São Paulo, Sexta-feira, 14 de Maio de 1999
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NETVOX
Praga de e-mail pega

MARIA ERCILIA
Editora de Internet

Imagine acordar e encontrar sua caixa postal cheia dos mais apavorantes xingamentos. Do nada.
Foi o que aconteceu com Jean Boechat, um designer de São Paulo. "Um rapaz do interior do Estado do Espírito Santo, que vendia cosméticos, resolveu expandir suas vendas", conta ele.
O vendedor de cosméticos tinha recebido vários e-mails de empresas que ofereciam "serviços de marketing" por e-mail. Um dia, ele resolve contratar uma dessas empresas para mandar uma mala direta para 4.000 pessoas.
Só que ele ficou preocupado, e pediu à empresa que não mandasse tudo de uma só vez. Tarde demais. Os e-mails já tinham sido todos enviados e logo começaram a aparecer as reclamações.
Como a empresa do rapaz se chamava Schwan e Boechat, os distribuidores inventaram um e-mail assim, para disfarçar a origem do spam: schwan@boechat.com
Justamente o endereço que já havia sido registrado por Jean Boechat, que não tinha nada a ver com a história, mas em poucas horas foi consignado ao inferno dos spammers. Seu nome entrou numa lista negra e ele teve que esperar pacientemente o fim da saraivada de e-mails.
É impressionante como se pode ir longe com algumas dúzias de e-mails.
Veja o que aconteceu com a jornalista Mary Schmich, por exemplo. Ela nunca tinha pensado em ser famosa ou em escrever um livro, até que um dia alguém raptou uma coluna que ela tinha escrito para o "Chicago Tribune" e a enviou para centenas de pessoas, com o seguinte título: "Discurso de Kurt Vonnegut Jr. para uma turma de formandos do Massachussetts Institute of Technology".
A coluna consistia numa lista de conselhos para quem está começando a vida, alguns sérios, outros irônicos, começando por "Use filtro solar".
Nada a ver com nada que Vonnegut já tenha escrito; mas a história pegou.
O e-mail rodou mundo pelo menos duas vezes. Virou notícia em jornais sérios, que engoliram a história toda e depois tiveram de se retratar.
Acabou por ir parar nas mãos do próprio Kurt Vonnegut, que recebeu a confusão com mau humor: "Então algum imbecil infectou a Internet com uma mentira absurda? Só mostra como isso é fácil de fazer e como as pessoas são crédulas."
Ou, pelo menos, como suspendem totalmente a descrença ao ler os seus e-mails.
Tudo isso aconteceu nos idos de 97. Schmich se animou tanto com a súbita popularidade que transformou a coluna em um livro, chamado "Use Protetor Solar - Um Guia para a Vida Real".
Mas melhor parte da saga ainda estava por vir. Baz Luhrmann, diretor do filme "Romeu e Julieta", comprou os direitos de gravação da coluna e a usou como letra de música.
Como se não bastasse, a canção entrou há pouco tempo na lista das músicas mais tocadas nas rádios, nos EUA. Quem quiser matar a curiosidade, pode ouvir um pedacinho no site da CDNow. É ruim demais, tanto que chega a ser engraçado -tem um fundo musical meio dance, enquanto alguém recita as palavras do texto. E só.
Isso já faz mais de um ano e os sensatos conselhos de Mary Schmich continuam firmes em sua carreira, infestando a mídia como um vírus dos mais resistentes.
Para completar, só faltava uma paródia infame da música/coluna. Ela existe, e se chama "Not the Sunscreen Song" -foi escrita por um compatriota de Luhrman, chamado John Safran, que acabou por conseguir gravar um single com ela, à venda em várias lojas de discos da Internet.
Mais surpreendente ainda, encontrou quem o comprasse.

Giga Power leva festival de cinema virtual
O Giga Power Synth (sites.uol.com.br/kekilda/synth) acaba de ganhar o Festival de Cinema Virtual do Recife (cinemavirtual.cesar.org.br/). Quem assina a obra em Flash é Keka Marzagão; o som -tecno- é de Arthur Guidi

Satírico
O japonês Katsurao fez algumas paródias da campanha do iMac, da Apple, mas a exposição em seu site não durou muito tempo. Veja o que aconteceu em: http://www7.big.or.jp/katsurao/fp/f-inax.htm
E-mail: ercilia@folhasp.com.br


O colunista José Simão está em férias.

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