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CRÍTICA
Diretor vende o fascínio do adultério como crime
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Adrian Lyne ("Atração Fatal"), cineasta do adultério,
não passa de um falso moralista.
Por um lado, cultiva a sedução do
adultério, explorando o charme e
os dotes físicos de seus atores. Por
outro, cultiva a culpa do adultério,
jogando pesado com a consciência do espectador e com o destino
de seus personagens.
Em "Infidelidade", disposto a
engordar a sua conta bancária às
custas da paranóia moralista
americana, Lyne recorre à fórmula que o consagrou e que se tornou cânone dos thrillers erótico-televisivos: a fórmula do "adultério fatal". Filmes que seguem tal
fórmula não fazem mais do que
comparar o adultério ao crime,
embora sejam sempre concebidos para vender ao grande público o fascínio de tal crime. Filmes
como este não são mais do que a
contínua proposta indecente.
Diane Lane é a dona de casa da
família ideal de classe média. O
casamento com o perfeito homem de negócios (Richard Gere)
vive uma fase em que o apetite sexual dá lugar, no cotidiano, à sedimentação dos vínculos familiares.
Por um golpe do destino, Lane,
cujas primeiras rugas estão longe
de macular-lhe a beleza, conhece
um jovem conquistador francês
(Olivier Martinez), com o qual se
vê tentada a se envolver.
Martinez é uma versão do velho
Gere (o arrojado e infalível da juventude). O fato de seu personagem ter sotaque francês e ser um
jovem colecionador de livros empresta um ar (pseudo)intelectual
à sedução e serve para justificar o
salário do diretor de arte do filme.
A sedução de Martinez se revela
tão barata quanto a das imagens
de Lyne (seus modorrentos planos de detalhe), mas é suficiente
para convencer Lane a pular a cerca. Juntos, os amantes realizam
todos os clichês de fantasia erótica
que habitam o surrado imaginário da classe média americana.
O maridão, o Gere da maturidade, sereno e apaziguado, logo começa a coçar a cabeça. Assumidamente inspirado no Chabrol de
"La Femme Infidèle" (1969), Lyne
esboça um suspense em torno da
desconfiança do marido. O processo serve antes para desvelar a
hipocrisia do cineasta: enquanto
Gere contabiliza as faltas de sua
mulher, Lyne revela a índole (falso) moralista de sua história, restringindo-se a demonstrar o quão
pouco funcional uma esposa
adúltera pode tornar-se para família e sociedade americanas.
Infidelidade
Unfaithful
Direção: Adrian Lyne
Produção: EUA, 2002
Com: Richard Gere, Diane Lane
Quando: a partir de hoje nos cines Belas
Artes, Eldorado, Iguatemi e circuito
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