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ÓPERA/CRÍTICA
Wagner ganha montagem correta
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO A MANAUS
Montar ópera já é difícil, e produzir óperas de Wagner traz algumas dificuldades suplementares.
Elas exigem cantores com técnicas vocais diferenciadas, orquestras predispostas a récitas bem
mais longas e ambigüidades narrativas que exigem opções mais
numerosas dos diretores cênicos.
Pois nada disso constrangeu o
parto da primeira produção brasileira de "O Anel do Nibelungo",
ciclo de quatro óperas de Richard
Wagner (1813-1883) encerrado
anteontem em Manaus.
Uma segunda e última série de
récitas começa hoje e termina na
próxima quinta. Com ambas, o
Brasil quebra um jejum mantido
desde 1922, quando uma companhia alemã encenou no Rio a "Tetralogia" ou o "Ring".
Era um empreendimento que
tinha tudo para dar errado. Não
deu, em razão do casamento da
vontade política de um governo
relativamente pobre -a Secretaria da Cultura do Amazonas reservou R$ 2 milhões de seu orçamento e saiu à caça de R$ 1,5 milhão de patrocínio privado- e da
obstinação de um maestro, Luiz
Fernando Malheiro.
Ele aqueceu suas turbinas desde
2002, quando montou "A Valquíria". Viriam a seguir "Siegfried" e
ainda "O Crepúsculo dos Deuses". A quarta ópera, "O Ouro do
Reno", seria montada apenas neste ano, ao lado das três outras para
o ciclo completo. Malheiro soube
escolher um elenco de 21 cantores, dos quais só quatro são estrangeiros ou não-residentes no
Brasil. A vantagem estava em
contratá-los em reais. E de permitir que mergulhassem profissionalmente num repertório só freqüentado nos conservatórios em
que estudaram canto.
Wagner exige em geral "vozeirões", mas o Teatro Amazonas é
um espaço de tamanho médio. As
vozes não precisam em geral se
expor a longas récitas com uma
emissão acima de cem decibéis. O
desempenho das vozes foi bastante homogêneo -o que bastou para espetáculos de felicidade lírica.
Há por fim a coerência nas
idéias de um grande diretor cênico que recebia a oportunidade de
montar uma primeira integral
com sua assinatura. O inglês Aidan Lang mistura experimentalismo de concepção com um rigor
extremo na marcação.
Para exemplificar: em "O Crepúsculo dos Deuses", duas das cenas se passam num centro cirúrgico. É uma metáfora extrema da
patologia e da morte. E, de fato, é
para o local que o corpo de Siegfried -o herói que não sente medo- é levado e em seguida cremado no final do terceiro ato.
A preparação dessas 16 horas de
ópera foi relativamente barata
porque envolveu 2.400 pessoas
que a Secretaria da Cultura local
treina desde 1998. Sabem fazer
teatro e ópera. Pois que levem o
know-how a outros Estados.
João Batista Natali viajou a convite da
Secretaria da Cultura do Amazonas
O Anel do Nibelungo
Quando: dias 14, 15, 18 e 19/5
Onde: Teatro Amazonas (pça. São
Sebastião, s/n, centro, tel. 0/xx/92-232-1768)
Quanto: R$ 5 a R$ 50
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