São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO/"UP FOR GRABS"

Madonna não é a melhor coisa da peça e vice-versa

TETÉ RIBEIRO

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

A bre a cortina, e Madonna está em cena, toda de branco. Na verdade é Loren, a personagem que ela interpreta na peça "Up for Grabs" (Por Migalhas), do cultuado dramaturgo australiano David Williamson, que escreveu, entre outros, os roteiros de "Gallipoli" e "O Ano em que Vivemos em Perigo".
Ela é a atriz principal desta primeira montagem, que estreou em 23 de maio no teatro Wyndham, no West End de Londres. A cantora fica em cartaz durante cinco semanas apenas, depois será substituída. Os ingressos para a temporada estão esgotados. Há cambistas que vendem por até cinco vezes o valor, R$ 160.
Depois de minutos de aplausos e assobios, o público sossega e ela começa o monólogo inicial, em que apresenta o conflito de sua personagem, imagina-se. Como sua voz é pouco potente, é impossível ouvi-la. Durante o curso do espetáculo, suas cordas vocais aquecem, e o problema é superado. Infelizmente, não é o único.
Loren é uma marchand que precisa vender um quadro de Jackson Pollock (1912-1956) por US$ 20 milhões. A peça é inteira dela, é ela que fala o tempo inteiro com os outros personagens: seu marido e os potenciais compradores da obra, um casal velho e muito rico, um casal jovem que ganhou dinheiro recentemente com a internet (?) e uma mulher que representa uma grande corporação. Entre uma cena e outra, Madonna/Loren fala com a platéia, comenta os diálogos.
Se Loren não tem nada a ver com a cantora na vida real, algumas cenas fazem o público se lembrar da pessoa por quem se apaixonaram: até o fim do primeiro ato, Loren/Madonna transa com uma mulher enquanto o marido assiste; se masturba ao som de "Smack My Bitch Up", do Prodigy; usa um pênis preto imenso de borracha com o velho; e ainda canta o refrão de "You Sexy Motherfucker".
No segundo ato, volta toda de preto. Talvez não consiga vender o quadro e tenha de arcar com a dívida, o marido está irritado porque ela assumiu a dívida sem consultá-lo e ela não tem o que fazer, a não ser esperar as propostas. Aí é a vez dos outros personagens aparecerem mais do que ela, que fica meio jogada no cenário.
Madonna não é a melhor coisa da peça. A atriz Sian Thomas, que interpreta a representante da corporação, dá de dez na diva pop. Nem a peça é a melhor coisa de Madonna. Qualquer um de seus shows supera "Up for Grabs", qualquer ensaio fotográfico é mais bem acabado, qualquer entrevista é mais interessante do que as falas de sua personagem.


Avaliação:  


Texto Anterior: NY abriga chances de burlar indústria
Próximo Texto: Site estréia com seção de clipes para download
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.