São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2000


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CRÍTICA

Idéia de "Um Domingo Qualquer" é um tanto ingênua

ANDRÉ BARCINSKI
Editor do Folhateen

Oliver Stone é um cineasta que gosta de grandes temas. Ele já atacou a contracultura ("The Doors"), a política americana ("JFK", "Nixon") e a Guerra do Vietnã ("Platoon", "Nascido em 4 de Julho"). Agora, seu novo alvo é a dominação do esporte pelas grandes corporações. Em "Um Domingo Qualquer", Stone critica a ganância que, segundo ele, está transformando o esporte num "big business".
É uma idéia um tanto quanto ingênua: há décadas que o esporte americano vem sendo moldado, deturpado e, dizem alguns, até destruído para se adaptar ao capitalismo selvagem. Mas Oliver Stone é mesmo um romântico, um sonhador: ele tem a cara-de-pau, em pleno ano 2000, de fazer um filme que ousa ter saudade do amadorismo, do tempo em que se fazia esporte por amor ao jogo e não ao dinheiro.
"Um Domingo Qualquer" retrata os bastidores do futebol americano. É um esporte que parece não mais existir como jogo, e sim como espetáculo televisivo. De todos os esportes profissionais americanos, é com certeza o mais adaptado ao conceito de "entretenimento". O tema é bom, mas talvez se preste mais a um documentário. Afinal, com tantos canais de esporte por aí, não é novidade ver cenas de jogo bem filmadas. E os grandes filmes sobre esportes, como "Touro Indomável" (Martin Scorsese, 1980) e "Personal Best" (Robert Towne, 1982), são exatamente aqueles em que o jogo fica em segundo plano, e o drama humano é a principal atração.
Oliver Stone bem que tentou fazer de "Um Domingo Qualquer" mais do que um simples "filme de esportes", mas, infelizmente, a história que ele criou não decola. É mais uma reciclagem da batidíssima saga do veterano que tem de se adaptar a um mundo mesquinho, ganancioso e que não respeita a nostalgia.
O coroa em questão é Tony D'Amato (Al Pacino), um treinador decadente que ainda vê o esporte com os olhos de um amador. Sua principal adversária é, curiosamente, a dona de seu time, a ambiciosa Christina Pagniacci (Cameron Diaz), uma yuppie bilionária que herdou o time do pai, velho amigo de D'Amato. O filme tem diversos personagens secundários, todos caricatos: Dennis Quaid faz um velho "quarterback" (lançador, espécie de "cérebro" do time), que tem de lutar contra um craque novato e falastrão (Jamie Foxx); James Woods interpreta o médico mau-caráter que não hesita em falsificar atestados para faturar um troco a mais. O próprio Stone aparece, no papel de um comentarista de TV.
Para o público brasileiro, o filme tem o agravante de ser ininteligível do ponto de vista esportivo. Quantos são os fãs de futebol americano no país, que entenderão as complicadíssimas jogadas descritas pelos locutores? Dá pena do coitado que recebeu a missão de fazer as legendas desse filme, especialmente nas cenas de jogo.
Quem conhecer um pouco do esporte, no entanto, vai gostar das sequências dentro do campo. Oliver Stone filma como se o espectador estivesse na linha de frente, levando bordoadas que ressoam em dolby estéreo e doem de ver.
O filme é um prodígio de destreza técnica: as cenas em close são maravilhosas, a edição sonora é um desbunde e a montagem é agilíssima. Quem sabe um dia alguém não faça um filme assim sobre o nosso futebol? Mas com uma historiazinha um pouco mais interessante, por favor.


Avaliação:    

Filme: Um Domingo Qualquer (Any Given Sunday)
Diretor: Oliver Stone
Produção: EUA, 1999
Com: Al Pacino, Cameron Diaz, Dennis Quaid, James Woods
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes - sala Cândido Portinari, Cinearte 1 e circuito


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