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São Paulo, sábado, 14 de junho de 2003

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MARIZA ALENCAR

Cala a boca, José?

O vice-presidente José Alencar revelou na semana passada que jurou à mulher, Mariza Alencar, que não mais criticaria os altos juros brasileiros. Num bate-papo com a coluna, ela falou do "desemprego terrível" que vê à sua volta e confirmou o juramento do marido. "Agora, se ele vai cumprir, eu já não sei", diz.
 

Folha - O vice disse que não vai mais falar sobre juros seguindo ordens da senhora.
Mariza -
(rindo) Realmente, eu reclamo um pouco. Ele deve ter falado isso porque eu realmente fico muito nervosa.

Folha - Ele disse que jurou.
Mariza -
É isso mesmo. Agora, se ele vai cumprir, eu já não sei.

Folha - Pois é. Logo depois de revelar o juramento, ele falou mal dos juros.
Mariza -
(rindo de novo) É meio difícil, viu? Ainda mais para uma pessoa que lidou a vida inteira com economia como ele. Tudo dele foi sempre para o crescimento da empresa [Alencar é dono do grupo têxtil Coteminas], para gerar empregos. Toda vez que a gente queria viajar, ele brincava: deixa o café subir de preço.

Folha - Por que a senhora acha, então, que ele não deveria mais fazer críticas aos juros?
Mariza -
Não é por ele ter sido eleito vice que vai ficar mudo. Na verdade, ele está mais do que correto. O José entende do assunto. Apesar de os economistas dizerem que não, eu sei que sim. Mas... é aquela história. Tem a condição, o momento. Ele e o presidente [Lula] se dão tão bem, ele e o [ministro Antonio] Palocci. Então, eu não quero que haja atrito. É isso. Eu falei: vamos esperar um pouco mais.

Folha - E já houve atrito?
Mariza -
Nunca. Pelo contrário. O ministro Palocci esteve em casa no fim de semana passado. Combinamos até de sair para tirar esse mal-estar. Eu me dou muito bem com a Margareth [mulher de Palocci]. Eu fui mostrar o lago do Jaburu [residência oficial do vice-presidente] para a Margareth enquanto eles trocavam idéias. Agora, a minha preocupação é que, por mais que o presidente Lula entenda, não deixa de ser... não uma crítica a ele, presidente, ele sabe disso. O José já tinha essa posição, ele já criticava os juros no outro governo.

Folha - A senhora defende juros mais baixos também?
Mariza -
Claro que sim. É um desemprego terrível. Não é só a indústria têxtil que está sofrendo. Tenho recebido cartas de pessoas desesperadas.

Folha - As cartas chegam ao Palácio do Jaburu?
Mariza -
Chegam no Jaburu e também à minha casa em Belo Horizonte. São muitas, viu? Eu tenho filhos de amigas, pessoas formadas e que hoje estão completamente aí, numa dificuldade terrível.

Folha - E não dá para arrumar trabalho para todos?
Mariza -
Não é o meu papel. Eu nem tenho o que fazer sobre isso. As últimas cartas que comecei a ler, fiquei tão sensibilizada que liguei lá para o doutor Amauri, que é assessor da vice-presidência, e mandei para ele. São pessoas com doença na família, filho desempregado, marido desempregado, precisando sobreviver de qualquer maneira, precisando até de uma cesta básica. Não é brincadeira. A solução teria que ser o crescimento do país.


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