|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Drexler volta menos "brasileiro" e mais alegre
Uruguaio lança o CD "Amar la Trama", criado com ajuda de audiência anônima
Artista diz ter sido fortemente influenciado pelo bairro de Chueca,
onde moram artistas e intelectuais, em Madri
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA
A música de Jorge Drexler
sempre teve endereço. Em cada
trabalho, o artista uruguaio parece escolher um marco cultural e geográfico a partir do qual
reflete e compõe.
Se o Brasil era muito citado
em "Eco" (2004), a cidade costeira uruguaia de Cabo Polonio
em "12 Segundos de Oscuridad" (2006) e várias cidades da
Catalunha em "Cara B" (2008),
agora o centro de referência do
novo trabalho do artista é Madri, onde vive há dez anos.
"Amar la Trama", 12º disco
do cantor, que chega agora ao
Brasil, foi concebido no bairro
de Chueca, local da nova "movida" madrilenha, onde estão bares e restaurantes frequentados por artistas e intelectuais.
Em entrevista à Folha, por
telefone, Drexler, 45, contou
que a metodologia de gravação
do álbum desta vez foi diferente do convencional. Ele e os
músicos que participaram do
trabalho chamaram, a cada
noite, 20 pessoas desconhecidas para ouvir as composições.
"Foi uma forma de manter o
estado de alerta para o que estava funcionando ou não. Fizemos alterações de acordo com
as reações que obtínhamos das
pessoas."
Se "Cara B" tinha como base
uma estrutura mínima composta por ele e mais dois instrumentistas, agora Drexler
optou por uma formação mais
complexa. Está por trás de
"Amar la Trama" um grupo de
nove artistas. "Há uma quantidade orquestral maior, o que
combina com uma mudança de
espírito também. É um disco
alegre, dentro do que é possível
na minha obra."
O trabalho do uruguaio sempre foi marcado pela melancolia, que é característica dos gêneros pelos quais passeia para
compor, principalmente a milonga do Rio da Prata e a bossa
nova brasileira.
"Acho que "Amar la Trama"
também é melancólico, mas o
que há aí é uma melancolia luminosa", explica.
As 12 faixas do álbum revelam um Drexler mais cosmopolita, que incorpora também
o jazz e o pop, e evoca Frank Sinatra quando canta em inglês
("I Dont Worry about a
Thing"). Entre as músicas de
destaque, estão "Las Transeuntes", em que volta o tema do artista viajante, e " Toque de
Queda", gravado com a mulher,
Leonor Watling, do grupo pop
espanhol Marlango.
Drexler nega que tenha se
afastado da música brasileira,
apesar de o novo álbum ser tão
influenciado pela experiência
espanhola. "Eu não preciso
gravar Pixinguinha para mostrar respeito à música brasileira. Ela tem presença forte no
que faço. Mesmo que às vezes
se manifeste sutilmente, está
no meu jeito de tocar", explica.
Em bom português, que
aprendeu nas longas temporadas que já passou por aqui, conta que tem gostado de ouvir
Marcelo Camelo e o Little Joy,
projeto do "hermano" Rodrigo
Amarante e do "stroke" Fabrizio Moretti.
Vencedor de um Oscar em
2005, pela música "Al Otro Lado del Río", para o filme "Diários de Motocicleta", de Walter
Salles, Drexler segue interessado em cinema e está fazendo a
trilha sonora para o novo filme
de Andrucha Waddington, uma
coprodução espanhola.
AMAR LA TRAMA
Artista: Jorge Drexler
Lançamento: Warner
Preço: R$ 33,60 (em média)
Texto Anterior: Literatura: Tarcísio Filho lê poemas em São Paulo Próximo Texto: Frase Índice
|