
Caetano Veloso - É um cara
muito talentoso, inegavelmente.
Dona Canô contou que viu ele falando, sozinho, olhando para as
árvores, aos cinco anos: "Tudo isso aqui existe porque eu existo, fui
eu que criei". Nele menino, já
existia essa coisa de se achar predestinado. É megalômano, ele e o
Millôr Fernandes. Mas é simpático. O artista tem que ser julgado
pelo resultado, não vamos crucificar porque o cara é vaidoso.
Geraldo Vandré - É uma figura
interessantíssima. Para mim,
"Pra Não Dizer Que Não Falei das
Flores" é a única música de protesto feita no Brasil. Foi proibida,
música de protesto que passa na
Censura não é música de protesto.
Maria Bethânia - É cantora para
palco. Aí, sim, tem um certo magnetismo pessoal. Quando o cara
cantava na boca do microfone, só
de pé, de terno, existia a canção,
que dependia só da interpretação
da voz. Hoje, ou você pula pelo
palco como a... (gagueja) as meninas lá... a sirene do agreste (Elba
Ramalho)... e a outra lá, a baiana,
como é o nome? (Gal Costa), ou
tem que ter uma luz caprichada,
um jogo de cena. A Bethânia tem.
Elis Regina - Não acredito na
emoção, que ela chorava quando
cantava. Era lágrima de crocodilo.
A natureza deu a ela uma qualidade de voz fantasticamente límpida, o resto era atriz.
Elza Soares - Ah! É uma caricatura, não é cantora americana
nem brasileira, é um equívoco
completo. Horrível, horrível, horrível. Horrível, que coisa horrível.
Wilson Simonal - Ah, fala de
pessoas, né? Fala de gente.
Jorge Ben - É pura música de
consumo, requentada. É aquilo,
"chacatum", descobriu uma fórmula de não querer aprender tocar direito um instrumento.
Milton Nascimento - Ah, não. É
outro blefe. É o homem das duas
primeiras músicas. É "Morro Velho" e "Travessia" e acabou.
Aquela coisa que as mulheres cantam (cantarola, sem letra, "Paula
e Bebeto") qualquer um faz.
Clara Nunes - Ah, essa era uma
oportunista completa. Levou um
pau meu porque fez um disco que
fotografou com umas coitadas dumas mulheres de terreiro. Você vai
ver, pensa que é uma coisa nobre,
uma cantora que tem trânsito na
classe média cantando as coisas do
povo. Só tinha música do marido e
do Chico Buarque. Que é isso?
Zé Ramalho - É interessante, interessante. Gosto de caras um
pouco fora de esquadro.
Itamar Assumpção - É comum.
Ficam incensando um pouco. Talvez, como ele não teve oportunidade de despontar, haja um pouco
de paternalismo. Não é ruim...
Chico César - Calhou bem para
o momento dele, mas também não
tem contribuição nenhuma. Essa
coisa da "Mama África" é bem
achada, fora de comum, mas não
sei se vai ficar só nisso.
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