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LITERATURA
A poeta mineira é tema do nono "Cadernos de Literatura Brasileira", que o Instituto Moreira Salles lança hoje
Livro revela tamanho de Adélia Prado
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REDAÇÃO
"Toda pessoa deveria receber
uma homenagem na vida. Poucas
coisas são tão incômodas, mas
nada melhor para ver o próprio
tamanho." É assim que a poeta
mineira Adélia Prado, 64, se sente
em relação à publicação do número dos "Cadernos de Literatura Brasileira" que a homenageia.
A autora estará esta noite no Espaço Cultural Capela da Cruz, em
sua cidade natal, Divinópolis, para dar autógrafos e, assim, sacramentar essa "experiência e tanto"
que "queima como brasa", como
definiu a poeta em entrevista concedida ontem à Folha.
A revista, editada semestralmente pelo Instituto Moreira Sal
les, chega com Adélia ao número
nove de uma série inaugurada
com João Cabral de Melo Neto.
O número traz uma breve biografia e bibliografia, fotos de Divinópolis e de Adélia, feitas por
Eduardo Simões (que estão em
mostra, inaugurada também hoje), ensaios que analisam sua
obra, uma entrevista concedida
pela autora aos organizadores da
publicação e depoimentos. Um
deles é de Affonso Romano de
Sant'Anna, responsável por mostrar a Carlos Drummond de Andrade o que se tornaria o primeiro
livro de Adélia, "Bagagem".
De Drummond -um dos vértices da "trindade santa" completada por João Guimarães Rosa e
Clarice Lispector, como chama
Adélia-, pode-se dizer que descobriu a poeta duas vezes.
Primeiro porque, diz a escritora,
foi sua "poesia inacreditável" que
a fez passar dos poemas "certinhos, rimadíssimos" ao verso livre. Assim, ele descobriu a poesia
de Adélia Prado em Adélia. Depois, outra vez, por recomendar
seu livro de estréia (fruto, vale
lembrar, de uma poeta já madura,
aos 40 anos) ao editor.
No poema "Fluência", um dos
seis manuscritos que estão no caderno (três são inéditos -veja
trecho de um nesta página), Adélia fala do que sentiu após lançar
"Bagagem". "Eu fiz um livro, mas,
oh meu Deus/não perdi a poesia."
"O meu alívio foi constatar que
depois da festa o mundo continuava igual e a perplexidade que
gerou "Bagagem" continuava intacta. Foi ver que a poesia não desertara de mim. No fundo, talvez,
tivesse medo de que o livro me esgotasse. Ia sofrer demais."
Essa perplexidade e a angústia
perante o tempo movem a escrita
de Adélia, que se diz um oráculo,
pelo qual Deus se expressa.
"Ficar velho é difícil, mas não é
insuportável. É mais fácil agora
que aos 50 anos. Poesia e crença
ajudam a superar a dor do tempo
exatamente porque a natureza
transcendental de ambas aponta
para o absoluto e nos permite experimentá-lo em momentos de
pura consolação."
A autora reconhece que "ser mineira determina a casuística" do
seu texto, "mas a coisa termina aí;
pão de queijo tem explicação,
poesia não". "Acho que vivo como um personagem de Guimarães Rosa, o Augusto Matraga,
que caçava Deus a pau. Eu o faço
com palavras, palavras e palavras.
Acho que o meu tema é este: perguntar por Deus e suplicar."
Os "Cadernos de Literatura Brasileira" estão à venda nas livrarias,
mas os interessados podem fazer
assinaturas da série pelo telefone
0/xx/11/212-2100 ou via Internet
(www.ims.com.br).
Lançamento: Cadernos de Literatura
Brasileira - Adélia Prado
Quando: hoje, às 20h
Onde: Espaço Cultural Capela de Santa
Cruz (r. Minas Gerais, 612, Divinópolis)
Quando: dia 19 de junho, às 20h
Onde: IMS (av. Afonso Pena, 737, Belo
Horizonte)
Editora: Instituto Moreira Salles
Quanto: R$ 22 (151 págs.)
Mostra: fotos de Eduardo Simões feitas
para a edição de "Cadernos"
Quando: de seg. a sex., das 7h às 11h e
das 13h às 21h. Até 30/6
Onde: Espaço Cultural Capela de Santa
Cruz
Quanto: entrada franca
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