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DVDS
CRÍTICA
"Bonequinha de Luxo" e "Uma Cruz à Beira do Abismo" ganham edição
Filmes contrastantes expõem encanto de Audrey Hepburn
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Dois filmes que chegam ao
DVD servem de amostra do
incomparável encanto de Audrey
Hepburn (1929-93): "Uma Cruz à
Beira do Abismo" (1959) e "Bonequinha de Luxo" (1961). Os dois
não poderiam ser mais contrastantes.
O primeiro é um pesado drama
moral, no qual Audrey é uma freirinha belga que, depois de muita
batalha no interior da sua ordem
religiosa, vai ao Congo trabalhar
como enfermeira.
O assunto é enunciado pelo pai
da moça, um renomado médico,
quando está prestes a entregá-la
às freiras como noviça: "Não imagino alguém com sua independência de espírito obedecendo
aos comandos de um sino". O filme pode ser lido como uma longa
ilustração dessa frase.
Os dilemas espirituais da freira,
seus conflitos com a ordem, os
obstáculos que enfrenta para
exercer sua missão, tudo isso é
narrado da maneira que o diretor
Fred Zinnemann considerava
"profunda": redundância expositiva, solenidade, música altissonante, ausência de humor.
Não é um trabalho totalmente
datado graças à depurada interpretação de Audrey, na qual as
emoções mais sutis têm que ser
expressas em silêncio e com um
mínimo de gestos. À parte isso, há
uma seqüência notável: a do medievalesco hospício feminino.
"Bonequinha de Luxo" é todo o
contrário. Baseado no romance
de Truman Capote, é uma comédia romântica com a leveza habitual de Blake Edwards. Mais que
isso: é um daqueles filmes raros
que consolidam um mito cinematográfico -no caso, o mito de
Audrey Hepburn.
No papel da avoada garota de
programa Holly Golightly, por
quem se apaixona um escritor
meio encostado (George Peppard), Audrey consegue a proeza
de transformar a vulgaridade em
elegância e a futilidade em artigo
de primeira necessidade.
Os temas cômicos -a atuação
inocente de Holly como cúmplice
da Máfia, as festas malucas que
sacodem seu apartamento, o histérico vizinho japonês- se imbricam naturalmente ao entrecho
romântico, pontuado pela canção
"Moon River", de Henry Mancini.
Uma música tão irresistível
quanto ver Audrey comendo um
brioche de padaria diante da vitrine da Tiffany's, ou o primeiro beijo do casal central, depois de tirar
as máscaras infantis de gatos que
tinham roubado de uma loja.
Nos alentados extras, que incluem entrevista do filho da atriz,
ficamos sabendo que os produtores queriam Marilyn Monroe no
papel que consagrou Audrey. Teria sido sexy e divertido, sem dúvida. Mas não tão sublime.
Bonequinha de Luxo
Direção: Blake Edwards
Distribuidora: Paramount (R$ 29,90)
Cruz à Beira do Abismo
Direção: Fred Zinnemann
Distribuidora: Warner (R$ 29,90)
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