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Crítica/"O Banheiro do Papa"
Trama hábil revela rostos da pobreza
Longa de César Charlone ("Cidade de Deus') e Enrique Fernández aborda muambeiros que se preparam para a chegada do papa
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Diferentemente do brasileiro, outros cinemas
próximos a nós, da
própria América Latina, não
adquiriram ainda o hábito de
criminalizar os pobres, de vê-los antes de mais nada como
suspeitos de desequilibrar a
nossa paz de classe média.
Isso tomando como base a
amostragem restrita que chega
até nós. Mas ela é bem eloqüente em "O Banheiro do Papa",
que tem como um dos autores
César Charlone, diretor de fotografia de "Cidade de Deus".
Ele e Enrique Fernández, co-diretores, detêm-se em um
grupo de pessoas que vive de
passar umas muambas pela
fronteira brasileira. Uma vida
pobre e complicada, já que sujeita às perseguições e chantagens dos guardas aduaneiros.
Charlone e Fernández não
incorrem no vício oposto ao da
criminalização, também freqüente, que é o populismo, e esse é o mérito do filme: a procura
por mostrar como vivem essas
pessoas, como pensam, por
quais dificuldades passam. Esse é o ponto forte do filme.
Ao lado dele existe a trama. O
papa está para chegar à cidadezinha e, de repente, todos os habitantes descobrem o potencial
de negócios representado pela
ocasião. Todos, porém, têm a
mesma idéia: alimentar com
churrasquinho e similares os
milhares de visitantes.
Apenas Beto, um desses pobres muambeiros, descobre
uma hipótese mercadológica
-digamos assim- inexplorada: todos esses visitantes, que
tomarão cerveja e comerão, onde farão suas necessidades?
Claro, o melhor negócio será
instalar um banheiro. Em torno da construção desse banheiro -suas dificuldades, tudo a
que o homem terá que se sujeitar etc.- vai se desenvolver a
trama, no que tem de dramática e também de cômica.
A trama serve, na verdade,
para nos entreter, enquanto o
filme se dedica ao essencial,
que é mostrar os rostos, os gestos dessas pessoas, suas relações com o poder. É disso que
vem o interesse de "Banheiro...": não um grande filme, mas
hábil o bastante para, partindo
de uma situação facilmente digerível, nos mostrar essas pessoas, sua plenitude, ou o que
dessa plenitude seja mostrável.
O BANHEIRO DO PAPA
Produção: Uruguai/Brasil/França,
2007
Direção: César Charlone e Enrique Fernández
Com: César Troncoso e Virginia Méndez
Onde: estréia hoje no Espaço Unibanco, HSBC Belas Artes e circuito
Avaliação: bom
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