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Crítica/"História da Imprensa no Brasil"
Com análises e relatos, obra traça panorama da imprensa
Livro, com estrutura cronológica, tem virtudes e vícios de seu objeto de estudo
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
"História da Imprensa no Brasil" tem
várias virtudes e
alguns vícios de seu objeto
de estudo.
Os vícios não chegam a comprometer. Como os jornais, o livro apreende os fatos de forma
fragmentada, aliás, a mesma limitação que as organizadoras,
Ana Luiza Martins e Tania Regina de Luca, apontam em outras obras do gênero. No livro,
no entanto, a perspectiva de
caleidoscópio é estranha à sua
natureza.
O problema é agravado pela
discrepância de formatos. Nos
11 textos, há depoimentos, análises e relatos factuais, em prejuízo da unidade. Fosse uma
coletânea, esse aspecto seria irrelevante. Mas o livro tem estrutura cronológica e pretende
ser abrangente.
E é sobre esse ponto que cabe
a maior ressalva. Editado por
ocasião dos 200 anos da imprensa no Brasil -o primeiro
jornal brasileiro, o "Correio
Braziliense", surge em junho de
1808-, a obra se debruça sobre
uma história que já foi contada.
Nelson Werneck Sodré, citado na introdução, tem um importante trabalho homônimo
que cobre o mesmo período, até
meados do século passado, de
um ponto de vista nacionalista.
Um novo livro teria, portanto,
que justificar sua existência:
ou elaborar um contraponto,
ou ir além.
"História da Imprensa do
Brasil" não oferece uma visão
distinta para o período mais remoto desses dois séculos. E tem
lacunas, como a falta de análise
do papel da imprensa em 1964,
tema apenas mencionado nos
textos sobre Carlos Lacerda e
sobre a imprensa alternativa.
Assim, o livro vale sobretudo
pelos textos que vão além do
ponto em que Sodré parou.
Thomaz Souto Corrêa, vice-presidente do conselho editorial da Abril, traça um panorama das revistas como negócio.
Flávio Aguiar, ex-editor do
"Movimento", escreve sobre a
imprensa alternativa como
projeto de esquerda. O pluralismo areja a obra, e aí está parte
da virtude.
No texto que fecha o volume,
Cláudio Camargo aborda o
comportamento de parte da
mídia em relação ao governo
Lula. O jornalista e sociólogo
identifica um hiato entre a cobertura da imprensa, que em
alguns casos chegou a incriminar sem provas, e a percepção
majoritária dos eleitores, favorável ao presidente. Para Camargo, a imprensa acabou
"pregando no deserto".
Blogs
O autor também reflete sobre o impacto das novas mídias,
como os blogs. Apesar do barulho que fazem, diz ele, os blogs
têm importância limitada por
se dirigirem a um público com
opinião formada.
Camargo compara a situação
no Brasil com a da Espanha, onde as comunidades on-line foram as grandes responsáveis
pela eleição do premiê socialista Zapatero.
A comparação não é impertinente, mas precisaria ser redimensionada. Lá, a imprensa
encampou a versão politicamente interessada de Aznar,
premiê conservador, de que o
atentado a bomba na estação de
Atocha em 2004 fora obra do
grupo basco ETA. No Brasil, a
imprensa não cometeu erro tão
grave.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha).
HISTÓRIA DA IMPRENSA NO
BRASIL
Organização: Ana Luiza Martins e Tania Regina de Luca
Editora: Contexto
Quanto: R$ 49 (304 págs.)
Avaliação: bom
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