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LITERATURA
Novo livro do escritor anglo-suíço mostra como grandes pensadores lidaram com as dificuldades cotidianas
Para Botton, problemas são sempre iguais
RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES
Está sem dinheiro? Seu chefe
não te deixa em paz? Perdeu alguém muito querido? Não sofra.
O escritor Alain de Botton, 30,
acha que pode ajudá-lo a enfrentar melhor os dramas da vida com
seus livros.
Alain de Botton é uma espécie
de filósofo pop. Longe dos jargões
da academia, ele escreve de uma
maneira simples e muito bem-humorada.
Os acadêmicos ortodoxos jogam pedras, mas seus livros são
best sellers e já viraram roteiros de
cinema e de documentário para a
televisão.
No Brasil, Botton é mais conhecido por "Como Proust Pode Mudar a Sua Vida", em que trata de
temas como o amor e a amizade
sob a ótica do escritor francês.
Agora ele quer ensinar os leitores brasileiros a lidar com a falta
de dinheiro, problemas físicos, dificuldades de fazer uma bem-sucedida carreira profissional e até
com a morte.
Em agosto, a Rocco vai lançar
"Nos Mínimos Detalhes" ("Kiss
and Tell"). No ano que vem chega
às livrarias, também pela Rocco,
"Consolations of Philosophy", livro em que Botton mostra como
pensadores como o grego Epicuro, o romano Sêneca ou o francês
Montaigne lidaram com as dificuldades cotidianas, comuns a todas as pessoas.
"Pensamos que nossos problemas são novos, mas eles são os
mesmos em todos os tempos. É
preciso entender que levar uma
boa vida não é algo como um lago
calmo e ensolarado", disse Botton, na seguinte entrevista, que
concedeu à Folha, na semana passada.
Folha - Como seu novo livro pode
mudar a vida dos leitores?
Alain de Botton - Meu livro não
trata de mudar a realidade, mas
fala sobre como mudar a atitude
em relação à vida. Em alguns casos, isso pode ser muito útil, em
particular em situações concretas
que você não pode mudar. Se estamos enfrentando tempos difíceis, pensamos: minha vida é
anormal porque é tão difícil.
No livro, há um capítulo em que
Nietzsche nos diz que todas as
coisas que realmente valem a pena são muito, muito difíceis.
É desse tipo de consolo que trato. A idéia é que o livro te ensine a
ver a vida de um novo jeito.
Folha - No livro, você apresenta
seis filósofos com idéias diferentes
e conflitantes. Isso não pode confundir mais do que esclarecer os
leitores?
Botton - Realmente há diferenças importantes entre os filósofos
que cito. Algumas pessoas até
perguntaram por que ter seis filósofos e não apenas um.
Minha resposta é que cada um
de nós tem muitos filósofos para a
vida. No amor, podemos ter Sêneca. Em dinheiro, podemos ser
adeptos de Epicuro. Tudo depende da situação. Ninguém tem um
só filósofo para a vida.
Folha - O livro foi muito elogiado,
mas alguns filósofos fizeram críticas pesadas, acusando-o de simplificar demais a teoria dos pensadores. Como você encontrou consolo
para as críticas?
Botton - Tenho 30 anos de idade,
fiz uma série na televisão baseada
no livro, pareço ter muito sucesso.
No Reino Unido, quando alguém está em alta, tentam jogar
para baixo, de maneira que todos
possam se sentir bem. Além disso,
há um debate genuíno sobre o
que é filosofia.
Nas universidades britânicas,
pensadores como Sêneca não são
reconhecidos como filósofos. Ele
é interessante para mim, chame-o
de filósofo, de ensaísta ou de padeiro. Os acadêmicos acabam falando apenas para eles mesmos.
Temos a obrigação de falar para
mais gente.
Folha - Qual a conclusão que se
pode tirar do livro? O que é, afinal,
ter uma boa vida?
Botton - As pessoas dizem acreditar que uma boa vida é uma vida sem dor nem sofrimento. Na
opinião de Nietzsche, se você realmente quer uma boa vida, é preciso saber que sempre vai haver
muita dor. Há uma relação entre
prazer e dor. Deve-se aceitar isso.
Não se deve pensar na vida como
um lago, sempre calmo e ensolarado.
Sempre vai haver altos e baixos,
dramas súbitos e grandes alegrias.
Sou simpático a essa visão.
Folha - Esses conselhos têm efeito prático? Você consegue controlar sua ansiedade como os filósofos
do seu livro prescrevem?
Botton - Não teria escrito o livro
se eu fosse totalmente calmo, sábio etc. Eu mesmo preciso do
consolo. Quando você lê os textos
de Sêneca pode sentir que ele escreve para lembrar a ele mesmo
sobre o que deve ser feito.
Ser filósofo não é uma condição
que apareça naturalmente. É uma
maneira de trabalhar, todo o tempo, questões como essas que estão
no livro.
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