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TELEVISÃO
Rosane Marinho/Folha Imagem
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Belisário França, 36, diretor do documentário sobre a língua portuguesa
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Série produzida em parceria entre o cineasta Belisário França, o antropólogo Hermano Vianna e a TVE do RIo vai ao ar em setembro
'Além-Mar' reúne povos que falam português
CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
Um grupo de pessoas com traços
orientais dança o vira -dança típica portuguesa- tendo ao fundo
a arquitetura moderna de Cingapura; em Macau, na costa chinesa,
outro grupo aprende capoeira
com um professor português; em
uma praia em Goa, na Índia, mulheres cantam ``Copacabana'', de
João de Barro e Alberto Ribeiro.
Cenas como essas serão exibidas
a partir de setembro na minissérie
``Além-Mar'', parceria do cineasta
Belisário França, 36, e do antropólogo e pesquisador Hermano
Vianna com a TV Educativa do Rio
de Janeiro.
A idéia da minissérie é mostrar a
vida e a cultura dos 200 milhões de
pessoas que falam português pelo
mundo e como essas diferentes
culturas assimilaram traços umas
das outras.
Para isso, ``Além-Mar'' apresentará cenas de lugares tão distantes
quanto Málaca (cidade no litoral
sul da Malásia), Goa, Maputo (em
Moçambique) e Cingapura
-além, é claro, do Brasil e de Portugal.
``Não temos muita noção, aqui,
do que é a herança lusa nesses lugares e quais são os traços que essa
herança deixou na cultura contemporânea'', explica França.
A equipe da minissérie já esteve
na Ásia e na próxima semana embarca para a África. A primeira
parte da viagem já rendeu histórias
interessantes. A primeira delas: a
descoberta de que em Cingapura
há uma crescente preocupação dos
descendentes de portugueses e
asiáticos em recuperar a cultura
lusitana.
Pela legislação do país, a língua
oficial é o inglês, mas todo cidadão
tem que optar por um segundo
idioma.
``Por isso, há muitos descendentes preocupados em aprender a fala cristã, um tipo de português falado em Málaca (Malásia). Há
também muitos cursos de vira e de
culinária portuguesa'', conta
França.
Outra curiosidade: a proximidade da culinária indiana com a culinária do Nordeste do país. ``Sempre se pensa que a origem de pratos como o sarapatel é a África,
mas a raiz está em Goa, na Índia'',
diz França.
Para o cineasta, a principal característica da série será mostrar
que os portugueses foram o que se
pode considerar os primeiros
agentes de globalização.
``Eles se misturavam com a cultura local e carregavam produtos
de um lado para o outro. São os
verdadeiros globalizadores'', diz
França.
O cineasta cita exemplos: o coco,
produto que parece ser tão tipicamente brasileiro, foi trazido da Índia pelos portugueses; o caju, fruta
brasileira, é o principal produto de
exportação de Moçambique.
A música -outro ponto forte da
minissérie-, também mostra essa
globalização: guitarras portuguesas são a base do mandó, ritmo de
Goa, e da música produzida na região de Macau. Em Goa, as guitarras são tocadas com o que França
define como ``um suingue indiano''; em Macau, são acompanhadas por orquestras de instrumentos chineses.
Mas a cena que talvez deixe mais
clara a proximidade dos países de
língua portuguesa escapou das
lentes de Belisário França. Num
dia de folga, o cineasta passeava
por uma feira em Macau quando
foi abordado por uma adolescente
do Timor Leste.
``Ela soube que eu era brasileiro
e veio correndo me perguntar como terminava a novela `Mulheres
de Areia'. Eu não sabia. Tive que
inventar um final ali mesmo.''
``Além-Mar'' terá cinco programas, com uma hora de duração cada. De acordo com França, os capítulos serão montados a partir de
temas centrais -identidade, fé,
miscigenação, idioma e imagem
contemporânea.
A minissérie está sendo filmada
em película de 16mm, o que dá
maior qualidade às imagens e facilita sua aceitação pelo mercado europeu. Além disso, o material dará
origem a um longa-metragem, que
deverá ser lançado no final do ano.
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