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POESIA/"PARA NÃO DIZER ADEUS"
Obra de Lya Luft não causa danos
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não há ganhos, pelo menos
para a literatura, em "Para
Não Dizer Adeus", da campeã de
vendas Lya Luft. Tampouco
maiores danos. Neste livro, ela
reúne 64 poemas escritos ao longo dos anos, às vezes anotados na
margem dos papéis em que ela escrevia seus romances, como conta
na apresentação. São poemas que,
como o sucesso "Perdas & Ganhos", procuram falar da vida, ou
melhor, refletir sobre a existência
a partir do conceito elaborado no
livro anterior: de que viver é perder e ganhar, como se houvesse aí
um jogo de compensação.
Todos os seus poemas parecem
trazer esta mesma mensagem.
Sim, mensagem. É evidente o tom
de ensinamento, de conselho, de
voz da experiência da autora. É
deste lugar que ela fala: de quem
viveu e retirou do fundo de cada
fato uma pedra polida de sabedoria. Para o crítico, pouco haveria
para comentar, pois a autora se
impõe com a autoridade que os
mais de 500 mil exemplares vendidos de sua obra, em pouquíssimo tempo, lhe deram.
Lya Luft destacou-se, em 2003,
quando lançou "Perdas & Ganhos". Seu best-seller caiu como
uma luva nas mãos de leitoras e
leitores ávidos por querer resolver
os conflitos que enfrentavam no
dia-a-dia, principalmente dentro
de casa, nos relacionamentos
conturbados entre homem e mulher, e nos desencontros entre
pais e filhos.
Lya Luft, aliando uma escrita
objetiva e clara, elaborada durante anos de atividade literária e acadêmica, a uma experiência de vida que pareceu lhe conferir um
conhecimento prático excepcional, escreveu um livro que tinha
um texto de qualidade e com forte
potencial de vendas.
Nos seus poemas, esta mesma
característica que fez o sucesso do
outro livro reaparece, mas em
versos. Diz a poeta: "Com as perdas só há um jeito:/ perdê-las./
Com os ganhos,/ o proveito é saborear cada um/ como uma fruta
boa da estação". Há um pecado
que se pode apontar de saída: é a
escolha de imagens por demais
batidas, como "douradas borboletas" e tantas outras parecidas.
Imagens que já nos chegam lavadas por séculos de literatura e sem
força de impacto.
Não que sejam simples -a simplicidade quando bem usada dá
na poesia complexa de Manuel
Bandeira. Aqui, são fórmulas
poéticas desgastadas, até um pouco preguiçosas -o que não é perdoável numa autora que traduziu
Thomas Mann, Günter Grass e o
genial Sebald, entre outros.
Mas isso é o de menos: o que pode incomodar o leitor mais atento
é a ideologia que se vende a preço
de simplicidade, de otimismo e
coração oferto: que a perda é inevitável e os ganhos são saborosos.
É esta faceta que se repete a torto e
a direito no livro e faz com que
seus melhores momentos -principalmente quando ela lembra a
figura do pai ou fala da mãe doente que já não reconhece mais a filha- se percam num ensinamento que nem sempre funciona
quando o gênero é o lírico.
(HF)
Para Não Dizer Adeus
Autora: Lya Luft
Editora: Record
Quanto: R$ 24,90 (144 págs.)
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