ESPECIAL PARA A FOLHA

Qualquer apreciador atento ao cenário mundial do jazz sabe que o título do livro do britânico Stuart Nicholson foi escolhido apenas para polemizar. O jazz não só está bem vivo, como talvez jamais tenha sido misturado tanto às músicas de outras regiões do mundo como nos últimos anos.
A tese de que o jazz dos EUA perdeu para outros países seu papel de liderança em inovação é essencial, mas não propriamente original. Nicholson menciona vários artigos da coletânea "Jazz Planet", editada por E. Taylor Atkins, que já afirmava, em 2003, que não se poderia escrever uma história completa do jazz sem incluir manifestações do gênero em países como França, Itália, Holanda, Índia, União Soviética, Japão, África do Sul e Brasil, entre outros.
Uma das principais contribuições de Nicholson é o conceito de globalização do jazz. Fazendo uma analogia com o inglês falado fora dos EUA e da Inglaterra, ele aponta a existência de estilos de jazz que se desenvolveram em outros países, sem seguirem o modo como o jazz é tocado nos EUA. Esse processo de assimilação e apropriação cultural teria resultado em "dialetos" jazzísticos com características musicais locais, que o autor chama de "glocalizados".
O maior mérito do livro é avançar nessa discussão, fazendo antes um revelador diagnóstico do mercado e do ensino do jazz nos EUA, desde a década de 80, a partir de depoimentos de músicos, críticos, executivos da indústria musical e educadores. Traça também um esclarecedor panorama do jazz europeu, com ênfase especial nos países nórdicos.
Por outro lado, Nicholson carrega nas tintas ao desenhar um quadro de absoluta falta de invenção no jazz feito hoje nos EUA. Nomes de músicos criativos, como Jason Moran, Brad Mehldau, Greg Osby, Dave Douglas, Don Byron e Bill Frisell, que não seguem a cartilha reducionista de Wynton Marsalis, são mencionados por ele apenas de passagem. Mas isso não chega a comprometer a valiosa contribuição do livro. (CC)

Is Jazz Dead? (Or Has It Moved to a New Address)
   
Autor: Stuart Nicholson
Editora: Routledge
Quanto: US$ 12,97 (R$ 28; 272 págs.), www.amazon.com