São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2000


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LITERATURA
A poeta mineira é tema do nono "Cadernos de Literatura Brasileira", que o Instituto Moreira Salles lança hoje
Livro revela tamanho de Adélia Prado

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REDAÇÃO

"Toda pessoa deveria receber uma homenagem na vida. Poucas coisas são tão incômodas, mas nada melhor para ver o próprio tamanho." É assim que a poeta mineira Adélia Prado, 64, se sente em relação à publicação do número dos "Cadernos de Literatura Brasileira" que a homenageia.
A autora estará esta noite no Espaço Cultural Capela da Cruz, em sua cidade natal, Divinópolis, para dar autógrafos e, assim, sacramentar essa "experiência e tanto" que "queima como brasa", como definiu a poeta em entrevista concedida ontem à Folha.
A revista, editada semestralmente pelo Instituto Moreira Sal les, chega com Adélia ao número nove de uma série inaugurada com João Cabral de Melo Neto.
O número traz uma breve biografia e bibliografia, fotos de Divinópolis e de Adélia, feitas por Eduardo Simões (que estão em mostra, inaugurada também hoje), ensaios que analisam sua obra, uma entrevista concedida pela autora aos organizadores da publicação e depoimentos. Um deles é de Affonso Romano de Sant'Anna, responsável por mostrar a Carlos Drummond de Andrade o que se tornaria o primeiro livro de Adélia, "Bagagem".
De Drummond -um dos vértices da "trindade santa" completada por João Guimarães Rosa e Clarice Lispector, como chama Adélia-, pode-se dizer que descobriu a poeta duas vezes.
Primeiro porque, diz a escritora, foi sua "poesia inacreditável" que a fez passar dos poemas "certinhos, rimadíssimos" ao verso livre. Assim, ele descobriu a poesia de Adélia Prado em Adélia. Depois, outra vez, por recomendar seu livro de estréia (fruto, vale lembrar, de uma poeta já madura, aos 40 anos) ao editor.
No poema "Fluência", um dos seis manuscritos que estão no caderno (três são inéditos -veja trecho de um nesta página), Adélia fala do que sentiu após lançar "Bagagem". "Eu fiz um livro, mas, oh meu Deus/não perdi a poesia."
"O meu alívio foi constatar que depois da festa o mundo continuava igual e a perplexidade que gerou "Bagagem" continuava intacta. Foi ver que a poesia não desertara de mim. No fundo, talvez, tivesse medo de que o livro me esgotasse. Ia sofrer demais."
Essa perplexidade e a angústia perante o tempo movem a escrita de Adélia, que se diz um oráculo, pelo qual Deus se expressa.
"Ficar velho é difícil, mas não é insuportável. É mais fácil agora que aos 50 anos. Poesia e crença ajudam a superar a dor do tempo exatamente porque a natureza transcendental de ambas aponta para o absoluto e nos permite experimentá-lo em momentos de pura consolação."
A autora reconhece que "ser mineira determina a casuística" do seu texto, "mas a coisa termina aí; pão de queijo tem explicação, poesia não". "Acho que vivo como um personagem de Guimarães Rosa, o Augusto Matraga, que caçava Deus a pau. Eu o faço com palavras, palavras e palavras. Acho que o meu tema é este: perguntar por Deus e suplicar."
Os "Cadernos de Literatura Brasileira" estão à venda nas livrarias, mas os interessados podem fazer assinaturas da série pelo telefone 0/xx/11/212-2100 ou via Internet (www.ims.com.br).


Lançamento: Cadernos de Literatura
Brasileira - Adélia Prado
Quando: hoje, às 20h
Onde: Espaço Cultural Capela de Santa
Cruz (r. Minas Gerais, 612, Divinópolis)
Quando: dia 19 de junho, às 20h
Onde: IMS (av. Afonso Pena, 737, Belo Horizonte)
Editora: Instituto Moreira Salles
Quanto: R$ 22 (151 págs.)
Mostra: fotos de Eduardo Simões feitas
para a edição de "Cadernos"
Quando: de seg. a sex., das 7h às 11h e
das 13h às 21h. Até 30/6
Onde: Espaço Cultural Capela de Santa Cruz
Quanto: entrada franca


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