São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2000


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LITERATURA
Novo livro do escritor anglo-suíço mostra como grandes pensadores lidaram com as dificuldades cotidianas
Para Botton, problemas são sempre iguais

RICARDO GRINBAUM
DE LONDRES

Está sem dinheiro? Seu chefe não te deixa em paz? Perdeu alguém muito querido? Não sofra. O escritor Alain de Botton, 30, acha que pode ajudá-lo a enfrentar melhor os dramas da vida com seus livros.
Alain de Botton é uma espécie de filósofo pop. Longe dos jargões da academia, ele escreve de uma maneira simples e muito bem-humorada.
Os acadêmicos ortodoxos jogam pedras, mas seus livros são best sellers e já viraram roteiros de cinema e de documentário para a televisão.
No Brasil, Botton é mais conhecido por "Como Proust Pode Mudar a Sua Vida", em que trata de temas como o amor e a amizade sob a ótica do escritor francês.
Agora ele quer ensinar os leitores brasileiros a lidar com a falta de dinheiro, problemas físicos, dificuldades de fazer uma bem-sucedida carreira profissional e até com a morte.
Em agosto, a Rocco vai lançar "Nos Mínimos Detalhes" ("Kiss and Tell"). No ano que vem chega às livrarias, também pela Rocco, "Consolations of Philosophy", livro em que Botton mostra como pensadores como o grego Epicuro, o romano Sêneca ou o francês Montaigne lidaram com as dificuldades cotidianas, comuns a todas as pessoas.
"Pensamos que nossos problemas são novos, mas eles são os mesmos em todos os tempos. É preciso entender que levar uma boa vida não é algo como um lago calmo e ensolarado", disse Botton, na seguinte entrevista, que concedeu à Folha, na semana passada.

Folha - Como seu novo livro pode mudar a vida dos leitores?
Alain de Botton -
Meu livro não trata de mudar a realidade, mas fala sobre como mudar a atitude em relação à vida. Em alguns casos, isso pode ser muito útil, em particular em situações concretas que você não pode mudar. Se estamos enfrentando tempos difíceis, pensamos: minha vida é anormal porque é tão difícil.
No livro, há um capítulo em que Nietzsche nos diz que todas as coisas que realmente valem a pena são muito, muito difíceis.
É desse tipo de consolo que trato. A idéia é que o livro te ensine a ver a vida de um novo jeito.

Folha - No livro, você apresenta seis filósofos com idéias diferentes e conflitantes. Isso não pode confundir mais do que esclarecer os leitores?
Botton -
Realmente há diferenças importantes entre os filósofos que cito. Algumas pessoas até perguntaram por que ter seis filósofos e não apenas um.
Minha resposta é que cada um de nós tem muitos filósofos para a vida. No amor, podemos ter Sêneca. Em dinheiro, podemos ser adeptos de Epicuro. Tudo depende da situação. Ninguém tem um só filósofo para a vida.

Folha - O livro foi muito elogiado, mas alguns filósofos fizeram críticas pesadas, acusando-o de simplificar demais a teoria dos pensadores. Como você encontrou consolo para as críticas?
Botton -
Tenho 30 anos de idade, fiz uma série na televisão baseada no livro, pareço ter muito sucesso.
No Reino Unido, quando alguém está em alta, tentam jogar para baixo, de maneira que todos possam se sentir bem. Além disso, há um debate genuíno sobre o que é filosofia.
Nas universidades britânicas, pensadores como Sêneca não são reconhecidos como filósofos. Ele é interessante para mim, chame-o de filósofo, de ensaísta ou de padeiro. Os acadêmicos acabam falando apenas para eles mesmos. Temos a obrigação de falar para mais gente.

Folha - Qual a conclusão que se pode tirar do livro? O que é, afinal, ter uma boa vida?
Botton -
As pessoas dizem acreditar que uma boa vida é uma vida sem dor nem sofrimento. Na opinião de Nietzsche, se você realmente quer uma boa vida, é preciso saber que sempre vai haver muita dor. Há uma relação entre prazer e dor. Deve-se aceitar isso. Não se deve pensar na vida como um lago, sempre calmo e ensolarado.
Sempre vai haver altos e baixos, dramas súbitos e grandes alegrias. Sou simpático a essa visão.

Folha - Esses conselhos têm efeito prático? Você consegue controlar sua ansiedade como os filósofos do seu livro prescrevem?
Botton -
Não teria escrito o livro se eu fosse totalmente calmo, sábio etc. Eu mesmo preciso do consolo. Quando você lê os textos de Sêneca pode sentir que ele escreve para lembrar a ele mesmo sobre o que deve ser feito.
Ser filósofo não é uma condição que apareça naturalmente. É uma maneira de trabalhar, todo o tempo, questões como essas que estão no livro.


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