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SHOW
Banda traz música de amanhã
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
DE SAN FRANCISCO
Um pesadelo psicodélico
acontece num ponto equidistante entre o rock de guitarras
e a música eletrônica.
É a nova excursão dos britânicos do grupo Primal Scream, que
tocaram na semana passada em
San Francisco (Califórnia, oeste
dos EUA).
Entre a suposta felicidade química das raves e a testosterona do
rock tradicional, a platéia reflete a
variedade sonora do Primal
Scream.
Há de tudo: cabeludos (alguns
deles no palco), clubbers, modelos, desavisados.
Na primeira música, "Swastika
Eyes", todos se deixam levar pela
ilusão de que vai acontecer um
show de rock.
Estão ali as guitarras em fúria, e
a letra, de protesto político, atira
contra tudo e contra todos.
De repente, entra em cena mais
um guitarrista (são três no total),
ninguém menos do que uma lenda viva.
É Kevin Shields, fundador do
My Bloody Valentine, copiado
por dez entre dez grupos alternativos brasileiros.
Quando o que se esperava era
um oceano de distorção lisérgica,
a apresentação toma um rumo
bastante diferente.
Vem até uma faixa instrumental, várias eletrônicas, uma delas
puro disco.
O vocalista e líder do grupo,
Bobby Gillespie, sai do palco, e
quem assume o papel central é o
baixo de Mani, ex-Stone Roses.
A destruição implacável que os
primeiros minutos de show anunciavam ganha outras cores.
O Primal Scream, acreditamos
então, é mesmo para dançar, como os Chemical Brothers e Moby.
Mas será mesmo?
Chega a vez da niilista "Kill All
Hippies", do disco novo,
"Xtrmntr", e a partir daí embarcamos numa viagem só de ida em
meio a uma tempestade incontrolável de dissonância, "grooves" e
teclados dançantes.
Chega a vez de "Rocks", descaradamente influenciada por
"Rocks Off", dos Rolling Stones.
Irônico que tenha sido composta pelo Primal Scream a melhor
música dos Stones nos últimos 20
anos.
Luzes estroboscópicas ultra-rápidas anunciam a abertura de
"Kowalski", barulho absurdo
que, sabe-se lá por qual mecanismo, faz a platéia dançar como se
vivesse o último minuto de suas
vidas. "Accelerator", a melhor faixa do novo CD, surge ainda mais
rápida e pesada (três guitarras!),
fechando repentinamente a apresentação.
Mas, a pedidos, a banda volta, e
toca mais quatro, entre elas "Sick
City" (totalmente Jesus and Mary
Chain, onde Bobby já tocou bateria) e "Movin" On Up", que, há alguns anos, abriu caminho para o
Primal Scream entre os fãs de raves.
Novo bis -cover do MC5- e
mais um, "No Fun", dos Stooges.
A escolha não poderia ter sido
melhor. Foi com a mesma "No
Fun" que os Sex Pistols encerraram o último show de sua breve
carreira, aqui mesmo em San
Francisco.
Por uma noite, o Primal Scream
foi como os Pistols: jovens portadores de uma boa notícia, a música de amanhã.
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