São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2005

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Psicóloga Gloria Hurtado cogita a possibilidade de processar Paulo Coelho por cópia de texto

"A fama não dá direito ao plágio", diz colombiana

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

A psicóloga colombiana Gloria Hurtado ainda não decidiu se vai abrir um processo contra o escritor Paulo Coelho, a quem acusa de ter plagiado uma de suas colunas. No dia 3/6, numa reportagem do jornal colombiano "El País", onde há 30 anos assina a coluna "Revolturas", Hurtado disse que Coelho copiou seu artigo de 21/1/ 2003, na coluna "Alquimista", publicada no dia 3/4 deste ano no semanário "El Espectador", também da Colômbia.
O texto de Hurtado chama-se "Cerrando Círculos" (fechando círculos), e o de Coelho, "Cerrar un Ciclo" (fechar um ciclo). "Toda a coluna é um plágio. Não sei o que farei. Devo levar a público que existem roubos intelectuais", disse Hurtado em entrevista por telefone à Folha, ontem.
A coluna do "El Espectador" também foi reproduzida no Brasil pelo jornal "O Globo", do dia 22/ 8/2004. Nela, Coelho explica que, há alguns anos, seu escritório enviara a leitores uma cópia da coluna com o título de "O Ciclo da Alegria". Mas que, ao abrir sua caixa de correspondência, viu que pediam o texto "As Etapas de Paulo Coelho". "Como nunca tinha escrito algo semelhante, fui procurar na internet, e descobri que era um título diferente para o tal "Encerrando Ciclos". Descobri também que durante muitos anos mandamos sempre a coluna errada para os leitores, que na verdade queriam o texto abaixo", explicou o escritor na coluna do semanário, ressaltando que, infelizmente, não havia originalmente escrito o texto, mas que, ao adaptá-lo, sentia-se no direito de reivindicar parte da autoria.
Logo nos dois primeiros parágrafos, por exemplo, o brasileiro fala da importância de "pôr fim a um ciclo, fechar portas, concluir capítulos", indagando em seguida: "Fui despedido do trabalho?", "terminei uma relação?" etc. Hurtado começa com "ou fechando portas. Ou encerrando capítulos (...) Terminou seu trabalho? Acabou sua relação?".
A primeira reação de Hurtado foi de surpresa boa, até que ela sentiu que havia sido um abuso da parte de Coelho, primeiro por acreditar que, porque fazia algumas mudanças, poderia reivindicar sua autoria. Depois, por saber que não era uma coluna dele e não esclarecer. Segundo a psicóloga, um professor de jornalismo da Colômbia, Javier Darío Restrepo, avaliou a conduta de Coelho como injustiça, corrupção profissional e engano. "A fama não dá direito ao plágio. Qualquer um pode tomar emprestado uma idéia. Mas é diferente falar de autoria. Isso é delito." O escritor brasileiro, que está em viagem de divulgação de seu mais recente livro, não foi encontrado pela reportagem até a conclusão desta edição. Seu editor no Brasil, Paulo Rocco, preferiu não comentar o assunto.


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