São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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DVDS

CRÍTICA

"Bonequinha de Luxo" e "Uma Cruz à Beira do Abismo" ganham edição

Filmes contrastantes expõem encanto de Audrey Hepburn

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Dois filmes que chegam ao DVD servem de amostra do incomparável encanto de Audrey Hepburn (1929-93): "Uma Cruz à Beira do Abismo" (1959) e "Bonequinha de Luxo" (1961). Os dois não poderiam ser mais contrastantes.
O primeiro é um pesado drama moral, no qual Audrey é uma freirinha belga que, depois de muita batalha no interior da sua ordem religiosa, vai ao Congo trabalhar como enfermeira.
O assunto é enunciado pelo pai da moça, um renomado médico, quando está prestes a entregá-la às freiras como noviça: "Não imagino alguém com sua independência de espírito obedecendo aos comandos de um sino". O filme pode ser lido como uma longa ilustração dessa frase.
Os dilemas espirituais da freira, seus conflitos com a ordem, os obstáculos que enfrenta para exercer sua missão, tudo isso é narrado da maneira que o diretor Fred Zinnemann considerava "profunda": redundância expositiva, solenidade, música altissonante, ausência de humor.
Não é um trabalho totalmente datado graças à depurada interpretação de Audrey, na qual as emoções mais sutis têm que ser expressas em silêncio e com um mínimo de gestos. À parte isso, há uma seqüência notável: a do medievalesco hospício feminino.
"Bonequinha de Luxo" é todo o contrário. Baseado no romance de Truman Capote, é uma comédia romântica com a leveza habitual de Blake Edwards. Mais que isso: é um daqueles filmes raros que consolidam um mito cinematográfico -no caso, o mito de Audrey Hepburn.
No papel da avoada garota de programa Holly Golightly, por quem se apaixona um escritor meio encostado (George Peppard), Audrey consegue a proeza de transformar a vulgaridade em elegância e a futilidade em artigo de primeira necessidade.
Os temas cômicos -a atuação inocente de Holly como cúmplice da Máfia, as festas malucas que sacodem seu apartamento, o histérico vizinho japonês- se imbricam naturalmente ao entrecho romântico, pontuado pela canção "Moon River", de Henry Mancini.
Uma música tão irresistível quanto ver Audrey comendo um brioche de padaria diante da vitrine da Tiffany's, ou o primeiro beijo do casal central, depois de tirar as máscaras infantis de gatos que tinham roubado de uma loja.
Nos alentados extras, que incluem entrevista do filho da atriz, ficamos sabendo que os produtores queriam Marilyn Monroe no papel que consagrou Audrey. Teria sido sexy e divertido, sem dúvida. Mas não tão sublime.


Bonequinha de Luxo
    
Direção:
Blake Edwards
Distribuidora: Paramount (R$ 29,90)

Cruz à Beira do Abismo
  
Direção:
Fred Zinnemann
Distribuidora: Warner (R$ 29,90)



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