São Paulo, sábado, 14 de maio de 2005

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ÓPERA/CRÍTICA

Wagner ganha montagem correta

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO A MANAUS

Montar ópera já é difícil, e produzir óperas de Wagner traz algumas dificuldades suplementares. Elas exigem cantores com técnicas vocais diferenciadas, orquestras predispostas a récitas bem mais longas e ambigüidades narrativas que exigem opções mais numerosas dos diretores cênicos. Pois nada disso constrangeu o parto da primeira produção brasileira de "O Anel do Nibelungo", ciclo de quatro óperas de Richard Wagner (1813-1883) encerrado anteontem em Manaus.
Uma segunda e última série de récitas começa hoje e termina na próxima quinta. Com ambas, o Brasil quebra um jejum mantido desde 1922, quando uma companhia alemã encenou no Rio a "Tetralogia" ou o "Ring".
Era um empreendimento que tinha tudo para dar errado. Não deu, em razão do casamento da vontade política de um governo relativamente pobre -a Secretaria da Cultura do Amazonas reservou R$ 2 milhões de seu orçamento e saiu à caça de R$ 1,5 milhão de patrocínio privado- e da obstinação de um maestro, Luiz Fernando Malheiro.
Ele aqueceu suas turbinas desde 2002, quando montou "A Valquíria". Viriam a seguir "Siegfried" e ainda "O Crepúsculo dos Deuses". A quarta ópera, "O Ouro do Reno", seria montada apenas neste ano, ao lado das três outras para o ciclo completo. Malheiro soube escolher um elenco de 21 cantores, dos quais só quatro são estrangeiros ou não-residentes no Brasil. A vantagem estava em contratá-los em reais. E de permitir que mergulhassem profissionalmente num repertório só freqüentado nos conservatórios em que estudaram canto.
Wagner exige em geral "vozeirões", mas o Teatro Amazonas é um espaço de tamanho médio. As vozes não precisam em geral se expor a longas récitas com uma emissão acima de cem decibéis. O desempenho das vozes foi bastante homogêneo -o que bastou para espetáculos de felicidade lírica.
Há por fim a coerência nas idéias de um grande diretor cênico que recebia a oportunidade de montar uma primeira integral com sua assinatura. O inglês Aidan Lang mistura experimentalismo de concepção com um rigor extremo na marcação.
Para exemplificar: em "O Crepúsculo dos Deuses", duas das cenas se passam num centro cirúrgico. É uma metáfora extrema da patologia e da morte. E, de fato, é para o local que o corpo de Siegfried -o herói que não sente medo- é levado e em seguida cremado no final do terceiro ato.
A preparação dessas 16 horas de ópera foi relativamente barata porque envolveu 2.400 pessoas que a Secretaria da Cultura local treina desde 1998. Sabem fazer teatro e ópera. Pois que levem o know-how a outros Estados.


João Batista Natali viajou a convite da Secretaria da Cultura do Amazonas

O Anel do Nibelungo
Quando: dias 14, 15, 18 e 19/5
Onde: Teatro Amazonas (pça. São Sebastião, s/n, centro, tel. 0/xx/92-232-1768)
Quanto: R$ 5 a R$ 50


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