São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Crítica/teatro/"Eu Quero Ver a Rainha"

Peça sobre prostituição fica apenas nas boas intenções

SERGIO SÁLVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Fabiana Fonseca veio do grupo Matula de Teatro, de Campinas, no qual, ao lado de Eduardo Okamoto, desenvolveu uma estratégia de dar voz a uma categoria de excluídos por meio de um monólogo ritualístico apoiado na expressão corporal. De modo análogo ao "Agora e na Hora de Nossa Hora", de Okamoto, que trata dos meninos de rua, Fonseca fez uma extensa pesquisa junto a prostitutas do jardim Itatinga, zona confinada de Campinas, e procura neste "Eu Quero Ver a Rainha" tocar de modo contundente em uma ferida embaraçosa.
A montagem coloca uma questão delicada. Quando a causa de uma peça é importante, bem embasada e urgente, deve se deixar em segundo plano deficiências estéticas?
Para não cair na perigosa e artificial separação entre a forma e o conteúdo, e assumindo aqui uma simpatia pela causa de Fonseca, é preciso dizer que, justamente em defesa de seu tema, o espetáculo não pode ser tão ingênuo. Estivesse em cena uma prostituta dando um depoimento pessoal, o desabafo teria uma importância social grande, mas não seria anunciado enquanto peça de teatro.
Fonseca tem que dominar o distanciamento artístico justamente para proporcionar o mergulho da platéia nesse universo, sem condescendência paternalista.
Não é o que acontece. Alinhavando vários depoimentos em um só personagem, que em tom declamatório volta os mesmos pontos; entrecortando esse monocórdio monólogo com vinhetas quase arbitrárias de dança que, por falta de acabamento, chegam a um grotesco de quase humor involuntário, Fonseca acaba resvalando em um ritual auto-referente.


EU QUERO VER A RAINHA
Quando: sex. e sáb., às 24h; até o dia 28/6
Onde: Espaço dos Satyros 2 (pça. Franklin Roosevelt, 134, tel. 0/xx/ 11/3258-6345; 18 anos)
Quanto: R$ 5 a 20
Avaliação: ruim



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