São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2010

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MÚSICA

Drexler volta menos "brasileiro" e mais alegre

Uruguaio lança o CD "Amar la Trama", criado com ajuda de audiência anônima

Artista diz ter sido fortemente influenciado pelo bairro de Chueca, onde moram artistas e intelectuais, em Madri


SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA

A música de Jorge Drexler sempre teve endereço. Em cada trabalho, o artista uruguaio parece escolher um marco cultural e geográfico a partir do qual reflete e compõe.
Se o Brasil era muito citado em "Eco" (2004), a cidade costeira uruguaia de Cabo Polonio em "12 Segundos de Oscuridad" (2006) e várias cidades da Catalunha em "Cara B" (2008), agora o centro de referência do novo trabalho do artista é Madri, onde vive há dez anos.
"Amar la Trama", 12º disco do cantor, que chega agora ao Brasil, foi concebido no bairro de Chueca, local da nova "movida" madrilenha, onde estão bares e restaurantes frequentados por artistas e intelectuais.
Em entrevista à Folha, por telefone, Drexler, 45, contou que a metodologia de gravação do álbum desta vez foi diferente do convencional. Ele e os músicos que participaram do trabalho chamaram, a cada noite, 20 pessoas desconhecidas para ouvir as composições.
"Foi uma forma de manter o estado de alerta para o que estava funcionando ou não. Fizemos alterações de acordo com as reações que obtínhamos das pessoas."
Se "Cara B" tinha como base uma estrutura mínima composta por ele e mais dois instrumentistas, agora Drexler optou por uma formação mais complexa. Está por trás de "Amar la Trama" um grupo de nove artistas. "Há uma quantidade orquestral maior, o que combina com uma mudança de espírito também. É um disco alegre, dentro do que é possível na minha obra."
O trabalho do uruguaio sempre foi marcado pela melancolia, que é característica dos gêneros pelos quais passeia para compor, principalmente a milonga do Rio da Prata e a bossa nova brasileira.
"Acho que "Amar la Trama" também é melancólico, mas o que há aí é uma melancolia luminosa", explica.
As 12 faixas do álbum revelam um Drexler mais cosmopolita, que incorpora também o jazz e o pop, e evoca Frank Sinatra quando canta em inglês ("I Dont Worry about a Thing"). Entre as músicas de destaque, estão "Las Transeuntes", em que volta o tema do artista viajante, e " Toque de Queda", gravado com a mulher, Leonor Watling, do grupo pop espanhol Marlango.
Drexler nega que tenha se afastado da música brasileira, apesar de o novo álbum ser tão influenciado pela experiência espanhola. "Eu não preciso gravar Pixinguinha para mostrar respeito à música brasileira. Ela tem presença forte no que faço. Mesmo que às vezes se manifeste sutilmente, está no meu jeito de tocar", explica.
Em bom português, que aprendeu nas longas temporadas que já passou por aqui, conta que tem gostado de ouvir Marcelo Camelo e o Little Joy, projeto do "hermano" Rodrigo Amarante e do "stroke" Fabrizio Moretti.
Vencedor de um Oscar em 2005, pela música "Al Otro Lado del Río", para o filme "Diários de Motocicleta", de Walter Salles, Drexler segue interessado em cinema e está fazendo a trilha sonora para o novo filme de Andrucha Waddington, uma coprodução espanhola.


AMAR LA TRAMA

Artista: Jorge Drexler
Lançamento: Warner
Preço: R$ 33,60 (em média)




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