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CRÍTICA
Idéia de "Um Domingo Qualquer" é um tanto ingênua
ANDRÉ BARCINSKI
Editor do Folhateen
Oliver Stone é um cineasta que
gosta de grandes temas. Ele já atacou a contracultura ("The
Doors"), a política americana
("JFK", "Nixon") e a Guerra do
Vietnã ("Platoon", "Nascido em 4
de Julho"). Agora, seu novo alvo é
a dominação do esporte pelas
grandes corporações. Em "Um
Domingo Qualquer", Stone critica a ganância que, segundo ele,
está transformando o esporte
num "big business".
É uma idéia um tanto quanto
ingênua: há décadas que o esporte
americano vem sendo moldado,
deturpado e, dizem alguns, até
destruído para se adaptar ao capitalismo selvagem. Mas Oliver Stone é mesmo um romântico, um
sonhador: ele tem a cara-de-pau,
em pleno ano 2000, de fazer um
filme que ousa ter saudade do
amadorismo, do tempo em que se
fazia esporte por amor ao jogo e
não ao dinheiro.
"Um Domingo Qualquer" retrata os bastidores do futebol
americano. É um esporte que parece não mais existir como jogo, e
sim como espetáculo televisivo.
De todos os esportes profissionais
americanos, é com certeza o mais
adaptado ao conceito de "entretenimento". O tema é bom, mas talvez se preste mais a um documentário. Afinal, com tantos canais de
esporte por aí, não é novidade ver
cenas de jogo bem filmadas. E os
grandes filmes sobre esportes, como "Touro Indomável" (Martin
Scorsese, 1980) e "Personal Best"
(Robert Towne, 1982), são exatamente aqueles em que o jogo fica
em segundo plano, e o drama humano é a principal atração.
Oliver Stone bem que tentou fazer de "Um Domingo Qualquer"
mais do que um simples "filme de
esportes", mas, infelizmente, a
história que ele criou não decola.
É mais uma reciclagem da batidíssima saga do veterano que tem
de se adaptar a um mundo mesquinho, ganancioso e que não respeita a nostalgia.
O coroa em questão é Tony
D'Amato (Al Pacino), um treinador decadente que ainda vê o esporte com os olhos de um amador. Sua principal adversária é,
curiosamente, a dona de seu time,
a ambiciosa Christina Pagniacci
(Cameron Diaz), uma yuppie bilionária que herdou o time do pai,
velho amigo de D'Amato. O filme
tem diversos personagens secundários, todos caricatos: Dennis
Quaid faz um velho "quarterback" (lançador, espécie de "cérebro" do time), que tem de lutar
contra um craque novato e falastrão (Jamie Foxx); James Woods
interpreta o médico mau-caráter
que não hesita em falsificar atestados para faturar um troco a mais.
O próprio Stone aparece, no papel
de um comentarista de TV.
Para o público brasileiro, o filme tem o agravante de ser ininteligível do ponto de vista esportivo.
Quantos são os fãs de futebol
americano no país, que entenderão as complicadíssimas jogadas
descritas pelos locutores? Dá pena
do coitado que recebeu a missão
de fazer as legendas desse filme,
especialmente nas cenas de jogo.
Quem conhecer um pouco do
esporte, no entanto, vai gostar das
sequências dentro do campo. Oliver Stone filma como se o espectador estivesse na linha de frente, levando bordoadas que ressoam
em dolby estéreo e doem de ver.
O filme é um prodígio de destreza técnica: as cenas em close são
maravilhosas, a edição sonora é
um desbunde e a montagem é
agilíssima. Quem sabe um dia alguém não faça um filme assim sobre o nosso futebol? Mas com
uma historiazinha um pouco
mais interessante, por favor.
Avaliação:
Filme: Um Domingo Qualquer (Any Given Sunday)
Diretor: Oliver Stone
Produção: EUA, 1999
Com: Al Pacino, Cameron Diaz, Dennis Quaid, James Woods
Quando: a partir de hoje, nos cines Belas Artes - sala Cândido Portinari, Cinearte 1
e circuito
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