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CRÍTICA
Mojica, um homem de cinema
especial para a Folha
A tese que o documentário
"Maldito" procura provar não
é unânime: José Mojica Marins
é um homem de cinema. Para
isso, os diretores foram atrás de
seu passado, para revelar algo
que poucos conhecem, que
Mojica morou, na infância e na
adolescência, no fundo de um
cinema, o que deu asas a um cineasta intuitivo.
Fã de histórias em quadrinhos, que são guardadas até
hoje, Mojica nasceu em São
Paulo, numa sexta-feira, 13, em
1936. Passou quase toda a vida
em Vila Anastácio (zona noroeste), bairro que, na época,
concentrava um grande número de terreiros de umbanda.
Seu pai cuidava do projetor do
cinema, enquanto sua mãe
vendia bombons.
"Aprendi vendo cinema. Cinema é prática... Zé do Caixão
nasceu de um sonho. Sonhei
que um homem queria me levar, no meio da noite, para conhecer a minha morte", afirma
Mojica, no documentário, que
exibe os trechos mais representativos de sua obra.
Desde criança, ele fazia filmes. O documentário mostra o
ex-galinheiro do bairro, que foi
o seu primeiro estúdio. A marginal Tietê, na época um terreno baldio, era sua locação.
Tudo mudou quando Mojica
viu, num velório, o vendedor
de batatas do bairro "ressuscitar", história retratada em "Finis Hominis", de 1971. O medo
da morte, o inferno, os velórios, o luto e o caixão passaram
a ser os elementos-chave de sua
obra; em "À Meia-Noite Levarei Sua Alma", de 1964, que fez
de Mojica um dos cineastas
mais populares e de maior bilheteria do Brasil, Zé do Caixão
estreou.
Sem patrocínio do Estado,
produzindo filmes com o dinheiro arrecadado pela bilheteria do filme anterior, Mojica tinha um estúdio na rua das Palmeiras, no centro de São Paulo,
e quando precisava de uma floresta, usava um pequeno trecho de vegetação do largo do
Arouche.
Na maioria de seus filmes, o
personagem profana símbolos
religiosos, bebe a cachaça dedicada para trabalhos de umbanda, ri de uma procissão e come
carne numa Sexta-Feira Santa.
Por vezes, Zé do Caixão, em fúria, diz: "Eu não creio em nada!
Quero a prova do castigo. Mentira!".
Aí está o segredo de Zé do
Caixão, que, em um público
popular, num país essencialmente religioso, provoca o sentimento da dúvida, ridiculariza
os ritos sagrados, enfrenta a ira
de Deus, visita o inferno, em
várias cenas memoráveis, exibidas no documentário.
Zé do Caixão é muito mais
sério do que dita a vã cinematografia brasileira. O grande
público captou a mensagem e
prestigiou. Já a elite acha graça
de suas unhas compridas e patrocina filmes que não são pagos, mas que tudo bem.
(MRP)
Avaliação:
Filme: Maldito - O Estranho Mundo de José Mojica Marins
Direção: André Barcinski e Ivan Finotti, Brasil, 2000, 66 min., vídeo
Quando: hoje, às 21h
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, Paraíso, tel. 0/xx/11/238-1700)
Quanto: entrada franca
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