São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007 |
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Crítica/show Aerosmith reafirma o imaginário do rock clássico
Com cabelos ao vento (de ventilador), banda faz show correto e empolga no Morumbi
RONALDO EVANGELISTA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Rock não é música. Rock é a anti-música. No coração de seu estereótipo, não é um estilo que se destaque por melodias, harmonias, letras ou sutilezas. O que, afinal, faz do rock algo apaixonante para tanta gente é a tal da "atitude", abstração favorita das empresas de marketing. Então, quem sai de casa para assistir a uma banda como o Aerosmith não está comprando exatamente a música, mas todo um pacote, um estilo de vida, a chance de extravasar a pequena vida do cotidiano. Curiosamente, o Aerosmith -banda que carrega com orgulho todos os clichês do hard rock pré-anos 80, como guitarras de braço duplo, danças sugestivamente sexuais, roupas espalhafatosas etc.- é também, por assim dizer, uma "banda de meninas". Exceção notável no mundo do rock, o Aerosmith não atrai apenas marmanjos esbanjando testosterona, talvez pela freqüência das baladas no seu repertório. Assim, as quase 60 mil pessoas que encheram o Morumbi anteontem para ver o show da banda de Boston (EUA) eram comportadas, calmas, românticas. Em sua grande maioria, casais que dançavam juntos e se abraçavam, e também as duplas de amigas e turmas de amigos. O show, em si, foi correto o suficiente para animar os fãs durante os sucessos e dispersá-los moderadamente durante as menos conhecidas. Mas de falta de hits certamente não sofre o Aerosmith. Mesmo o ouvinte mais casual teve suas chances de cantar junto em vários momentos, e certamente o fez, durante músicas como "I Don't Wanna Miss a Thing", "Janie's Got a Gun", "Livin on the Edge", "Cryin'" -todas recebidas calorosamente pelo público. Gritaria Abrindo a noite, não diferente, mas mais "intenso", tocou o Velvet Revolver, formado por ex-músicos do Guns'n'Roses, como o guitarrista Slash, mais o vocalista do Stone Temple Pilots, Scott Weiland. Por cerca de uma hora, segurou o público. Animou, mas, quando começou a gritaria pela banda principal, foi fácil perceber a diferença de escala entre empolgação moderada e ansiedade gigantesca. É que o Aerosmith é banda representativa de um fenômeno particular. Não é uma banda descolada, que atraia celebridades para seus shows ou seja muito comentada. Não está na moda, não tem disco nas paradas, não é capa de revista nem citada como influência. E, ainda assim, é capaz de encher um estádio em plena quinta-feira. Como acontece com certas bandas, já atingiu o status de "clássico". Seus trejeitos, suas músicas, seu visual já estão no imaginário popular. E o show que fez em São Paulo foi uma reafirmação desse imaginário: parecia um longo videoclipe ao vivo de duas horas, com dois grandes ventiladores na frente do palco soprando os cabelos do vocalista Steven Tyler e o guitarrista Joe Perry fazendo poses de "rockstar". Fora do palco, sem ventiladores e uniformes coloridos, eles são como qualquer um no público, com a diferença de estarem à beira dos 60 anos. Mas o que é a vida real comparada a um espetáculo de rock? AEROSMITH Avaliação: regular Texto Anterior: Fabio de Souza Andrade: Gente que fala Próximo Texto: Música: Skol Beats confirma Addictive TV Índice |
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