São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES
Exposição apresenta até abril 21 trabalhos audiovisuais da nova safra de artistas do Reino Unido
Paço mostra nova videoarte britânica

Divulgação
Vídeo de Monika Oechsler, que aborda temas de identidade e sexualidade


free-lance para a Folha

Foco da câmera fechado nas mãos de um homem que arruma obsessivamente os punhos de sua camisa branca. Silêncio. Corta para os risinhos de um grupo de garotas divertindo-se com uma brincadeira infantil. Corta para uma peça de música clássica com as imagens em câmera lenta de um homem nu dançando no melhor estilo tecno.
São duas horas de provocação, a mostra de vídeo britânico que o Paço das Artes inaugura hoje à noite. Ao lado de proeminentes nomes entre os YBA (Young British Artists) como Sam Taylor-Wood, Gillian Wearing, Douglas Gordon e Georgina Starr, é apresentada a nova safra de jovens videoartistas britânicos.
A provocação passa pela inquietação do vídeo de Mark Dickenson, que veste peças de roupa uma sobre a outra até já não suportar o próprio peso e desabar; pela ironia dos trabalhos de Stephanie Smith e Edward Steward, que ludibriam a visão; e pela repulsa de obras como a de Gillian Dyson, que esfrega a língua na parede até sangrar, ou a de Michael Curran, que mostra um homem cuspindo na boca de outro.
Mas há espaço também para o encantamento das obras de John Wood e Paul Harrison, que montam espécies de jogos nonsense, e para o lirismo de Sam Taylor-Wood (que fez o vídeo do clubber) ou Phillip Lai, que transforma uma mão coberta de espuma em pura abstração.
Questões formais e temáticas diferenciam a videoarte dos vídeos produzidos para TV: duração (são curtos -os vídeos da mostra no Paço têm entre 1 e 14 minutos- ou longos demais), áudio não convencional (vídeos sem som, com som ambiente captado precariamente ou músicas contínuas), ausência de linearidade, caráter inusitado ou chocante.
A videoarte é sensorial e proporciona uma contemplação semelhante a de uma pintura. Mas não deixa de contar suas "histórias", acentuando detalhes imperceptíveis do cotidiano, abordando questões referentes ao corpo, às relações humanas, mas de uma forma mais filosófica ou poética.
A exposição do Paço, realizada em parceria com o British Council, reúne 21 obras e tem curadoria de Steven Bode, diretor do Film and Video Umbrella, agência curatorial de Londres especializada em arte eletrônica.
Segundo Daniela Bousso, diretora do Paço das Artes, não apenas as obras abordam questões da contemporaneidade como são um exercício sobre o meio vídeo. "Estes artistas têm soluções interessantes para os poucos recursos que utilizam", afirma.
A iniciativa de trazer essa mostra a São Paulo está afinada com a proposta do Paço de apresentar periodicamente os novos artistas brasileiros ao público, por meio de sua Temporada de Projetos. "Convidamos um dos artistas participantes, Sean Dower, para fazer uma palestra aqui pensando nessa interação", conta Daniela.
Um destaque da mostra são os vídeos que ironizam clichês da cultura de massa: a artista Yael Feldman cria uma cena que caberia em metade dos filmes hollywoodianos. Jane e Louise Wilson realizam um vídeo em que são hipnotizadas, aludindo ao entorpecimento provocado pela TV. Alan Curral parodia um videodepoimento e Georgina Starr satiriza a linguagem do videoclipe.
(JULIANA MONACHESI)


Exposição: Novo Vídeo Britânico Onde: Paço das Artes (av. da Universidade, 1, Cidade Universitária, tel. 0/xx/11/813-3627) Quando: hoje, às 20h. Seg. a sex., 13h às 20h; sáb. e dom., 14h às 19h. Até 2/4 Palestra: Sean Dower, quinta, às 20h Quanto: entrada franca

Texto Anterior: Os CDs mais vendidos da semana
Próximo Texto: Lista de artistas e obras
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.