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Crítica/teatro/"Eu Quero Ver a Rainha"
Peça sobre prostituição fica apenas nas boas intenções
SERGIO SÁLVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Fabiana Fonseca veio do
grupo Matula de Teatro, de Campinas, no
qual, ao lado de Eduardo Okamoto, desenvolveu uma estratégia de dar voz a uma categoria
de excluídos por meio de um
monólogo ritualístico apoiado
na expressão corporal. De modo análogo ao "Agora e na Hora
de Nossa Hora", de Okamoto,
que trata dos meninos de rua,
Fonseca fez uma extensa pesquisa junto a prostitutas do jardim Itatinga, zona confinada de
Campinas, e procura neste "Eu
Quero Ver a Rainha" tocar de
modo contundente em uma ferida embaraçosa.
A montagem coloca uma
questão delicada. Quando a
causa de uma peça é importante, bem embasada e urgente,
deve se deixar em segundo plano deficiências estéticas?
Para não cair na perigosa e
artificial separação entre a forma e o conteúdo, e assumindo
aqui uma simpatia pela causa
de Fonseca, é preciso dizer que,
justamente em defesa de seu
tema, o espetáculo não pode ser
tão ingênuo. Estivesse em cena
uma prostituta dando um depoimento pessoal, o desabafo
teria uma importância social
grande, mas não seria anunciado enquanto peça de teatro.
Fonseca tem que dominar o
distanciamento artístico justamente para proporcionar o
mergulho da platéia nesse universo, sem condescendência
paternalista.
Não é o que acontece. Alinhavando vários depoimentos em
um só personagem, que em tom
declamatório volta os mesmos
pontos; entrecortando esse
monocórdio monólogo com vinhetas quase arbitrárias de
dança que, por falta de acabamento, chegam a um grotesco
de quase humor involuntário,
Fonseca acaba resvalando em
um ritual auto-referente.
EU QUERO VER A RAINHA
Quando: sex. e sáb., às 24h; até o dia
28/6
Onde: Espaço dos Satyros 2 (pça.
Franklin Roosevelt, 134, tel. 0/xx/
11/3258-6345; 18 anos)
Quanto: R$ 5 a 20
Avaliação: ruim
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