São Paulo, sábado, 14 de maio de 2005

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POESIA/"PARA NÃO DIZER ADEUS"

Obra de Lya Luft não causa danos

ESPECIAL PARA A FOLHA

Não há ganhos, pelo menos para a literatura, em "Para Não Dizer Adeus", da campeã de vendas Lya Luft. Tampouco maiores danos. Neste livro, ela reúne 64 poemas escritos ao longo dos anos, às vezes anotados na margem dos papéis em que ela escrevia seus romances, como conta na apresentação. São poemas que, como o sucesso "Perdas & Ganhos", procuram falar da vida, ou melhor, refletir sobre a existência a partir do conceito elaborado no livro anterior: de que viver é perder e ganhar, como se houvesse aí um jogo de compensação.
Todos os seus poemas parecem trazer esta mesma mensagem. Sim, mensagem. É evidente o tom de ensinamento, de conselho, de voz da experiência da autora. É deste lugar que ela fala: de quem viveu e retirou do fundo de cada fato uma pedra polida de sabedoria. Para o crítico, pouco haveria para comentar, pois a autora se impõe com a autoridade que os mais de 500 mil exemplares vendidos de sua obra, em pouquíssimo tempo, lhe deram.
Lya Luft destacou-se, em 2003, quando lançou "Perdas & Ganhos". Seu best-seller caiu como uma luva nas mãos de leitoras e leitores ávidos por querer resolver os conflitos que enfrentavam no dia-a-dia, principalmente dentro de casa, nos relacionamentos conturbados entre homem e mulher, e nos desencontros entre pais e filhos.
Lya Luft, aliando uma escrita objetiva e clara, elaborada durante anos de atividade literária e acadêmica, a uma experiência de vida que pareceu lhe conferir um conhecimento prático excepcional, escreveu um livro que tinha um texto de qualidade e com forte potencial de vendas.
Nos seus poemas, esta mesma característica que fez o sucesso do outro livro reaparece, mas em versos. Diz a poeta: "Com as perdas só há um jeito:/ perdê-las./ Com os ganhos,/ o proveito é saborear cada um/ como uma fruta boa da estação". Há um pecado que se pode apontar de saída: é a escolha de imagens por demais batidas, como "douradas borboletas" e tantas outras parecidas. Imagens que já nos chegam lavadas por séculos de literatura e sem força de impacto.
Não que sejam simples -a simplicidade quando bem usada dá na poesia complexa de Manuel Bandeira. Aqui, são fórmulas poéticas desgastadas, até um pouco preguiçosas -o que não é perdoável numa autora que traduziu Thomas Mann, Günter Grass e o genial Sebald, entre outros.
Mas isso é o de menos: o que pode incomodar o leitor mais atento é a ideologia que se vende a preço de simplicidade, de otimismo e coração oferto: que a perda é inevitável e os ganhos são saborosos. É esta faceta que se repete a torto e a direito no livro e faz com que seus melhores momentos -principalmente quando ela lembra a figura do pai ou fala da mãe doente que já não reconhece mais a filha- se percam num ensinamento que nem sempre funciona quando o gênero é o lírico. (HF)


Para Não Dizer Adeus
  

Autora: Lya Luft
Editora: Record
Quanto: R$ 24,90 (144 págs.)


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