São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2000


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SHOW
Banda traz música de amanhã

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
DE SAN FRANCISCO

Um pesadelo psicodélico acontece num ponto equidistante entre o rock de guitarras e a música eletrônica.
É a nova excursão dos britânicos do grupo Primal Scream, que tocaram na semana passada em San Francisco (Califórnia, oeste dos EUA).
Entre a suposta felicidade química das raves e a testosterona do rock tradicional, a platéia reflete a variedade sonora do Primal Scream.
Há de tudo: cabeludos (alguns deles no palco), clubbers, modelos, desavisados.
Na primeira música, "Swastika Eyes", todos se deixam levar pela ilusão de que vai acontecer um show de rock.
Estão ali as guitarras em fúria, e a letra, de protesto político, atira contra tudo e contra todos.
De repente, entra em cena mais um guitarrista (são três no total), ninguém menos do que uma lenda viva.
É Kevin Shields, fundador do My Bloody Valentine, copiado por dez entre dez grupos alternativos brasileiros.
Quando o que se esperava era um oceano de distorção lisérgica, a apresentação toma um rumo bastante diferente.
Vem até uma faixa instrumental, várias eletrônicas, uma delas puro disco.
O vocalista e líder do grupo, Bobby Gillespie, sai do palco, e quem assume o papel central é o baixo de Mani, ex-Stone Roses.
A destruição implacável que os primeiros minutos de show anunciavam ganha outras cores.
O Primal Scream, acreditamos então, é mesmo para dançar, como os Chemical Brothers e Moby.
Mas será mesmo?
Chega a vez da niilista "Kill All Hippies", do disco novo, "Xtrmntr", e a partir daí embarcamos numa viagem só de ida em meio a uma tempestade incontrolável de dissonância, "grooves" e teclados dançantes.
Chega a vez de "Rocks", descaradamente influenciada por "Rocks Off", dos Rolling Stones.
Irônico que tenha sido composta pelo Primal Scream a melhor música dos Stones nos últimos 20 anos.
Luzes estroboscópicas ultra-rápidas anunciam a abertura de "Kowalski", barulho absurdo que, sabe-se lá por qual mecanismo, faz a platéia dançar como se vivesse o último minuto de suas vidas. "Accelerator", a melhor faixa do novo CD, surge ainda mais rápida e pesada (três guitarras!), fechando repentinamente a apresentação.
Mas, a pedidos, a banda volta, e toca mais quatro, entre elas "Sick City" (totalmente Jesus and Mary Chain, onde Bobby já tocou bateria) e "Movin" On Up", que, há alguns anos, abriu caminho para o Primal Scream entre os fãs de raves.
Novo bis -cover do MC5- e mais um, "No Fun", dos Stooges.
A escolha não poderia ter sido melhor. Foi com a mesma "No Fun" que os Sex Pistols encerraram o último show de sua breve carreira, aqui mesmo em San Francisco.
Por uma noite, o Primal Scream foi como os Pistols: jovens portadores de uma boa notícia, a música de amanhã.



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