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Crítica/"Lições de Roteiristas"
Lições de roteiristas não interessam só aos cinéfilos
DA REPORTAGEM LOCAL
Qual é a relação entre cinema e literatura? Até
que ponto o roteirista é
co-autor de um filme?
São temas importantes em
uma época em que roteiristas
mostram cada vez mais poder
na indústria audiovisual. E são
assuntos cada vez mais relevantes para o Brasil, já que virou clichê dizer que "o roteiro"
é o calcanhar-de-aquiles da
produção brasileira (já teve
época em que o vilão era "o
som").
"Lições de Roteiristas" ajuda
a ampliar um debate que deve
interessar primeiro ao cinéfilo,
mas não só a ele. Traz na forma
de entrevistas a experiência de
profissionais que rezam pela
cartilha hollywoodiana, daqueles que são anti-Hollywood, e
dos que souberam utilizar com
inteligência a "ditadura do
marketing" para expandir os limites do "mainstream".
As melhores entrevistas são
de Ted Tally ("O Silêncio dos
Inocentes") e Patrick McGrath
("Spider"). O primeiro, que veio
do teatro, se adaptou às regras
da indústria (dividir o filme em
três partes, por exemplo) e trabalhou com um diretor habituado aos filmes de encomenda, mas com brilho próprio (Jonathan Demme). Ao seguir a
cartilha, e em seguida subverter seus esquemas, a dupla conseguiu produzir um filme que
mudou o conceito de thriller
psicológico. McGrath, escritor
sem nenhuma afinidade com o
cinemão, consegue justificar
porque só David Cronenberg
poderia adaptar sua trama.
A dupla Robert Wade e Neal
Purvis, ao narrarem a gênese de
"007 - Um Novo Dia para Morrer", mostram (sem terem a intenção) por que as histórias de
James Bond são tão ruins
-apenas respeitam a fantasia
de executivos.
Michael Haneke ("Código
Desconhecido") mostra como
uma educação longe da TV influenciou sua concepção de
narrativa. Há também curioso
depoimento do início da carreira de Wes Anderson, um dos
mais criativos do cinema americano. Do francês François
Ozon, uma estrela errática no
cinema gaulês. E de Carlos
Cuarón e Guillermo Arriaga,
que invadiram a indústria americana pela fronteira mexicana.
Pesam contra essa edição um
certo ar datado (é de 2004, mas
a maioria dos filmes é dos anos
90), o deslumbramento do autor e uma opção de edição que,
ao restringir as conversas a um
único filme por entrevistado,
evitou que estes se prolongassem em suas experiências.
Mais interessante seria o lançamento de "Screen Plays:
How 25 Scripts Made It to a
Theater Near You" (roteiros:
como 25 deles conseguiram
chegar a um cinema perto de
você, HarperEntertainment,
352 págs., US$ 25,95, cerca de
R$ 43), de David S. Cohen, que
saiu nos EUA em fevereiro último -é mais atualizado, e tem
abordagem mais criativa.
E há disponível no Brasil
também clássicos do gênero,
como o "Manual do Roteiro"
(Objetiva), de Syd Field. Outra
opção é "A Jornada do Escritor" (Nova Fronteira), de
Christopher Vogler, que inter-relaciona arquétipos e mitologia com as narrativas contemporâneas -e extrai daí regras
práticas para quem quer contar
uma história, especialmente se
ela durar duas horas e for contada numa sala de cinema.
(MARCOS STRECKER)
LIÇÕES DE ROTEIRISTAS
Autor: Kevin Conroy Scott
Tradução: Beatriz Penna Vogel e
Angélica Coutinho
Editora: Civilização Brasileira
Quanto: R$ 49 (392 págs.)
Avaliação: bom
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