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Arrabal e Thomas trocam farpas em evento no RS
Em Porto Alegre, dramaturgos fizeram provocações mútuas e ironizaram obras
Rusga entre espanhol e brasileiro mudou planos do Fronteiras do Pensamento, que faria um debate com os dois juntos no palco
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
As palestras de Fernando Arrabal e Gerald Thomas, anteontem à noite, no evento Fronteiras do Pensamento, em Porto
Alegre, frustraram a platéia. O
dramaturgo espanhol Arrabal,
por excesso; o diretor e também dramaturgo Thomas, por
falta. Após mais de uma hora de
fala, em que chegou a fazer o
público rir com "causos" de
personalidades com quem conviveu, como Pablo Picasso, Arrabal deixou o palco do Salão de
Atos da UFRGS sem dar um
ponto final à palestra.
Já Thomas apresentou trechos de alguns de seus espetáculos em vídeo e, afirmando
que não tinha discurso pronto,
propôs responder perguntas do
público. Saiu meia hora depois.
"Debates como esse não são
frutíferos, portanto, vou dizer
boa noite, e o resto é hipocrisia", disse o brasileiro, vaiado
pelo público, que pagou mais de
R$ 500 pelo pacote de ingressos das palestras ao longo deste
ano. A organização do evento
havia inicialmente planejado
ter Arrabal e Thomas lado a lado no palco e, após a suposta
conferência de cada um, haveria meia hora de debate. A programação sofreu mudanças depois de um jantar, na noite do
domingo, em que os dois convidados se desentenderam.
As entrevistas coletivas com
os dois convidados, que deveriam ter sido feitas em conjunto anteontem à tarde, acabaram sendo separadas. E Arrabal
e Thomas não quiseram nem se
cruzar em frente ao elevador.
Já na entrevista, questionado
pela reportagem da Folha sobre se havia conhecido seu colega de conferência, Arrabal
respondeu: "Quem é esse homem? Nunca ouvi falar. Um
matemático?". Na entrevista,
Arrabal lembrou sua amizade
com o dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989).
Beckett, com quem Thomas
conviveu e se correspondeu,
deveria ter sido ponto de interseção e de partida para as palestras de ambos.
Thomas, que na sua curta palestra mostrou nos telões uma
foto em que aparece conversando com Beckett, referiu-se a
Arrabal como "esse homem de
uma peça só e que é imitação
de Beckett". "Ele, não me lembro bem o nome dele, acho que
"Enrabal", tem ciúme por causa
da minha relação de seis anos
com o Beckett."
Mesmo sem falar diretamente sobre sua obra no cinema ou
teatro, ou ainda a criação do
grupo de teatro Pânico e seu
envolvimento com o surrealismo, Arrabal chegou a fazer o
público rir: "Sou um personagem desconhecido. Mas sabem
por que estou aqui? Porque sou
o dramaturgo mais representado do mundo. Porque todos os
meus colegas já morreram."
Em seguida, Thomas subiu
ao palco dizendo que já havia
superado um pouco o teatro do
ridículo, referindo-se à apresentação de Arrabal.
Em outra provocação ao dramaturgo, Thomas disse: "Tinham pedido para eu não falar
do Franco [ditador espanhol,
durante o regime do qual Arrabal esteve preso]. Por que não?
Sou neto de vítimas do Holocausto e podem falar de Hitler
comigo. Tem que brincar com a
tragédia da vida."
O jornalista EDUARDO SIMÕES viajou a convite
do Fronteiras do Pensamento
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