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TEATRO/"UP FOR GRABS"
Madonna não é a melhor coisa da peça e vice-versa
TETÉ RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
A bre a cortina, e Madonna
está em cena, toda de branco. Na verdade é Loren, a personagem que ela interpreta na peça
"Up for Grabs" (Por Migalhas),
do cultuado dramaturgo australiano David Williamson, que escreveu, entre outros, os roteiros
de "Gallipoli" e "O Ano em que
Vivemos em Perigo".
Ela é a atriz principal desta primeira montagem, que estreou em
23 de maio no teatro Wyndham,
no West End de Londres. A cantora fica em cartaz durante cinco
semanas apenas, depois será
substituída. Os ingressos para a
temporada estão esgotados. Há
cambistas que vendem por até
cinco vezes o valor, R$ 160.
Depois de minutos de aplausos
e assobios, o público sossega e ela
começa o monólogo inicial, em
que apresenta o conflito de sua
personagem, imagina-se. Como
sua voz é pouco potente, é impossível ouvi-la. Durante o curso do
espetáculo, suas cordas vocais
aquecem, e o problema é superado. Infelizmente, não é o único.
Loren é uma marchand que
precisa vender um quadro de
Jackson Pollock (1912-1956) por
US$ 20 milhões. A peça é inteira
dela, é ela que fala o tempo inteiro
com os outros personagens: seu
marido e os potenciais compradores da obra, um casal velho e
muito rico, um casal jovem que
ganhou dinheiro recentemente
com a internet (?) e uma mulher
que representa uma grande corporação. Entre uma cena e outra,
Madonna/Loren fala com a platéia, comenta os diálogos.
Se Loren não tem nada a ver
com a cantora na vida real, algumas cenas fazem o público se lembrar da pessoa por quem se apaixonaram: até o fim do primeiro
ato, Loren/Madonna transa com
uma mulher enquanto o marido
assiste; se masturba ao som de
"Smack My Bitch Up", do Prodigy; usa um pênis preto imenso
de borracha com o velho; e ainda
canta o refrão de "You Sexy Motherfucker".
No segundo ato, volta toda de
preto. Talvez não consiga vender
o quadro e tenha de arcar com a
dívida, o marido está irritado porque ela assumiu a dívida sem consultá-lo e ela não tem o que fazer,
a não ser esperar as propostas. Aí
é a vez dos outros personagens
aparecerem mais do que ela, que
fica meio jogada no cenário.
Madonna não é a melhor coisa
da peça. A atriz Sian Thomas, que
interpreta a representante da corporação, dá de dez na diva pop.
Nem a peça é a melhor coisa de
Madonna. Qualquer um de seus
shows supera "Up for Grabs",
qualquer ensaio fotográfico é
mais bem acabado, qualquer entrevista é mais interessante do que
as falas de sua personagem.
Avaliação:
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