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CINEMA
Ator mexicano comenta seu novo filme e lembra início da carreira
Gael Garcia Bernal vive psicopata em "The King"
CHRIS SULLIVAN
DO "INDEPENDENT"
"Tenho muita sorte por ter me
tornado conhecido fazendo algo
de que gosto tanto", diz Gael Garcia Bernal. "Não procurei a fama,
mas ela me permite o conforto de
contar diferentes histórias e de
continuar a fazer o trabalho que
amo. Por isso, não posso me queixar. Nós atores somos muito afortunados."
Bernal atingiu o estrelato em
"Amores Brutos" (2000), de Alejandro Inarritu, interpretando
Octavio, um jovem que gosta
muito de cachorros. Desde então,
Garcia se destacou
em diversos papéis complexos.
Ele foi um adolescente sexualmente potente em
"E Sua Mãe Também" (2001), um
padre lascivo
mancomunado
com traficantes de
drogas mexicanos
em "O Crime do
Padre Amaro"
(2002), um travesti dúplice em "Má
Educação" (2004),
de Pedro Almodóvar, e interpretou
o jovem Che Guevara em "Diários
de Motocicleta" (2004), de Walter
Salles.
Em seu mais recente filme, "The
King" (o rei), ele volta a deslumbrar, dessa vez como Elvis, o filho
de uma prostituta mexicana que
rastreia e localiza seu pai (William
Hurt), um cristão vociferante, em
Corpus Christi, Texas. Elvis se infiltra na família dele e causa tumulto. O filme chega ao Brasil
neste mês, direto no formato
DVD (distribuição Focus Filmes).
"Tive muita sorte quanto aos
papéis que me foram oferecidos e
um começo excelente com "Amores Brutos'", diz Garcia. "Mas, de
lá para cá, venho tentando ser seletivo", ele prossegue, "e escolher
coisas de maneira muito instintiva e orgânica. Eu posso ler o roteiro e conversar, mas, ocasionalmente, minha decisão se baseia
em minha reação imediata. Recebo ofertas de Hollywood o tempo
todo, mas não dá para compará-las com as coisas
que fiz até agora.
Qualidade e integridade artística
não têm preço, para mim. Só quero
interpretar personagens que eu
considere interessantes."
Dificuldades
"Talvez os dois
trabalhos mais desafiadores que fiz
até hoje", acrescenta, "tenham sido em "Diários de
Motocicleta" e "Má
Educação". Interpretar Che foi
uma grande responsabilidade, e
as filmagens foram muito difíceis."
Garcia, que no passado trabalhou como professor, alfabetizando os índios huicholes, no México, tomou parte no levante pacífico do Estado mexicano de Chiapas, em 1994, e já se pronunciou
contra a Guerra no Iraque. Para
"Diários de Motocicleta" ele passou meses vivendo em função de
Guevara. Participou de seminários sobre o clima cultural e político da América Latina naquela
época, conversou longamente
com Alberto Granados, 94, o
companheiro real de Guevara em
suas viagens, e aprendeu a dirigir
a motocicleta Norton, modelo
1939. "Tentei absorver tudo que
podia sobre Ernesto [Che] e pedi
permissão aos deuses do cinema.
Porque é preciso consentimento
para interpretar esse papel."
Em "Má Educação", as dificuldades foram muito diferentes.
"Me vestir de mulher foi muito interessante e, de certa forma, libertador. Alguns dos meus amigos
homens disseram que eu fiquei
bastante atraente... Eu não sabia
direito como reagir a isso."
"Mas o personagem com o qual
eu tenho a maior afinidade é o Julio de "E Sua Mãe...'", ele prossegue. "Venho de
uma família mexicana de classe média parecida com
a de Julio, e o filme
trata de uma jornada emocional
que vivemos. Era
uma jornada comum, em que todos nos reconhecemos."
Pedreiro
Para Garcia, a
jornada começou
em Guadalajara,
México, em 1978.
Filho de um casal
de atores intelectualizados e esquerdistas, ele começou a interpretar aos 11 anos, na novela mexicana "Teresa". "Não era realmente
interpretação. Eu só participava.
Não fazia o que faço agora."
Em 1996, o ator se matriculou
na Central School of Speech and
Drama, em Londres, e se sustentava trabalhando como pedreiro e
como barman em um bar de Islington curiosamente batizado
Cuba Libre. Nenhuma dessas experiências o preparou para interpretar Elvis, personagem de "The
King".
"Elvis foi um desafio completamente novo, mas eu abordei "The
King" como faria com qualquer
outro papel, mesmo que ele seja
um psicopata. Comecei pelo sotaque, e o desenvolvi a partir disso,
com as roupas, a música que ele
ouve. Pratiquei e ensaiei, e tentei
levar em conta todos os diferentes
ritmos da história."
"The King" -dirigido pelo documentarista inglês James Marsh
e co-produzido e co-roteirizado
por Milo Addica- confronta a
convicção religiosa perguntando se
as pessoas mais
pias e temerosas a
Deus são realmente capazes de
perdoar o mal puro. O filme certamente irritará os
fundamentalistas.
"Alguns evangélicos se incomodarão", diz. "Mas
é uma boa visão
introspectiva sobre a fé. A religião
me interessa afinal, sou mexicano. Meu personagem em "Má Educação" deixa de
acreditar em Deus por causa do
que aconteceu a ele, e fui um padre em "Padre Amaro", mas a fé
sempre ocupará um lugar, ainda
que subliminar, em qualquer história que seja honesta."
Para o afável Garcia, o futuro
parece róseo. Ele voltou a trabalhar com Inarritu em "Babel", na
companhia de Cate Blanchett e
Brad Pitt, um dos 19 filmes na
competição oficial de Cannes neste ano. Está aguardando o lançamento de "The Science of Sleep"
[a ciência do sono, 2006], dirigido
por Michel Gondry. Em pré-produção, ele tem "Passado", de Hector Babenco, e sua estréia como
diretor, em "Deficit".
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