São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DVDS

CRÍTICA

Diretor assina episódio inicial da série musical; Wenders também participa

Scorsese comanda viagem em busca do espírito do blues

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apoiada no prestígio do cineasta Martin Scorsese e em aparições de vários astros da música, a série "The Blues" (2003) chega ao formato DVD, um ano depois de ser exibida na TV paga brasileira. Aqui o lançamento foi planejado em duas fases: só quatro dos sete longas-metragens que a compõem já estão nas lojas.
Produtor-executivo do projeto, Scorsese também assina o episódio inicial. Em depoimento incluído no DVD, ele conta que pensou em imprimir à série um tom semelhante ao de outros documentários que já fez, como "Il Mio Viaggio in Italia", espécie de "viagem" analítica pelos filmes italianos que o influenciaram.
Para mergulhar no universo do blues (gênero que serve de matriz para toda a música negra norte-americana do século 20), Scorsese preferiu dividir a tarefa. Entregou os episódios restantes a seis cineastas que, como ele, têm uma relação próxima com a música.
Quem espera encontrar algo mais convencional, na linha da série correlata de Ken Burns ("Jazz", 2001), pode estranhar. Além de não narrar a história do blues de maneira cronológica, a série inclui até episódios que recorrem à ficção.
"Talvez, com os sete filmes reunidos, você consiga uma imagem melhor da essência do blues. Você precisa sentir o espírito da música, em vez de só exibir fatos", justifica Scorsese.
O primeiro episódio, "Feel Like Going Home", é o mais ambicioso. A câmera de Scorsese acompanha o bluesman Corey Harris em uma singela peregrinação por cidades do delta do rio Mississipi, no sul dos EUA. Depois de tocar com carismáticos veteranos do gênero, como Willie King, Otha Turner e Taj Mahal, Harris segue para Mali, na África Ocidental.
Ali, o peregrino transforma-se em pesquisador: encontra semelhanças musicais que revelam a ancestralidade africana do blues.
Em "The Soul of a Man", Wim Wenders optou por um viés bem pessoal. Misturando fotos e filmes antigos com cenas ficcionais, recupera as histórias de seus músicos favoritos: Blind Willie Johnson, Skip James e J. B. Lenoir.
"Warming by the Devil's Fire", de Charles Burnett, é o episódio que mais dá espaço à ficção. O enredo um garoto é introduzido ao universo da música negra norte-americana por seu tio "bon vivant" serve de artifício narrativo para que o cineasta recupere imagens e obras de vários bluesmen hoje quase esquecidos.
Já o inglês Mike Figgis reuniu medalhões do jazz e do pop de seu país, para lembrar como o blues foi redescoberto na Inglaterra dos anos 50 e devolvido aos EUA sob a forma de rock. Que venham logo os restantes.


Carlos Calado é jornalista e crítico musical, autor do livro "A Divina Comédia dos Mutantes", entre outros

The Blues
Direção:
Martin Scorsese, Wim Wenders, Charles Burnett, Mike Figgis Distribuição: Focus Filmes (R$ 150, a caixa com quatro DVDs)


Texto Anterior: "Will & Grace" e "Alias" se despedem
Próximo Texto: Nas lojas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.