São Paulo, Sexta-feira, 14 de Maio de 1999
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Jogos de luz de Caravaggio foram influência

do enviado a Madri

Diego Rodríguez de Silva y Velázquez nasceu em Sevilha em uma época em que a cidade era o mais importante centro cultural e comercial da Espanha, então a nação mais rica do mundo.
Sua transferência para Madri se deu em 1623, ano em que realizou seu primeiro retrato de Felipe 4º. O rei gostou tanto do trabalho que não permitiu mais que outro pintor o retratasse.
Além de uma escola que servia aos interesses pessoais da classe dominante, a pintura da corte, grande filão do pintor, também supria uma necessidade burocrática, já que muitas de suas obras tinham como destino os palácios, embaixadas e repartições públicas.
Já pintor da corte, realizou duas viagens para a Itália, onde teve contato com obras de Caravaggio, artista que deixou uma marca indelével em sua produção.
Telas como "O Triunfo de Baco" (1929), por exemplo, realizada durante sua estadia em Roma, apresenta a predileção de Velázquez por cenas mais concisas ou em interiores e pelos jogos de luz, características frequentes nos trabalhos do italiano.
Outra característica que aproxima o espanhol do maneirista é a humanização dos deuses e a adequação de um tema mitológico clássico à realidade cotidiana, como em "A Forja de Vulcano" (1630), em que colocou lado a lado divindades e seres humanos.
Ao tratamento de luz apregoado por Caravaggio, Velázquez acrescentou uma nova concepção de espaço, influência dos pintores venezianos, como Veronese e Bellini. Com eles, a paisagem começou a ganhar destaque em sua relação com as figuras humanas.
A privilegiada posição de pintor da corte permitiu que Velázquez vivesse sempre com bastante conforto, entretanto ele não se prendeu apenas à representação da classe dominante e retratou com dignidade ímpar figuras marginais da corte espanhola, como anões e bufões.
Para alguns deles, criou fundos neutros, espaços etéreos que sublinham o caráter sublime desses personagens.
"As Meninas" (1656), a mundialmente conhecida obra-prima do pintor, reúne os dois grupos: nobres e desfavorecidos.
A tela representa a infanta Margarida rodeada por damas de companhia (as chamadas "meninas", palavra importada de Portugal, na época, anexado à Espanha).
Apresenta a corte de forma saudosista, já que retrata a pompa da família real em um momento que o império espanhol está perto do colapso. Tela repleta de sugestões, demonstra que Velázquez deve ser visto não como realista, mas a partir de seus simbolismos. (CF)


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